segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Vento, Chama e Fumaça


     Eu poderia morrer agora, sim, como eu poderia. Tarde fresca, pós várias rajadas de chuva. E eu estou escorado na grade, ouvindo o som da cafeteira rosnar feito meus desejos após filtrar a ultima gota da água no café. Sim eu estou de férias, e não me culpo por isso. O vento bate, se enroscando nos meus pequenos cachos. E o meu cigarro já está aceso. Sim todos os meus sonhos já estão próximos: Vento, chama e fumaça.
     De fundo uma musica longe no meu quarto soa, nas minúsculas caixas de som embutida na tela pequena de LCD do meu quarto, do meu computador, leviano. Sim musica alternativa, vozes e gritos de guitarra que não ouso entender o sentido, só posso julgar o prazer. Tudo que é alternativo, só me traz prazer. E é exatamente o que procuro nas minhas tardes; Nesta tarde, na minha vida.
     Prazer! Sim, qual mortal que não procura prazer na sua vida!? Eis ele me julgue, pois se for mortal, e realmente não buscar prazer na vida, tudo bem, logo eu não sou mortal. Sim, se existir tal profecia, eu posso nunca ter sido mortal. Daí serei eterno, e como eu queria ser eterno! Para fazer de todos os meus investimentos: cigarros e café. Pois o vento eu sei que sempre terei, só iria me faltar fumaça, que logo com a combustão eu conseguiria.
     Combustão: Queimar todos os meus conflitos e problemas na ponta de um cilindro de papel, fazer de todos os meus delitos e más vontades o impulso para trazer o ar puro e perfeito para dentro, torná-los fumaça, respirar tudo. Tudo queimado... Sim... Sim!!! É a tragada perfeita, sim... Eu consegui, estou no meio do meu Luck Strike. E nada pode me ferir agora.
     Pode vir um tiro na minha cabeça, posso tomar uma facada nas costas. Nada vai tirar esse êxtase que agora sobe de elevador no meu cérebro! Nada! Nem Deus, nem o Diabo! Tudo agora está condensado, tudo agora está trajado e centralizado dentro do meu ser: Vento, chama e fumaça.
     Eu sou capaz agora de voar, arrepiar meu pelos, fazer deles asas e chegar aos céus como se não houvesse terra, como se nunca mais eu pudesse tocar ao solo. Sim! Eu posso, eu posso tudo baby! E tudo me pode agora, qualquer pedido, qualquer chantagem eu poderia aceitar agora em troca. Sim, eu aceitaria como aceito a troca de minha mortalidade por algumas tragadas no Luck Strike. Sim, ele sabe como é o nosso contrato... E ele o honra, como eu o honro quando eu ponho o isqueiro para acende-lo.
     É... agora abro os olhos e vejo o quanto a viajem foi longa, quanto eu agora estou cansado, e o quanto meu café está pronto para eu tomá-lo. É... agora todo o conformismo me contempla, e todos os problemas voltam para mim. E eu volto a ser o que todos querem, e vejo a platéia me pedir desculpa, por deixar eu ter prazer assim, como sempre. Olho para traz, sirvo o meu café, e volto a acender outro cigarro.
     Sim, a viajem não pode parar...

sábado, 26 de dezembro de 2009

Injetar


     Não era só mais uma injeção, não podia ser guardada em uma seringa descartável. Não era mais um tempo perdido, todo o suspiro faria aquilo verdadeiro... Talvez. Ninguém sabe até hoje como a inspiração é movida, sonhos, música, amor. Ninguém sabe o que se resulta o caos, o abandono, a saudade. Talvez se pudéssemos olhar pra traz, e ver qual foi os atos que levaram a tais conseqüências.
     Sim, era assim que esse composto era composto. Uma dose densa, quase leitosa, para quando penetrasse na pele, fizesse quem for sentir os cristais rasgarem dentro do ser, e o fizesse sentir o que realmente ela traria depois. Porque é assim que ela quer que você a encontre. Para chegar ao conforto, é preciso pisar nas pedras. Só o processo de ser, já deixa a pessoa estar, vivendo aquilo que ela quer viver.
     Não, não encontraria isso ano que vem, eu sabia disso. Eu já desisti, e não posso encontrar mais. Pois toda vez que quero encontrar essa dose, tenho que por meu pescoço à venda. E me arriscar. Não eu não arriscaria de novo. Porem, era a ultima esperança. Seria assim, eu, sendo eu mesmo. Sem trocas, sem remanejamento. Jogar o jogo da vida com o mesmo time. Talvez só na variação da sorte me traria à vitória.
     Pois é assim que nós nos vemos todos os finais de ano, remanejando estratégias, falsas estratégias. Re-configurando os erros, fingindo não querer fazê-los no próximo ano. Sim todos nós somos tolos, para não querer errar de novo, e saber que vamos errar de novo.
     Não, eu agora estava diferente, estava pensando só no final, nos objetivos. Agora eu não me arriscaria, arrisquei todos os anos, e em todos os anos não encontrei. Porque me arriscar agora? Não, não seria justo, como comer colheradas de lentilha todos os anos, desejando uma só coisa, e todo fim do próprio ano ter indigestão de ter comido a do ano passado.
     Isso não ira se repetir ano que vem, eu seria natural – naturalmente – e viveria tudo aquilo como se já tivesse vivido, em um sonho, em uma previsão de tarô... Talvez. Mas aquela expectativa morreria em mim, esse ano. E eu sentiria aquela ultima fisgada da seringa que era meu remédio de todos os outros anos anteriores. Injetar e “desinjetar”. Logo largaria o vício. Largaria ela, como se eu não importassem com o que viesse depois, se eu perdesse algo, seria lucro, às cegas.
     O que tinha dentro daquilo em que me vacino todo fim de ano? Uma dose única, e anual do que me faz valer a pena arriscar todos os anos, de passar a fio, à risca. Uma dose caríssima. Mais valiosa que adrenalina, que hormônios e qualquer coisa que o corpo possa fabricar. Mais valiosa; E de tão valiosa perdi o gosto de injetá-la e certamente eu não teria motivos para tê-la dentro de mim no próximo ano.
     “Não, nunca mais eu iria para a farmácia comprar uma dose de alívio.”
     Sim, Injetar e "desinjetar" - literalmente.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

S.O.S.


     Ok, nada disso está certo... más... será só mais um dos temporários vínculos que encontramos na vida da gente. Vínculos que parecem ser... eternos. E que podem assustar qualquer um que seja esperançoso, que crie expectativa, ou que simplesmente seja novo demais. Sim, eu estou falando de um vínculo que todo coração passa. Um período, uma transição... que pode durar a vida toda.
     Certo, está certo. Eu sei que estou extirpando, criando só mais uma teoria. Mas, do que seria as nossas vidas se não fossem essas teorias. O próprio amor, é uma das teorias mais praticadas, e que até hoje, não deixa de ser teoria. Sim! O amor! Como próprio o nome diz, pode ser posto diversas vezes no papel, e de diversas formas e tamanho. Sem alcançar uma medida se quer, de sua própria dimensão.
     Daí você, se existir, pense comigo: Qual é a sua dimensão? Qual a dimensão que você da para o seu amor? E qual é a prioridade e critérios para essas dimensões?
     Essas perguntas cintilam entre as paredes do meu ser, em ver todos os outros seres se amando: amigos e inimigos, conhecidos e desconhecidos. Seria mais uma das minhas maldições? Na qual eu carrego pelo simples prazer de tê-la em companhia?
     Eu não sei, só sei que eu posso ver pessoas que sabem o tamanho das dimensões do seu amor, e encontrando outros com as mesmas dimensões. Sim, eu sei que elas brigam: Todos os mortais brigam! Só que é como se quando esses mesmos brigassem, fosse quando suas respectivas dimensões alterassem de tamanho, daí fosse preciso encontrar outro amor, com as dimensões do teu próprio amor atual. Ou ceder, e forçar o seu amor a ter a dimensão do amor em que você está brigando, fazer isso... por amor.
     Sim! Sim! Eu sei! Todos encontram outro amor, e tem como tem gente que encontra! Só que... que... parece, não sei vocês. Mas parece que existem pessoas que tem dimensões imensuráveis, e de tal forma e peso que não dá para tê-los em mãos, nem guardá-los de forma segura. É como se o tamanho fosse maior que a própria Terra, ou quando você visse essa pessoa, ela estivesse ocupando um espaço maior que o corpo dela permite-se ocupar.
     È como se o peso desse amor dessa pessoa, fosse muito leve. Leve de um jeito de fazer faltar o ar que a rodeia em raio, e fazer com que sua respiração requeira mais ar. Palpitações... Como se ela fizesse de sua gravidade uma cegueira dos próprios olhos não saberem que são cegos.
     E é isso que me concluí. Eu: Ser um ser que não sabe a cegueira em que me cego.
     Tornar o ar de quem quer respirar, irrespirável perto de mim. E torná-los longes, e distantes. De uma forma que na multidão, reste apenas um anel em torno do meu centro.
     Eu. Que torno tudo mais frágil, e que procura pessoas que fazem do mesmo ar irrespirável, da mesma gravidade “impesável”, do mesmo amor imensurável.

