terça-feira, 28 de setembro de 2010

Rendo-me de Ti


De mim até você existe um universo
Que criamos com rapidez
Tanta velocidade que nós esquecemos de criar um mapa
E nos perdemos de vez

Mesmo que incerto, acreditei em você e selei
Eu te tendo sempre, até você me perder
A carta que dentro veio às novas regras
Através do tempo que vejo nos dissolver

De mim até mim mesmo, veio agora o caos
Você me judia, tendo a falta, o chicote
Eu não te tenho e você não me tem
O que nos liga é a ponte dos ponteiros

Falta-me o engano, o desespero e as indagações
Resta-me a inércia, a imperícia e as reclamações
Não vou colocá-lo em verso por não precisar assim ser
Me fez sofrer até agora, de todo tendo que permanecer

Rendo-me misturo-me sem ti, por agora não te ter
Nesta prateleira de reagentes, vou usando todos os frascos
Organizo todos em prosa e insiro na seringa de corpo presente
E injeto-me de manhã, feito vitamina!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Conciliações


     Triste eu sei que é. Não ser um vício comprável no caixa da padaria. Tornam as coisas mais difíceis para mim. Sair de casa, e procurar na cidade a presença. Seja à noite ou de tardizinha. Tudo se transforma, e pede para que não se perca tempo. Essa cidade é assim! Ela força os participantes dela a tomarem rumos, seguirem objetivos e cursos nos quais os respectivos cidadãos têm que saírem zarpados de casa.
     Mas existem noites, em que é inevitável ir devagar. Quando tudo perde a graça, ou se tem graça de mais. Nos dois extremos, o tempo pede para se curtir-lo mais. E é assim que aquela música portátil vem com mais tonalidade, e é ai que os detalhes de ambas as coisas vem com mais veracidade.
     Tanto o sentido do que se ouve quanto o sentido do que vê. Eu previamente não sei o que faço aqui, mesmo não deixando de fazer. Sendo assim, sigo o curso de velas bambas e soltas entre as artérias e intercessões dessa cidade. Topar com você é pra mim, meu maior preço. Mesmo sabendo que não vamos encontrar, sempre estamos a aguardar aquela ligação. Aquela resposta. Deixar de te ver é o que torna a minha vida normal. Acho que a de quem ama também, certo?

domingo, 19 de setembro de 2010

Enxergar-te


     Perfeitamente normal, e admissível é amar. Quando entra na rotina. Vem como manhã de quarta-feira. Derradeira e normal. Possível. Não altera nenhum sentido, é só gastar o tempo que era à toa, que era pra você. Que era sem prazer, sem graça. Aquele tempo em que você fumava, e compunha aquela música.
     Vem como esta que finca no ar, sem machucar, sem reagir. Cheiro é mais leve que o amor. Quando não há flor, ele vem do nada, lembra teu, amado. Nem que esteja claro, vem sentir assim, toque no escuro. Toque material, toque carnal. Morder partes de quem já morreu, sentir na textura o breu, de te morder.
      Ter que vingar, esperar puxar todo esse anzol. Nunca me fez bem, não é bem assim. Como colocar, isca pra matar. E vela sofrer, se agonizar e salvar. Se apaixonar, filme de terror, os olhos fechar. E encostar, na paz do silêncio. Tudo que é escuro, e no claro invisível é o que eu sinto. Vidro limpo, depois um espelho, depois você. Sua foto; isso é o amor.
     Não te enxergar, enxergar-me através de ti.

domingo, 12 de setembro de 2010

Presente


     De gás me tornei liquido. É o meu condensador. Quando não sei mais o que sinto, e fico buscando nomes para descrever, o que está aos pulos dentro de mim. Sei que tudo isso é devido reações à falta de seus beijos. Pois agora sim, estou dentro desse ciclo social que é o amor. Ele, para se participar, tem como meio regras árduas e até masoquistas que nos levam a loucura. Mas sem causar dano algum.
     Quando volto a pensar agora que sou de liquido, conjelo-me, e viro a pedra. Que espera pacientemente em seu lugar. Eu gosto de estar assim, parado. Quando se sente essa dor, que nos cortam aos ralos e ralados de um coração. Onde só a presença do outro vai curar, anestesia em um frio gostoso trêmulo essa dor de pele, que só os amantes sentem na carne.
     Penso outra vez, e sou espírito. Vagando por todo esse vale, elogiando todos os parados, que só sentem o amor. Todos sentindo. Véu de azul, ar de gotas. Vem umedecer a minha tarde. Vazia e sem graça, com toda essa perícia que desperta meu charme. Charme que eu só tenho por você. Como um presente guardado, não tendo como mudá-lo para satisfazer demais. Assim é você pra mim, guardado.

domingo, 5 de setembro de 2010

Lá no Lar


     Meu lar está na distração do pensamento, ele não é fixo nem permanente. Ele sempre está fora do chão. Quando fecho os olhos, consigo encontrar cada móvel em cada lugar. Tudo decorado com minha imaginação. Meu lar infelizmente não fica em casa, como os das demais pessoas. Pois ele não se habitua a se compartilhar com meus familiares. Meu lar chega e me vê cansado, no final do dia, ele foge de mim. E vem me receber na manhã de segunda-feira quando abro a porta para sair. Acho que minha cama nunca foi tão ciumenta, em ver que meu lar é muito mais amado do que onde eu possa dormir.
     Minha família não entende, de onde possa prover esse lugar. Eu só dês de criança descartei essa idéia, de manter meu lar nesta casa. E olha que eu ainda vivo onde dês de pequeno vivi. Não por opção ou falcatruas, na verdade minha vida nunca saiu daqui. Só fico triste por ter sido forçado a carregar esse lar por onde eu vou. Pois sei que cada lugar que o levo, ainda vai restar do que sou. Se deixá-lo em casa, meus pais o destroem. Sei que dentro de minha mente, esse lar vai se regenerar. A cada dia novo, em que saio de casa, deixo minhas tristezas e minhas brigas mal resolvidas pra lá. Aonde vejo parentes que sem diálogos guardam a dor do rancor. Vivo sem magoas, de fora, apesar de o que é de dentro me decompor.