quinta-feira, 29 de julho de 2010

Trochilidae


     Com o bater de asas a oitenta vezes por segundo, ele veio pairar na minha frente. Nesse ramo da casa aonde o jardim se limita às azaléias e outras pouquíssimas flores, estava eu sentado no único banco que ali restava. Não que eu não quisesse estar ali. Mas a tarde vazia com seu tempo nublado, nos faz visitar lugares perdidos em casa.
     “Porque perdera seu tempo comigo?” – Eu não conseguia entender. Tão rápido, de tamanho tão pequenino e de vida tão curta. “Vai fazer algo em que possa ser recompensado!” – Ele nunca que poderia me entender. Eu, que me perco às vezes no sentido da vida, pairo como ele no ar para buscar respostas, interpretações. Eu e ele, ele e eu. Somos tão diferentes em espécie, ordem e gênero. Mas mesmo assim possuímos o mesmo objetivo. Daqueles em que regam para mim, ser o mais difícil para se concluir. E o que mais vem sendo uma decepção para mim, e talvez para ele:
    
     “Provar para os outros, que o seu próprio objetivo não é mais importante do que a vida dos mesmos.”
    
     E mesmo sem resposta de importância, se importar com os mesmos.

Garoto da Capital


     Escrever algo após uma refeição, sempre cobra um tom mais ameno de palavras. Nas cores mais azuis e nos gostos mais refrescantes. Aqui deixo não as folhas de hortelã, mas sim as de menta, que são assim por dizer no meu sentido de sentir. Olhar para esse ambiente, sem elogiar tamanha tranquilidade, fugiria do meu pretexto. Quando nessa vasta altitude, de ventos fortes e climas amenos. Vejo esses que aqui moram, acabo me assustando. Tamanha primeiramente aparenta ser sua raça. Não só pela saliência dos rostos, mas pela cor também. Regados de sol, suas peles os mantém todos nos mesmos padrões. Aqui quem vem de fora da para se perceber.
     O jeito como se vestem, me permeiam até um censo critico quando vejo. As garotas - coitadas - sempre carregando muitas cores, e com seus cabelos também queimados pelo sol, estão sempre desgrenhadas e falando alto. Perdendo a pose do mistério, para a perdição da diversão entre grupo, com as colegas e amigas. Já os garotos, seus cabelos apesar de sempre mal cuidados, sempre são lisos. Perfeição que invejo por eles mesmos não estar nem ai. Os olhos porem em ambos os sexos, e o que mais me intriga. E o que mais me faz pensar.
     São em contraste com a pele, sempre aveludados de cor, predrificados de brilho. Mel é a maior porcentagem dessa cidade. Eles sempre te olham como se fosse ainda te reconhecer. Olham de um jeito como se dessem importância. E isso para quem vem da cidade como eu, é de um tanto, espanto. Essa serenidade me irrita, essa falta de o que fazer misturado sempre com a grande quantidade de tempo, me faz querer nunca mais voltar para esse lugar. Sempre bem dispostos, o tédio parece nunca chegar aqui. E esses me analisam.
     Quero mesmo era poder te ver. Vós sois o único dentre tantos aqui restritos, que não me faz lembrar essas interjeições. Seu modo de julgar, de dizer, pula do semblante e do sotaque grotesco em que aqui todos têm. Não sei se é porque é igual a mim. Mas tenho a perfeita paciência que queria ter com os demais para ouvir.
     Eu que prometi nunca voltar para esse lugar. Onde no todo já fiz várias amizades, porem sem explicar todos mudam, e preguiçosos de fala me deixaram abandonado em casa. Sem me procurar, nem visitar tal "garoto da capital". Pois é sempre assim. A sociedade de um respectivo ciclo evolui. Esquecendo de onde proveio tal evolução se submetem ao sumiço e ao metido jeito de ser. Mas também esquecem que a evolução não é um relógio de um ponteiro só. Onde se eles já avançaram os minutos. Eu por minha vez já passarei as horas. Sendo assim garoto dessa maldita "capital" - sempre avante, sempre à frente - por puro instinto, ou até intuição. Sempre estarei à frente. Conseqüentemente.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Bitocas


     Ver aquelas duas crianças se beijando intimamente, como só os irmãos mais amáveis poderiam se beijar, foi o fim de toda uma linha de raciocínio em que eu chegara àquela tarde. Não por não só não entender o amor. Mas como também alvejá-lo dentre meus pensamentos mais submissos, para de sua casca dura abri-lo, e em fim ver algo do que estiver guardado lá dentro. Pensar em porque tu me ligas, todas às vezes, para adiar nossos encontros. Levam-me as tardes inteiras, no intermédio de colocar meu coração conectado ao cérebro. Como uma maquina de diagnóstico, e ao vê-lo dormir, forçá-lo a acordar dando-lhe dozes de choques de realidade, que é o desfibrilador da vida.
     Ao ver aquela cena, em frente à loja de perfumes - dessas que são germinadas a uma de colchão, que ao lado logo vem uma de empadas – percebi que há algo belo nisso. A presença! Sim, a presença é a maior chave do amor. É ela que isola as inseguranças, as insensatez, as interjeições. Eles eram apenas irmão, e ainda sim estavam aos beijos! – Não pense erroneamente – Duas crianças de em média nove anos de idade, compartilhavam como benção, bitocas molhadas e sujas de achocolatados em pó dissolvidos no leite às quatro da tarde.
     Há por fim, o motivo. A real impregnação desses costumes. A mãe também os beijava. Daí veio-me a conclusão de porra nenhuma! O amor para mim continua sendo um gás, dentro de uma casca dura de um fruto que para nós assim como os pássaros, chamam muita a atenção. E quando lhe enfiamos o bico, facas e chaves de fenda para lhe descobrir o que há verdadeiramente dentro. Frustramos-nos, apenas com o seu odor, que bem de leve é, voa pelos ares nos deixando um vácuo de pensamento sem fim.
     Como o atravessar de uma avenida, e se deparar em profundos pensamentos. E por fim, esquecer do mais importante: andar.