domingo, 13 de dezembro de 2009

A Agulha e o Caio


     Era uma agulha, e era um palheiro. E era Caio, em frente a este dilema, este enigma. Ele estava na porta do paiol, e acredite se quiser como ele mesmo não acreditava: Havia muitas palhas! Ele estava disposto a enfrentar toda aquela grandeza para achar a agulha. Pois ele sabia, e via que todos achavam suas agulhas. Então ele se perguntava:
     -Porque eu também não acharia?
     Ele era virtuoso, e sempre pensava em tudo com muita esperança, sempre muito caloroso. Ele já era menino, e sabia o que estava fazendo, pois ele já era menino. E meninos quando sabem que são meninos fazem de tudo, para saber o que esta fazendo, para assim fazer e se tornar homem. Homens que depois de feito o que estes saberiam o que estivessem sendo feito, poderiam morrer, de tanto orgulho e felicidade por ter feito o que era determinado por eles, determinado pelos sonhos, dos meninos.
     E assim Caio partiu para o paiol na manhã seguinte para cumprir seu desejo, seu sonho de encontrar a agulha, no palheiro. Ele adentrou bem cedinho, retirou o cadeado do paiol junto das correntes que os prendiam e trancava antes do celeiro. O sol mal podia ser visto, e Caio podia enxergar com olhos matinais de um menino que acabara de tomar seu café com ovos mexidos, do fogão à lenha.
     Logo estava no meio do paiol, e era imensamente grande. Sua família sempre precavida de ração, o mantivera sempre abastecido com seu milho, para as estações do inverno que aproximava. E lá, no auge do abastecimento, estava Caio em busca da agulha perdida, ou nunca encontrada. Ele revirava, separava a palha em cestos, lançava as demais para perto da porta, para não procurar aonde já fora ido. Logo atingia o meio dia, e Caio ainda não encontrou sua agulha.
     Ele nem imaginava como ela era, só sabia que ela teria um corpo, uma dobra aberta na cabeça para passar a linha, e na ponta uma ponta para perfurar os demais objetos. Caio sabia como era uma agulha, apesar de não saber exatamente como era a sua, propriamente dita, a que ele estava procurando. Caio logo foi arrastado para o fim da tarde, e não a encontrava.
     A lareira de sua casa já havia se acendido por sua mãe, seu pai já estava jantando, e Caio estava ajoelhado no paiol. Com os olhos tristes, e sua visão apoiada ao chão de madeira em tábuas. Caio estava perdendo as esperanças. Agora a dor era maior, e parecia que ele estava procurando uma palha no agulheiro. Como se todo aquele cenário amarelo avermelhado do paiol no crepúsculo da tarde, o machucasse em alfinetadas.
     Caio desceu do paiol, queria agora tomar um banho, para se lamentar de não ter encontrado a sua agulha. Sua casa era simples, e ele estava esperando sua mãe esquentar a água do banho em que ia tomar. Jantou, tomou seu banho, vestiu seu pijama de algodão batido. E com uma lamparina de querosene fora para seu quarto, repousar nitidamente naquela noite estrelada do fim de outono.
     Ele abriu a porta de madeira rústica e pesada, fazia ela muito barulho. Ele a empurrou com força. Observou seu quarto, com suas paredes rebocadas a barro do rio. Ele tirou seu chinelo de dedo. E sentou na sua cama, de costume bem devagar. Sentindo seu colchão velho, forjado e recheado de palhas que seu pai o fez para ele. Caio sentiu um enorme desgosto, lembrou de toda aquela tarde vazia perseguindo sua agulha furtiva. Sem esperança Caio se jogou no resto do resto do seu corpo no colchão.
     Foi quando Caio sentiu uma pontada nas costas, como ferrão de abelha nervosa ao proteger sua colméia. Ele abriu um largo sorriso, com os olhos cerrados. Caio sabia que nunca tinha visto, porem sabia que ela existia. E que ela estava agora, fincada nas tuas costas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Ponto de Visão


     Brincar com o tempo. Tornar todos os humanos em simples peças, de um simples jogo. Fazer metáforas de objetos de desejo. Torná-los próximos a quem se quer e quer tê-lo próximo. Fazer da dimensão do teu desejo, a própria distancia. Tornar a história o eixo. E fazer dela, a mãe de toda a trama. Torná-la inviolável, e mudar todo o contraste dos enredos. Fazer da hesitação, o lucro! E do lucro, o orgulho.
     Fazer de todo esse poder, o da manipulação do tempo, algo desconhecido para você. Viver com você, como se eu fosse um mero mortal. E ouvir você dizer que o tempo em que não tens para mim, é fato da sua dispersão. Tola quando não vê que o que não tens, eu posso conseguir no ato do estalar dos dedos. Tornar os dedos, frisantes ao espaço em que eu vou poder consertar tudo aquilo em que não estiver bom. E torná-lo aceitável.
     Daí nasce na concepção desse espaço uma linha, que nos divide. Como páginas, de um livro: eu o prólogo, e você o epílogo. Afim de torcer o livro em várias posições, ambas páginas nunca vão se encontrar. E ambas idéias nunca vão comunicar-se. E manteremos nossa mesma visão do mundo, eu controlando o tempo. E você o espaço. Teremos do nosso dom, uma perca, que poderá nos trazer o caos. E nos fazer de sã, loucos iminentes!
     Como trocar de hábito? Como trazer o tempo na raiz próxima de poder recomeçar? Como achar tua mão leve em toque para assim dela, a partir dela, traçar uma nova história para corrigir os erros?
     Sim, não me culpes. Eu tentei voltar o máximo que pude para te encontrar em tal vínculo. Porem não tivemos brecha, um segundo se quer para os nosso sentimentos. Depois de todos os tempos vividos, percebi que todos eles não me faziam encontrar qualquer pista que me levasse a uma rota para você. Todas as tentativas apenas eram distâncias variadas entre o meu e teu mundo.
     O mais próximo que tive, eu investi. Tentei perfurar, obstruir. Porem nem se quer arranhei a superfície. Eu apena a tinha em vista, e ela era de cor transparente. Perfeita em plano, e em dimensão. Parecia um espelho, aonde só cabia a altura e a largura de nossos corpos. O seu e o meu. Aonde e só aonde eu poderia te ver, no mais próximo ponto de toque. Sem toque...
     Mas chamar de espelho era elogio. Um espelho seria muito mais egoísta, seria muito mais cômodo. Me traria a sensação na qual tenho todos os dias ao acordar. Um espelho não me faria apaixonar pela imagem, sabendo que seu objeto já é conhecido pelo tal tempo de vida. Mas era pior, bem pior. Era um vidro, como ele mesmo poderia ser. Feito de areia para desabar e mover todo o meu sonho para traz, e voltar no tempo.
     Era a faísca da nossa explosão. Era em tudo sobre tudo, a única oportunidade de nos vermos. Durante toda a nossa caminhada era, vivida, era a única parte em que nossos olhos se cruzaram realmente. E isso me faria infeliz o resto de minha vida. Eu estaria agora diante de várias distancias de você. Sempre sabendo que nunca estaria ao toque teu. E que sempre que eu quisesse eu poderia voltar apenas aquela medida mínima, entre eu e você. Voltando no tempo, para ali estar tudo de novo. Como se aquilo fosse a porta que nos separássemos. Como se voltar para aquilo, trouxesse todo o meu sofrimento. Só de voltar no tempo para você, sem você, sempre... Aquilo seria agora a camada das nossas relações... Aquilo seria a primeira impressão. E ela ficaria, para sempre!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Chuva Chuveiro


