sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Le Spectacle


     Como uma música, no fim de uma parte, eu pensei que era novamente o fim. E não era. Passaram tempos, climas, ventos, e agora chega mais uma vez onde o piano parece dar o toque final a toda aquela orquestra. E eu finjo entender, que eles vão me enganar novamente. Mas não.
     Agora era realmente o fim. A platéia se levanta, e nem todos queriam levantar. Aliás, todos não queriam. Estavam com medo do que estaria por vir. Eu já nem tanto. Nunca pensei no que poderia me acontecer, e não era agora que pensaria nisso. Porém o ato se segue. E quando pensei que teria de mudar de teatro, vi que aquilo era apresentado por mim.
     Vi-me ali, no foco da luz. Como todos se vêm, em cada vida. Aquelas mãos no teclado de marfim do piano enferrujado não eram minhas, mas as mãos no microfone sim. Estava terminada a segunda música. A primeira fora uma que nunca entendi o repertório, era abstrata.
     Começava a terceira música, e agora ela deveria ser mais formada. Não poderia ter os mesmos erros que nem da segunda, e nem a abstração da primeira. Eu estava formado, a orquestra afinada. Só faltava criar uma musica no improviso de uma vida corrida, perseguir meus objetivos. Assim como todos, em suas apresentações, devem seguir.
     Já a quarta, eu não saberia dizer como ela seria. Só sei que ela deve ser impactante, e melhor do que essa, a terceira. Pois tudo tem que ser perfeito, quando eu for cantar a quinta. E dar fim a esse show, que um dia chamaram de vida.