sábado, 17 de julho de 2010

Letra Só


     A carne humana nunca havia sido tão frágil; quente; e abstrata; quanto nesse último dia. Ter de morder bovinos já não tinha mais graça. Eu precisava dessa dose molhada em plástico fino celofane quente, que era teus lábios. E agora eu me estranhava, essa permissão só me era dada quando se estava escuro, e ninguém nos olhava. Porque só eu me sentia distraído naqueles espaços, e naqueles curtos tempos? - Eu não sei, mas também não deveria deixar tais cláusulas, me permeabilizarem.
     E assim, eu ficara exposto. Teu jeito é morte certa à sua doutrina de discrição. Quando teus olhos pousavam nos meus. Era de fácil acesso tais carências, e euforias. Mais parece um posso de dísel, prestes a explodir teus pensamentos escuros. E não só de silenciosos inversamente proporcionais às besteiras que diz. Mas também as lágrimas lubrificantes que permeiam teus olhos, após longos períodos submetidos aos meus beijos.
     Beijos que parecem comida de calango para ti. De tão imóvel, se sente nervoso ao beber minha saliva. Ao me beber, deixa de minhas mãos bagunçarem-te teus cabelos, e teu rosto fino e jovem tocar. Meros tendões laterais do pescoço, em que contraídos para me alcançar, me excitam. E teu cheiro indecifrável, assim se faz por não conter o álcool de nenhum perfume. Força-me a senti-lo, desejáveis demasiadas vezes. Para que num ciclo errôneo, ache à comparação exata.
     Teu nome é o símbolo do humor. Quando dentre todos os amigos usamos da letra o símbolo para assim encontrá-lo. Não que sejas raro, pois para mim, você mesmo não permite ser. Mas é para assim como os meus amigos, ninguém descobrir. E assim possamos gozar com tal pseudo-discrição em que tanto preza em manter nossa relação. Ter que te esconder, não é meu maior objetivo - nem de só de ti usar. Porem evoluir, isso sim é uma justa causa. Para assim poder me ter, por completo, e talvez me amar - melhor e de verdade. Sem ter que se esconder, entre salas escuras; combustíveis viscosos; e nem letras, da qual te escolhemos o Y.

domingo, 11 de julho de 2010

A Loucura da Vida


A loucura da vida
é o saber que...
é pra ser do
futuro que está
presente e do
presente continuo
de uma vida
passageira, sei
que o que é
para ser será
e que cada um
sabe a alegria
e a dor que no
coração traz. O
sentimento é
apenas emoções
que ficam ou
passam por pensar
que algo acontece
ou se algo acontecer,
diferente de
uma lagarta que
já sabe do seu
futuro de uma
linda borboleta
a morte.

                                                             Beatriz Letro Ribeiro

domingo, 4 de julho de 2010

A Eterna Procura


Amar, dia e noite,
 Sem tempo para chorar,
Sem parar,
Sem hesitar.

Pra que falar?
Pra que relutar?
Apenas deitar,
Deitar e rolar,
Até o sol raiar.

O dia seguinte não importa,
O momento se repete,
Com outro nome de uma agenda,
E nessa vida, sem realmente amar,
É a vida na qual eu queria estar.

Amar é algo complexo,
Doar mais do que se recebe,
Entristece, faz o coração chorar,
Buscar a utopia amorosa,
Desgasta, cansa.

     Por: Filipe Kinsky | @Filzinhu

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sistema


     Devido a muito pensar, escutar, falar, e até discutir; cheguei aos meus consensos. Não que eu estivesse indo contra nada. È só que como uma forma de me alcançar a alguma satisfação, escrevo isso.
     Porque para mim não importa se terei que manipular pessoas e situações para conseguir o que eu quero. Mesmo que o que eu quero não esteja ainda decidido; eu ainda sou assim. Crimes nunca me deram muito medo, e Leis também não. Quando você tem que pensar entre dinheiro e amor, eu penso no elo. Trabalhar para amar, amar para conseguir trabalhar melhor. Mas se posso entrar em contradição, não me importo. Fui criado sobre contradições.
     Quando penso nisso, não quero e nem gosto de citar filósofos. Para não ir contra a credibilidade das leis e teoria deles. Eu vejo o sistema burocrático. Daqueles de órgãos públicos, em que as pessoas só querem o “faz me rir”. Mas eu não as culpo, nem as invejo. Eu consigo assimilar suas carências, tanto nesse próprio dinheiro, quanto no próprio amor: em que eu acredito que elas não o têm.
     Eu sei que não vou viver só de amor, mas também não só de manipulação. O sistema me cobra uma coisa, o amor outra. E eu, bom... Só quando estou em colapso que me encontro em forma de cobrar de mim, eu mesmo.
     E se serei pobre? Não sei, ainda. Mas posso garantir que vou trabalhar o suficiente para ter como estar com quem eu gosto, e assim amar as pessoas. Trabalhando/Amando.