     Toda farsa é flora, todo sonho é farsa quando você me vê. Todo tempo é lento, todo mundo é tento de tentar te ter. Quando a chuva cai, e em ti distrai todo meu pensamento no banho. É que vejo o quanto o chuveiro joga o que o mundo joga em mim.
     Se eu não te conhecesse tudo o que viesse seria de marfim. Eu te julgaria de todas as formas, e em farpas amarraria tua foto em praça. Mas quando eu te vejo, tudo roda em remanejo, só pra me machucar afinco. Se eu não te tenho, já estou em teto de ser aquilo que sonho em ter. Você, eu, e tudo o que o sonho quer ser. Porque se sonhos não fossem sonhados, seriam já realidades. E se o que fosse real não for sonhado, já os próprios sonhos não poderiam existir.
     Porque assim que é a minha vida, sonhar em realizar o que ainda não sonhei. Chover no teto de uma casa, cujo o banho é uma farsa para quem está a tomar; O banho. Porque assim que eu quero morrer, sem te ter, te tendo. Como uma esperança, uma doce criança diante de um doce. Em uma fotografia, onde a câmera é o objeto que a fotografa no espelho de seu ser.
     Porque se não for assim, não quero viver. E se for diferentemente, quero estar contente, e você já não vai existir. Porque se você sumir, será pra mim um seqüestro. E tudo o que for resto, será detalhe para mim. E se tocar o sino, quero de sino ser surdo para poder em turvo escutar só tua voz. No meio da gritaria, toda infantaria de uma multidão me faria perto de ti uma canção.
     Porque será, assim. Você vive mantendo meu vício e me consumindo nem querendo isso. E eu te injetando em dozes e substâncias. Quero pegar cada olhar teu e sangrar nos meus órgãos que ainda não apaixonaram por você. Quero pegar o bisturi, cortar o corte da minha alma, coisa tal de fundo quero ser um fundo onde você não vai conhecer.
     Só para ser assim. Você vivo e eu morto. Você vivo ou sem existir. Quero proteger o que há em ar perto de seu ser para poder me machucar. Te provar minha carência, tostar minha resistência. E sofrer de dor até os olhos envesgar. Fazer você chorar por mim. Quebrar teu muro de marfim. Você se arrepender, pelo tempo perdido e chorar por mim.

domingo, 29 de novembro de 2009

Crônica da Loja de Bom-Bons


     Havia uma garota de cabelos longos e negros que estava saindo da academia, ela vestia roupas coladas de ginástica e andava ofegava para sair dali. Ela com a garrafa de água nas mãos se deparou com seu cadarço frouxo e agachou para amarrá-lo. Assim ela fez parar bruscamente um garoto dez anos mais novo do que ela, no corredor para a saída, fazendo-o derramar a garrafa de água dela no chão. Nesse tempo Vitória estava na loja ao lado escolhendo uma caixa de bom-bons para o aniversário de sua mãe.
     O garoto pedindo desculpa a garota vê o quanto ela é bela, e resolve ajudá-la para dali se levantar. Nesse momento há um taxista que atrasado por sair de casa trinta minutos mais tarde, resolve estacionar o carro na frente a academia para tomar um café no bar ao lado da loja de bom-bons onde Vitória estava na fila do caixa para pagar sua compra.
     Ele entra no bar e vendo a cena encaixada das pessoas na fila do caixa da loja de bom-bons resolve dar passos largos para assim poder se deliciar, após o seu café, de um bom-bom de nozes que sempre fora seu gosto predileto. Distraído ele deixa o dinheiro que usaria para tal recurso cair no chão. E eu agora estou passando a chave no portão de casa para ir a loja de bom-bons comprar meu pó cappuccino matinal de chocolate preparado na hora pela vendedora da loja, na sua maquina express.
     Nesse momento Victoria entediada pode observar a moça do estabelecimento arrumar seu embrulho para o presente. A garota de cabelos negros esta agora conversando com o garoto jovem e ambos resolvem ir ao bar comprar uma lata de refrigerante para se refrescarem, já que a água da garota fora derramado pelo garoto. Nesse momento estou saindo de casa pós ter fechado meu portão, e sinto uma pressa enorme para poder tomar meu cappuccino, sentindo estar atrasado para algo.
     Victoria vê os jovens felizes saindo da academia e entrando no bar, pensando neles serem namorados, vê o quanto sua vida estava pacata e sem grassa naquele momento. E o quanto seria bom ter alguém para ser com mais ela, dois. Numa tarde quente entrando em um bar para tomar um refresco e falar abertamente sobre qualquer coisa de namorados. Nessa distração Victoria não vê o taxista entrando na loja, pós ter tomado seu café no bar. Ele pega seus bom-bons rapidamente e tenta paga-los no caixa que agora já estava sem fila.
     E eu posso ver o cenário do outro lado da avenida, olhando para os dois lados me preparando para cruzá-la. Quando Victória já com seu presente tenta sair da loja, só que depara com um taxista sem dinheiro e o vendo revirando os bolsos na porta da loja. Ela não consegue sair, e paciente aguarda-o revirar todos os bolsos de taxistas para assim ele poder desconfiar que não conseguiria pagar seus bom-bons e que ele certamente voltaria para o carro para pegar mais dinheiro.
     Nesse instante os jovens saem do bar com suas latinhas de refrigerantes e me fazem frear após eu ter corrido para atravessar a avenida. Eu mais impaciente, os fito com olhos de quem acabou de acordar e não tomou seu cappuccino ainda. Nesse instante o taxista está alinhado aos dois jovens que na freada começam a acelerar para saírem da minha frente, e respectivamente da porta da loja de bom-bons. O taxista desiste e também sai da porta, abrindo caminho para Victoria sair do estabelecimento.
     Nesse instante os jovens se movem para a minha direita, e o taxista para a minha esquerda. Saem dos céus feixes de sol, após ter vencido a barreira de nuvens, iluminando o caminho que se abria entre eu e Victória. Nós olhando para baixo, vemos o sol tocar nossos pés, ambos de chinelos de fivela. Subindo os olhos em câmera lenta, os dois, eu e Victória, podemos desfocar nossa visão: Eu dos jovens, e ela do taxista.
     É o ápice da lentidão, e nós podemos nos olhar. Ela em mim, eu em ela. Senti oposto em distancia perfeita, nós trocamos todas as informações possíveis na linguagem visual. E sentimos algo que certamente, só sentiríamos naquela vez. E nesse momento eu pude sentir tudo o que nos ocorrera do antes até aquele segundo.
     Se os jovens não se conhecessem através do tombo, e eles não tivessem feito Victoria ver que ela estava sozinha, e solitária. E se o taxista não tivesse saído de atrasado de casa, e não tivesse ido ao bar tomar o café. Logo perdendo o dinheiro, para fazer Victoria esperar na porta da loja. E se os jovens não tivessem me feito parar naquele momento entre eu e Victória, e se eles junto ao taxista não tivesse acelerado em tempos iguais, para assim abrir minha visão para Victoria ao mesmo tempo que ela para mim. Eu não estaria vendo-a, e eu não estaria agora tendo certeza que ela também estava igual a mim. Ambos apaixonados.
    

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Veemência


     Pós êxito, e os corpos ainda permaneciam molhados. Os olhos dilatados rente aos outros olhos. Um sobre o tal, o tal sobre o um. Tudo estava errado, e permaneceria assim. Até que ele viu o que estava acontecendo, fisiologicamente. E tudo mudou de visão. Agora estava ele olhando para dentro de si. Via seu coração batendo mais forte, sobre aqueles músculos no qual mal cuidava. Apesar da textura da pele, seu corpo deslizava sobre a superfície que ò mantinha suspenso do chão. E isso não o incomodava
     E ela deslizava como manteiga, mas muito mais quente que o seu corpo. Ele podia ver o quanto ela estava em súbitas palpitações de êxtase e nervosismo. Era como tomar refrigerante gelado com a boca ardendo pós efeito da pimenta. Ele sabia disso, pois via em seus olhos o quanto aquilo a satisfazia. E ele estava satisfeito com isso. Só de saber que ele era bom demais para deixar tal superfície trêmula, só de ver o vibrar dos olhos que quase mudavam de cor por tanto gozo. Só de estar em tal tempo, já paralisava a ação e os efeitos.
     Mas não era o suficiente, ver esta superfície tão perfeita e morena suar, como o teto de uma sauna qualquer. Onde os vapores dos desejos não escapam. Não era suficiente ser a válvula de escape dessa panela de preção. Ver os segredos vedados pelo anel de borracha da tampa fazia essa superfície estremecer, e gemer.
     Vendo tais reações, ele suportou em ficar ali, só a observando. Com olhos de anti-clemência, não importava com a saúde da superfície. Só achava exagerado, pois o corpo dele não era resistente o quanto o da superfície. Ele apesar de diferente do que a superfície era; Era apenas humano. E estava se sentido muito bem, em ser um humano a causar estragos em uma superfície tão macia, tão quente, tão gostosa.
     Cansou-se de esperar. E agora podia ver-se quase levantando para partir. Ele agora a deixaria ali para que ela pudesse descansar. Incrédulo praticamente. Pois afim, ele não podia. A superfície era muito mais forte. Ela o agarrou e o trouxe perto de seu coração, quente e suado como pós-respingos de chuva ácida. Ela o abraçou veemente e olhou arregalada em teus olhos. Recém vazados e mudos de cor. E ele, com dó, a beijou novamente! Estava tudo recomeçando de novo, e certamente, ambos suariam outra vez...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Agora


     Quando “agente” deita, o mundo encosta. Agente encosta em outra dimensão. Falar que era preciso, faria valer a pena, de uma opinião. Todo o teu medo, e cores frias nas lentes da minha imaginação. Quando você deita, o tempo congela, faz de noz uma conexão. Sei que é difícil, entender. Todo esse conjunto. Mas se você está vivo, em outro mundo, não importa. O que importa é que você existe, e que existe, e que vai ter por onde estar. Eu vou estar, em algum lugar, aonde você também vai estar. E nos cruzar, os olhos lentes mal estar, eu vou sentir. Você estar, em êxito, complexo demais para os mortais. Estar, fazer, com que o ar sinta a diferença. O que ninguém, pode sentir. O que ninguém, pode enxergar. Todos sentem, todos enxergam, todos vão enxergar. A diferença, entre nós dois: é que o momento de enxergar chegou agora.
     E agora? O que agora? Eu posso fazer, tudo nesta hora. Pular de um prédio, fingir mistério, mudar o que sou para ser você. E nessa hora, a grande cova. Que eu cavei tendo no meu coração. O que tu gosta, e quando chora, a chuva devagar e em degradação. Eu vou embora, caso nem gosta. De como eu quero me sentir, nesse vão. Gosta de torta, porque me adora? Se sinto você morrer em cada opinião. Qual casal que gosta de opinião? Qual de nós vamos nos criticar, amando ou não?
     Qual a porta? Ela é torta? Será que eu vejo tal noção? De que tem hora, que me distraio, pondo num diário. Os seus traços e tua afeição. Não, borracha, não. Nada vai fazer você aqui, ou ali. Tudo vai estar em você, e você em mim. Sim, escreve, sim! Escreve menino tudo o que odeia em mim. Pra eu poder fazer, o que a tortura da tua letra me faz, bem. Ou mal? Não sei... O qual? Não sei... O que está? Agora...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Entradas no Diário de um Ator


     Abro os braços e só hoje sinto, depois de um longo tempo de espera, a chuva tocar o meu corpo quente. Eu estou a poucos metros de um abrigo, e só depois de longos e sucessivos passos, vejo que a chuva atrasa quando estou bem. Assim vivo, com o meu nome diferente do que era antes do banho de chuveiro e depois do da chuva. Meu nome? Pablo Castro Silveredo. Minha profissão? Ator de teatro, de palco, mas só de teatro. A televisão me confunde e seus contratos são arriscados. Eu faço um sucesso aqui, e isso às vezes traz conseqüências diabólicas.
     As conseqüências boas todos já conhecem, fama, o pseudo-dinheiro, a rotina instigante. Mas agora, as más, só eu conheço em certa intensidade. Existe um “humano” que me persegue, sua profissão é de tal ato. Porem, ele exagera as vezes, e só comigo. Eu já cheguei a pensar que ele me amava, alem do mais, nunca soube minha opção sexual ao certo. Na verdade nunca parei para pensar nisso, só ando realizando os desejos das pessoas pelo mundo afora.
     E isso irrita a mídia, como irrita esse “humano”. Ok, sem negações. Ele é jornalista de uma revista de só celebridade. Coisas que jornalista de verdade não curte, ele já trabalhou com teatro, fora diretor, e hoje mexe só com palpites nas peças dos outros. E então ele sempre está na primeira fila, quando vou entrar em cena. Todas as peças, dês de que minha carreira começou a ser aplaudida por um publico mais vasto. Ele vive a me perseguir.
     Davi Estayói era um ótimo diretor, apesar de sua amargura ele sempre fora muito decidido, aplicado e regia com fervor todas as peças. Infelizmente ou felizmente, eu nunca trabalhei com ele. Às vezes agradeço tal recurso, pois tenho certeza que ele me mataria no palco de tanto me fazer trabalhar o mesmo ato. Ele hoje, só serve para falar de mim, bem ou mal eu sempre estou na sua coluna. E eu adoro ler ela de manhã, durante meu café ornamentado de frutas, nas quais nunca provei.
     Porem estou arriscando esse relato, pois a ultima crítica foi interessante. Muito interessante! Davi nunca expressou durante as nossas conversas atravessadas o objetivo de tantas faladas de mim. Ele sempre me criticou, colocava minha personalidade em foco, para poder descobrir o que estava acontecendo comigo. Através do meu trabalho. E nunca, pelo menos eu vejo, que conseguira.
     Já tive vontade varias vezes de adentrar no seu posto de trabalho, durante o expediente e confrontá-lo diretamente. Sem medo de fazer escândalos. Porem logo me vem a preguiça que essa mídia me faz e desisto de encontrá-lo. Ele nesse último relato crônico, apresentou o depoimento de sentir dó de mim, e dó do que eu faço. Davi me achava intruso dentro dos palcos, como se eu nunca me encaixasse perfeitamente bem em nenhuma atuação.
     Ele diz em suas linhas, os momentos de minha carreira. E tenta decifrá-las. Tolo. Dó é a dó que eu tenho dele. Dó antes da dó que ele dissera ter por mim. Fétido, mal sabia o que era teatro. Vejo que ele esta desatualizado, e nem sabe mais qual é a minha situação atual. Ele me vê como um fraco, só porque sabes meia dúzias de casos de “amor” que já tive. Só por que eu sou louco, e vivo minha loucura ninfomaníaca em torno dos meus objetivos. Só porque eu transo por missão, de conseguir transar com os outros. Homens e Mulheres, aquele que mais me convir, eu mordo!
     Sabe-se lá se o casamento dele vai bem. Um “jornalistazinho” daqueles não devia comer a mulher a séculos, se é que ele come. Pois nos meus olhares vulgares, posso ver seu vacilo de desejos. E se eu me impor um pouco mais, conseguiria abrir suas cintas. Hahaha! Seria cômico, e daria uma bela capa de jornal. Alias, queria ver ele depois que eu pudesse corrigir seus olhos, como ele escreveria e próxima matéria!
     Pena que isso é só uma entrada no meu diário. Eu queria agora nesse exato momento, dizer para ele que a minha dó veio intuitivamente antes da dele. E que a dó dele não é original. E penso nisso, pois se sou intocavelmente longe dele, e se eu não prendo sua atenção. E logo sou um ignorado por ele. Porque ele perde tempo escrevendo colunas sobre mim? Jornalistas são estranhos, eu que só faço o meu trabalho. Hoje me sinto muito mais forte às tuas criticas. E elas é que me são intocáveis por mim. Quando eu era novo, me afetava, mas mal sabia o poder da mídia. E me machucava ser criticado. Hoje pouco me lixo, e sinto o poder de ser artista, e de enganar as pessoas com o que faço. Com ou sem palco, é ruim mais é o que me faz humano e pecador.
     “Se você não acreditasse em minha mudança, mudaria de novo a persona em meu rosto e faria isso ate que você visse o quanto sou forte, Davi! Posso ser distante, posso ser próximo, intruso ou convidado. Mas serei ator, e atuarei suas ilusões. Serei convidado quando eu quiser ser convidado. Serei intruso quando quiser ser intruso.”
     “E você será só um. Tolo.”

domingo, 8 de novembro de 2009

Palpite


     Coitado... Eu ainda podia vê-lo na distância da nossa despedida, fitando-o com os olhos pasmados, como ele aumentava a sua velocidade para chegar em casa. Ele tinha algo realmente importante para fazer, ou senão seria tolice dele de abandonar uma vida para ficar em casa, sozinho. Apesar de Atila nunca achar isso uma verdadeira acusação, no qual eu sempre via isso em teus olhos. Ele mal podia dizer o que era virtual e real. Seus amigos pareciam pixels na tela de onde, sem tê-la o que ver morreria, certamente.
     Pensar não o livrava da sua realidade dentro de uma janela, ele podia ser o que fosse, nunca seria o mesmo quando estivesse fora dela. E eu que sempre me remediei em dizer isso, hoje já posso ter menos do que duvidar. Eu tinha dó de Atila, ele sempre seria aquilo o que um fio de cobre o mandava. Eu pude sentir na tua pele a energia eletrostática fluir no seu corpo, ansiosa só para conectar novamente ao seu servidor.
     Mas eu percebia isso pois estava sempre por perto, seu corpo não reagia mais meus instintos, e eu era apenas carne perto de Atila. Ele porem também era, mas estava desligado dessa situação em que todos do seu mundo real o tentavam alertar. Porem ele estava longe de mais, ele não era inteligente e não pensava tanto assim como ele dizia. Isso era forte quando ele estava enquadrado e eu o pude sentir.
     Percebi que Atila estava em uma ilha, aonde me assustava aproximar. Eu, do meu navio como outra pessoa qualquer, dando só mais um palpite, o via encalhado naquela ilha. Onde teus amigos, que também virtuais, estavam ali brincando. Impetuosamente e paralelamente de ciranda, na areia cromada da ilha. Seus amigos hologramas, mal sabiam como ele era diferente na vida real. Eu realmente tinha dó dele.
     Porem eu não podia tocá-lo, por mais que tivessem melhorado fisicamente, seus músculos estavam fartos de sua cadeira de escritório. Eu podia sentir os pulsos de informações codificadas passando pelos teus cabelos. Mal tratados e ignorados como o próprio dono. E acima da tua pele estava uma camada de plástico se formando, uma camada na qual ele resinava. Para quando ele expuser-se para a vida real. Eu já o via proteger-se de teu próprio produto industrialmente criado por ele mesmo.
     E eu o via pensar, projetando como seria tal tarde na qual ele se conectava, tolo mundo do próprio tolo. Eu sentia tua carne frágil. Ele mal podia me machucar, era tão mole. E eu o via morrer, assim como o mundo dele ainda se via intacto. Pois eu tinha certeza que estava eu fazendo o certo. E que Atila morreria como um jovem qualquer nessa vida que cada vez mais se ilude com cibernético. Eu via a distância entre Atila e teu querer, eu o via falsamente interpretar um futuro, um futuro que ele não poderia ter. Mas um futuro no qual ele acreditava, e que o fazia destruir seus vínculos reais, e tudo aquilo que poderia realmente existir. Atila morreria sozinho.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Controle Remoto


     Eu estava sonhando outra vez, e nele, havia um garoto sentado no canto de uma parede comendo chocolate timidamente. Eu estava prestes a acordar pelo primeiro impulso, senti meu corpo ser guinchado pela vontade de não adormecer outra vez, foi tudo muito estranho. Eu só queria levantar, para aproveitar, sei lá! Mas eu não conseguia, quando de repete o salto me veio com uma força em que eu poderia derrubar um time inteiro de qualquer jogo que usasse da força, uma necessidade.
     Agora eu levantei! Tinha dado um salto na vertical com a coluna, como se um espírito estivesse dentro de mim. Eu estava sem meus movimentos básicos. Sim, eu tinha acabado de perder meu controle remoto. E eu já me via afivelar os chinelos de borracha nos pés. Eu acendia as luzes do meu quarto, peguei a chave e corri em disparada para a cozinha. Lá dei um giro de meia-lua, revirei meus olhos para cima, avistei o horário das sete e meia marcados no ponteiro.
     Voltei para o quarto, agarrei minha mochila. Agora eu realmente não parecia eu mesmo, eu estava incrivelmente tímido e indecifrável. Algo estava me tomando à força. Nas quais o fluxo me fazia querer reagir. Cada minuto mais e mais. Abri minha mochila, segurei dela minha carteira, notei que havia dinheiro. Peguei uma nota de dez reais, e fui a passos largos para a cozinha novamente.
     Eu estava domado pelo menino do sonho, ele era mau e só queria o chocolate que não havia conseguido morder no sonho, por intrometimento meu. Ele estava me assustando, e eu quase que o podia segurá-lo por dentro, eu só precisava de mais tempo. Agora eu o observava observar o jardim, estava chovendo e estava frio. O menino parecia ter medo da chuva, e ele se sentiu vazio novamente, ele sempre fora vazio.
     Ele já não tinha nada por dentro, e eu impetuosamente removi seu chocolate como se ele nunca precisasse daquilo. Eu fui rigoroso, e sentia como só eu poderia sentir, a mágoa de ter feito algo tão ruim. Porem não tive dó, eu tinha que domá-lo, ele estava desobedecendo as regras da casa. E isso estava me deixando ridículo por dentro de mim mesmo.
     Na primeira oportunidade que tive, eu o segurei pela gola de sua camiseta listrada. Ele se esgoelou de forçar para frente, uma tentativa evasiva infantil sobre mim. Porem não conseguiu. Eu pude me sentir novamente. Tomar as rédeas, o controle. Agora eu estava o segurando dentro de mim, pelos dois braços: uma mão em um braço e a outra no outro braço. Eu pude-me ver olhando para ele.
     Ele estava totalmente com raiva, eu vi o seu vazio, e vi também sua fome. Eu nunca pensei que ele teria fome, não dentro de mim. Eu o encarei como se estivesse dando um sermão. Ele agora estava olhando para o chão, com lágrimas a formar no rosto. Eu o balancei para ele voltar à atenção para mim. Pude acompanhá-lo junto ao meu corpo para o meu quarto, eu estava de pé.
     E vi-me pegando um prato de comida, com arroz, feijão, um bife, salada e até batata frita. E por dentro de mim, entreguei a janta para ele. Ele se abaixou no mesmo canto da parede, agora no meu quarto. Pegou o prato, cruzou as pernas e o vi comer furtivamente torto para dentro. Eu estava o encarando, até que ele comesse tudo. Quando assim feito, voltei para fora do corpo, eu estava segurando o meu dinheiro e a minha chave.
     Estive pensando em quanto olhava para a arara avermelhada na nota, quem seria aquele garoto. Eu estava passando por momentos difíceis, e estava sentido o que aquele garoto sentia dentro de mim. Eu também sentia um buraco de fome no meu corpo. E o prato que eu o havia entregado, era aquilo que eu estava evitando todas às vezes durante a semana. O menino era o meu orgulho, e vi que eu finalmente o havia domado. Agora o prato, eu não sei o que era. O que as comidas nele representavam. Eu só sei que o satisfez, e isso me deixou mais seguro. “Ele estava com fome...”

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ciclo Diário


     Acordo, sabendo exatamente o que vai acontecer, e que eu com você de novo vou sofrer. Levanto, e é a ânsia que me domina. Tomo meu leite com café, pensando como abordar como organizar e organizando todas as frases que está dentro de mim. Recolocá-las em texto, infelizmente não consigo, ainda é muito cedo. Só durante o caminho percebo o ciclo que outra vez vai se tornar o meu dia. Mais um dia, em que eu na trigonometria da minha tola vida, vou voltar no fim para eu mesmo.
     Os pensamentos se aceleram, e quando alcanço o topo do relógio é quando a tristeza de te ver de costas me domina, o dia ainda não terminou. Eu estou no molejo do quente da tarde, e daí começo a relembrar como foi à manhã. Desorganizada, corrida e eufórica. Mal pude por em ato os meus planos, não dei um passo se quer no plano cartesiano que existe entre eu e você. Eu estou vencendo o ciclo, e os ponteiros vem caindo pelas laterais.
     Seus olhos invadem meus pensamentos, nas horas vagas do dia, não é elipse não é círculo. É toda aquela volta que me faz perder em pensamentos quando não posso te ver outra vez. Te ver não me faz tão mau, o mau é não ver você. Os poços fundos de onde lanço meus desejos mais complexos e só recebo o ricochetear das águas da sua superfície. Nem o barulho da penetração dos meus objetos lançados posso ouvir ao se chocar com seu lago.
     Eu agora estou concluindo a caminhada, é o fim de mais um dia. E consigo sentir facilmente o quanto não adiantou nada dar a volta nessa circunferência. O quanto não quero chegar à ponta da volta, o quanto não quero começar outro dia. Me vem a inspiração, aquela que provém de todo esse seu abandono, recordo pela terceira vez o que não consegui de você no dia, e começo a escrever, a compor. Tudo o que eu sinto e tenho, com freqüências variadas que saem dos raios iluminados dos teus olhos.
     Depois de tal desgastes, xícaras de cafés sujas, eu me sinto um pouco melhor. Procurando alguém que entenda, alguém que faça dessa minha dor, uma tangente com meu ciclo. Penso nisso a noite, antes de dormir, quando os pensamentos são toda a vertigem que nos prende a falta de sono. Vejo como seria mais fácil, como será triste para você saber da verdade no futuro e não puder fazer nada. Continuo caminhando, na esperança de que meu andar em círculo varie, e que eu o possa arrastar para um círculo próximo a mim. No tolo desdém adormeço.
     Acordo, sabendo exatamente o que vai acontecer...



    

domingo, 1 de novembro de 2009

A Árvore

     Nem as lágrimas dão o poder dela chorar, ela queria cravar o dente em sua árvore que um dia ela permitiu que a mantivesse no jardim dela. Se arrependimento matasse ela já estaria morta. Nem seu nome ela não lembrava mais, de tão tonta que estava. Ela não conseguia nem trabalhar ao ver a sombra da árvore no jardim a perturbá-la da janela do escritório. Ela nesse momento queria ser outra qualquer, queria morar num apartamento. Só para aquela árvore não a aborrece-se mais.
     Era uma mangueira, alta, forte e quase podia sumir nos galhos. Seu teto era visto apenas por quem tinha asas, seus troncos retorcidos invadiam quem estava próximo e todos sempre gostavam de estar sentado neles. Ela estava cansada, e não tinha força para fazer nada em relação aquilo. O impasse era sentimental, se ela arrancasse a árvore de sua vida, a própria árvore não reclamaria. Se ela a mantivesse, a arvore não faria nada, e tudo ficaria do mesmo jeito!
     Isso a deixava louca! Ela só queria uma reação, algo que pudesse fazer para que a árvore fosse contra ou a favor. Algo que tornasse aquilo mais contraditório. Ela queria era ter uma opinião contra qualquer ato dela. Ela queria ser questionada, enciumada, protestada. Ela queria que a árvore a protege-se de qualquer coisa que acontecesse para ela pessoalmente. Ela queria respostas, ela queria perguntas.
     Vinha os frutos como pedras, não tornavam aquilo interessante. As raízes eram intrometidas, e as folhas um trabalho a mais na faxina. Mas mesmo assim ela não conseguia tomar partido, ela não conseguia nem mais pensar. A árvore era o peso que tinha sobre o chão, tomado sobre ela mesma. E isso à conduzia, uma vida atolada, deixando ela triste. Ela queria outra coisa, mas não se lembrava ou mal sabia. A loucura fez ela esquecer que aquilo no seu jardim era só uma árvore. E que como própria arvore, nada fazia. Apenas seria, árvore.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Cristal Solar

     Ela era tudo o que me fazia ser, e sou. Agora é o que eu posso escrevê-la. Ela esta no meu sol, esta no meu ar que levemente fica quando eu a respiro, ela esta no meu pensamento! Amor era luxo perto de tal coisa como ela. Eu poderia voar quando eu a mantinha próxima por mais de alguns minutos. E isso me tornava o que os outros tiravam de mim, isso me tornava eu, como eu mesmo.
     Poderia ser qualquer tipo de atrofia, hoje já não a vejo todos os dias. Mas estou sempre que quando posso perto dela, mais do que talismã. Ela tinha o poder de um dos maiores cristais já vistos. Ela era meu cristal solar! Passava-me tal energia que teus cabelos mal agüentariam se não fossem daquela cor. Ela radiava todo o ser dela mesma, tocando todas as superfícies, penetrando-as como um feixe de raios das quais a freqüência, nenhum dos físicos poderiam medi-la.
     Ela não tocava a terra. Mar não tinha nexo à praia quando ela era citada. Tudo perdia o sentido para o seu próprio sentido, que tem mais sentido do que meus sentimentos. Ela é o inflar dos meus sentimentos, como todos os gases que poderiam enchê-los. Assim tipo dos balões em festivais que não seriam suficientes para encher meu coração como ela mesma enche. E isso não está no seu sopro, isso não está na sua respiração. Isso esta alem de qualquer órgão vital no qual poderia estar, alem do próprio coração. Eu não saberia explicar o que ela tinha, e o que me fazia imensamente feliz. Só poderia dizer que o que esta no seu peito, não era um coração, era muito mais fervoroso. Era muito mais radiante, ela tinha entre os seios o Sol que me levantava todo dia, e me fazia a ver novamente!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Frenesia


     É incrível! Só quando estou sem sua presença eu sinto o torpor me consumir. O dia fica nublado sem se atrever a chover, as nuvens pairam assim como o vento, que deixa o ar abafado. Mais uma vez eu não consigo respirar. Eu estou me transformando, e é dolorido mudar. Mas eu não quero parar, eu não quero! Posso sentir pulsar o meu poder, consigo captar as coisas com muito mais vigor! Sinto o cheiro com o sentimento de uma distância muito maior, eu consigo gravar o de cada um. Vejo o rostos e suas características com muito mais texturas.
     Eu me sinto mais quieto, o calor está me queimando, parece ma transição. A cada abrir dessa porta, cada girar de maçaneta. Hoje é só terça-feira, e tenho medo da semana terminar. Seria mais um final de semana, mais um teste do emocional, dos meus sentimentos e dos meus limites. Você está me testando, sabe das minha vontades e as limita estrategicamente. Minha inspiração já é a saudade da tua presença. Só consigo compor quando não posso te ter.
     E eu quero isso para mim. Vou vencer todos esses testes, trespassar todos esses obstáculos, eu quero provar para você de toda a minha devoção. Pois eu sei que seu consciente não é provável. Mas eu estou entrando pelo seu subconsciente, uma porta da onde ninguém entrou, eu sei que não estou errando. Posso sentir as chances, posso sentir tudo!
     Sinto-me mais forte a cada prova, me sinto cada vez com menos fome. Eu consigo sentir o mundo externo cada vez mais, e sinto o mundo interno flutuar sobre ele. Como uma nova doutrina, uma nova visão, sinto meus olhos cada vez mais limpos. Não de pureza, nem de adrenalina. Mas de uma sensação nova, uma espécie de substância. Só que mais viscosa, mais densa, mais nutritiva. Sinto cada dia mais o poder de uma frenesia.

domingo, 25 de outubro de 2009

Eu, Dora e Dimas


     Me desculpem, perfeccionismo não é minha matéria mais forte. Porem vejo com mais clareza a nitidez. Essa nitidez que ao máximo hoje quero passar em forma de algo que estranhamente acontece. Sempre em temperaturas altas, parece precipitar. Eu não consigo respirar. Sério, leve isso a sério. Não consigo respirar, e as lembranças nos detalhes nas músicas impertinentes que ouço a soar, me fazem queimar o estomago, e os dois rins.
     Era uma tara na minha vida, e quero que sem especificá-la, leve-a a sério! Estava em corpo de Dora, era ela alternativa e mais próxima do gosto de Dimas, o garoto que ela sempre copiava para tentar aproximar de seus assuntos e conversas. Eu não sei explicar mas eu estava no corpo dela, e podia sentir coisas que normalmente eu não poderia sentir. Não que fosse um desejo mas era uma experiência, e isso me assustava.
     Me encontrar com seios, quadril como uma sacola de varejão e ainda disponibilizar de cabelos fartos e lisos era realmente estranho. Ainda mais lisos! Porem os cenários eram peculiares, seus cheiros suas cores e brilhos, reflexos. Faziam meu enjôo de estar em outra historia mais intrigante ainda. Havia a amiga de Dora, que eu ate agora não consigo explicar de onde surgira. Ela era da mesma idade, o que me assustava mais ainda, e se apresentava pelo nome de Jade.
     Jade era excepcionalmente bonita, tinha corpo dourado branco de sua pedra como nome. Ela possuía os olhos verdes pequenos, com o corpo dobrado pela beleza em curvas, chamava a atenção de massas de homens que podiam a idolatrar séculos como diva de alguma coisa popularmente conhecida, algo como artistas, músicas; gosto da nova geração... Estirpes.
     Porem eu, quer dizer, Dora; era mais singela. Delicada e jeitosa, sem desastres como eu em minha vida costumo ser. Dora se olhava no espelho sem ter inveja de si, e de Jade. Dora sabia que sua beleza era avulsa do gosto da mídia, que abraçava Jade em vez dela. E ela gostava disso, se sentia mais conectada ao mundo, ao natural.
     Eu só tive tempo de ver 5 coisas: Eu, meus seios, Jade, Dimas e um beijo. Tudo isso enfurnado nos cenários de minha vida real. Jade me adorava, éramos grandes amigas, e eu podia confiar plenamente nela, apesar de suas indiretas me flertarem um pouco, alias, flertarem Dora. E Dora se sentia muito estranha com essa posição de sua amiga. Jade sabia que Dora era devota do amor não correspondido de Dimas.
     Era realmente uma devoção, mas que passou por mais uma prova de fogo, que a vez no final gostar ainda mais de Dimas. No primeiro ato, era uma sala de manipulação de alimentos. Um lugar onde eu trabalho, nada romântico. Porem o cheiro era ruim, de coraçãozinho e asinha de frango temperado no ar, com varias pitadas e nuvens de água sanitária.
     Dimas não sei porque estava lá dentro, só de pensar em seus olhos envidraçados de sua cor padrão de castanho escuro já deixava-me louco, ou seria Dora? Só sei que sempre gostei do padrão de castanho escuro refletido nos olhos das minhas personagens. Isso tornava mais cativante, mais apaixonante! Dimas estava para me olhar, só de pensar nisso Dora simplesmente esquecia que lá era um lugar para apenas funcionários da empresa podiam entrar.
     La havia uma pia de aço inox, uma espécie de ímã que mantinham as facas e a chaira de açougueiro que deixa o clima frio e bem característico de comércio. Fora da sala, para frente dela, havia um balcão também de inox onde eram expostos as carnes e frios para serem vendidos. E após o balcão havia o resto tudo de bebida em fardos e churrasqueiras, temperos, acessórios. Tudo o que um comércio especializado podia ter, alias é aonde eu trabalho, saberia desenhar o cenário perfeitamente.
     Mas mesmo assim não era nada romântico, era uma lembrança minha. E isso tornava as coisas mais simbólicas do que nunca! Dimas depois de encará-la avançou em dois passos e meio, era o que a distancia da parede da esquerda ate a porta onde Dora se encontrava. Dimas a cumprimentou em silêncio misteriosamente, e veio segurando sua cintura fina, dá-lhe um beijo no rosto.
     Daí o mistério! Dora se guinava desacostumada com o afeto de Dimas, depois de uma luta de desvio de avanços de pescoço e boca, como duas Emas. Dimas sem querer, ou querendo, deu-lhe um beijo no canto esquerdo da boca de Dora. Meu Deus! Eu sabia perfeitamente onde o beijo instalou-se. Eu estava lá! E isso deixou Dora tão tonta que ela quase desconectou-se de mim naquele momento.
     Dora se desnorteou. Me deixou tão aflito que em nosso desmaio mudamos repentinamente de cenário. Todo o lugar recebeu uma chuva de cadeiras de plástico enfileiradas, como se fosse uma platéia, uma palestra estava para começar. Dimas me puxou para a uma das cadeira, e fomos nos sentar nos fundos. Onde era o mesmo lugar, porem recheado de cadeiras.
     Na quebra de cenas Dora agora estava na rua, onde eu moro, perto de um supermercado que se eu fosse descrever, todos os meus amigos já saberiam onde eu estava. Dora estava encostada no portão de uma casa ao fundo desse supermercado. Do lado esquerdo, o portão era verde musgo. E na noite dessa cena, tudo estava mais frio. E ali parecia que um plano iria se cumprir.
     Ela estava um pouco de ressaca, e Jade estava lá logo antes de Dimas aparecer. Aquilo me pareceu um encontro, pós uma conversa particular entre Dimas e Jade. Ali um ritual estava para acontecer, onde Dora era a única vitima, eu estava com receio disso. Jade se aproximou e disse: “Está na hora, essa é a sua chance!” Com aqueles olhos furtivos esverdeados dela, como se não fosse esse o meu combinado, eu a fitei com um certo louvor de agradecê-la, eu esperava Dimas.
     Dimas aparece, nas nuvens e nos lodos carbonizados da rua. Ele me fita com os mesmos olhos terroristas de Jade, eles se entreolham e ela recua os mesmo dois passos e meio, malditos. Dimas se aproxima, sussurra palavras quaisquer, e me fita com o final de receio. Eu fecho os olhos na confiança de um outro cumprimento daqueles, mas logo sem esperar sinto o beijo.
     Era perfeito, eu comecei com a língua resguardada em minha boca, como sempre faço na verdade. Daí o espírito de Dora entrou dentro de mim, ou eu dentro dela? Ela soltava a boca aos poucos, do rígido ao mole. Descontraindo, pude sentir a língua avulsa como carne nas paredes da minha boca. Alinhamos no ritmo perfeito: Eu, Dimas e Dora. Era um beijo triplo, e ninguém poderia fazer tal como qual. Eram dois corpos no mesmo espaço beijando o terceiro como escravo. Desafiamos as leis da Física!
     Quando abri Dora abriu os olhos, tudo veio a desfalecer. Era Jade em que eu beijara, ela agora estava me olhando tonta, e com um prazer vilã nos olhos. Eu mal pude acreditar, estava beijando minha melhor amiga, alias, a melhor amiga de Dora! Eu como eu mesmo deveria estar feliz, ela era uma modelo e tanta! Mas eu só pude ter nojo. Nojo por Jade, pela Dora, fúria por Dimas!
     Vaguei em apogeu a rua escura, o procurando e afastando Jade dos meus braços, eu agora queria matar duas pessoas. Duas personalidades levam um corpo a duas sentenças! Eu o encontrei já dobrando a esquina, corri atrás dele fugindo dos gritos lésbicos de Jade. Ela que se dane! Dimas com sorte pegou um ônibus na travessia, atravessei a faixa, e adentrei com pisar forte nas escadas de alumínio do ônibus publico.
     E ignorando o trocador e o motorista, junto a poucos passageiros eu e Dora gritávamos: “Dimas! Como pode?” Vi o sangue subir no meu rosto, eu estava frenético, e queria agora era mesmo limpar minha boca na dele. Ele me olhou com olhos de brincadeira, como eu gostava daqueles olhos, mas ele não se importava. Ele achou muito natural aquilo, ter me trocado. Eu me senti golpeado, Dora estava em cacos.
     Após Dora ter percebido tal devaneia ela tornou a virar, meia volta, pós de ali fora do veiculo deixando todos em duvida e Dimas em cautela. Eu tinha certeza que ele não iria mais a procurar, vadio! Agora a cada balançar de meus passos juntos no de Dora pela rua escura, deslocava um centímetro de raio, do meu corpo com o de Dora. Estávamos chocados! Porem eu estava mais conformado, queria ajudar Dora na transferência de sentimentos. Mas Dora não estava muito assim.
     Eu podia ouvir seus pensamentos, ela estava muito depressiva, e queria praticar um suicídio. Ela já não queria mais voltar para casa, nem para vida, nem para nada. Eu tentava falar com ela, mas tudo aquilo parecia um filme. Eu não podia dar minha opinião, só podia sentir as sensações. Lembrei-me, em quanto Dora enlouquecia, do beijo de Dimas até eu que não aprovei muito me senti curtido, foi bom e quase me fez apaixonar pelo personagem. Eu já estava criticando a historia, odiando Jade, querendo humilhá-la no próximo dia.
     Mas eu não sabia se teria próximos dias, Dora estava nos passos me deixando sair do corpo dela. Eu sentia os centímetros de atraso meu e dela aumentarem. Eu no de lei passei com Dora, cruzando a rua onde Jade ainda estava encostada no portão. Ela estava sorrindo em êxito ao estrago que fizera. Mas pude ver Dora em seu corpo a frente não a notar a felicidade de Jade. Dora estava em ritmo, e não poderia eu freia-la.
     Todos os cenários agora escureciam, eu estava voltando ao que digo ser realidade, eu estava me despedindo de Dora. E ela não me dava atenção, Dora iria finalizar sua peça naquele ato. Ao abrir os olhos e ganhando consciência, só pude ouvir seus passos, ainda em ritmos. Ela pusera todo o sentimento naquela noite, e agora estava retribuindo com a sua vida. Quando me levantei, pude ouvir estalos de suicídio físico. Eu estava vivendo, e Dora, já estava morta.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Teste Drive



     Estava eu em minha cozinha, como sempre, numa tarde vazia e quente tomando café. Quando me veio as seguintes duvidas de existência:
     "Quem nunca se imaginou em outra situação? Em outra vida? Em outro lugar!?"
     Então eu travo. Deixo minha xícara na mesa com o café bem quente, pelo imenso tempo desses seguintes minutos, no qual começo a refletir.
     Esse poder de escolha, que poderia acontecer hoje, agora em minha consciência, no mundo “globalizado” e “dinâmico”, seria uma das maiores obsessões do homem. O poder de ser ou estar em outro lugar. A troca de corpos. Quem nunca pensou em ser o outro? Em estar em outro lugar, outro pais, com outra cultura? Falando outra língua, comendo outras comidas, conhecendo outras pessoas? Até oscilando entre a sua vida e a de outras!? só para testar qual é a melhor!
     Quem dera se pudéssemos fazer isso, testar a vida antes de vivê-la! Seria uma sensação incrível, mas deveríamos lembrar desse teste depois que escolhermos a tal vida, em tal situação. Saber aonde estamos, por que estamos, com quem queremos estar. Seria realmente uma dádiva! Um luxo, de poder simplesmente apontar para o país que quisesse e escolher em qual morada viver.
     Se bem, que poderia acontecer certos “desequilíbrios”, certas nações (que não quero citar) estariam despovoadas. Outras superlotadas, lugares não seriam mais turísticos. Lugares não seriam mais explorados, culturas iriam se misturar. Talvez até um certo “caos” aconteceriam. Mas lógico que só se esse sistema fosse aplicado agora, nesse exato momento.
    Mas pense. Aonde você queria estar? Por quê? E talvez, com quem? A vida teria mesmo grassa?
    Só de pensar, me sinto feliz e triste. De um dia imaginar coisas tão divinamente próxima e distante. Um antagonismo só, ficar querendo ter desejos, realizar modos, e abandonar destinos. O que é o destino? Quando ele mesmo mantém pessoas enfurnadas a décadas em uma cidade, até mesmo na mesma casa. E ao mesmo tempo muda personagens de lugares, tornando seu ator um nômade, quase um espião onde ele tem que se mover entre os lugares com determinadas roupas, estilos, e cabelos.
    Pensar em poder estar, em qual barriga, em qual família. Às vezes quero estar na minha, às vezes nas de meus colegas. Mas o que mais me deixa deslumbrado, é como seria se hoje eu pudesse voltar lá pra sacola da cegonha, e pedir para ela me levar para aonde eu quisesse e com quem eu quisesse. Seria perfeito, mas me limito a pensar que se escolhêssemos tal opção, não poderíamos ser criança, no inicio da vida.
    Teríamos que ter o cuidado de ter uma personalidade, teríamos que ter gostos, orientações e caráter. Teríamos que ser adultos, para podermos escolher com quem quiséssemos viver. Daí, já não seria mais nós mesmos. Não seria você, nem eu. E ai teria outro sentido, seria outro mundo. Seria uma fábula, na qual não permito e não gosto de me entregar.
    Somos ou fomos crianças um dia justamente para formar o que seremos ou somos hoje. Estamos sempre puros no inicio, mas nunca completos no final. E isso que me limita a ser o que sou, a agüentar quem eu tenho que agüentar. A viver a nação que eu tenho que viver. Não precisando amar nada do que sou nem do que tento, mas apenas aceitando de onde eu vim. E seu eu quisesse mudar, mudaria em processos. Sairia daqui, para ser feliz em outro lugar. E transformaria a minha vida em outra, sem cortes de etapas, sem negligências.
    Volto à minha pupila escura e seca pelo longo tempo que a deixei aberta nos pensamento que executei, vejo o quanto o sol já desceu. Percebo o meu transe, discordo com tudo o que eu estive imaginado. Como não seria vantajoso, como seria tudo mais frio, o mundo, o humano. Noto que abandonei meu café, o agarro com as duas mãos carinhosamente, dou um longo e desfavorecido gole. Faço uma careta e percebo o estado da sua temperatura atual com o gosto deixado, e digo: “Como tudo realmente seria mais frio...”

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O Aflar de Mel

     Tudo sempre parecia descer e subir para ela. Como se fosse uma enxaqueca fixa a cada vez que ela tentava entrar nas comportas do seu ser, Mel era assim, não entendia os fatos. E isso a tornava cada vez mais distante, como se ela não pudesse prever o que estaria para acontecer em qualquer situação, não era inconseqüência, era desleixo. Seu sensor vital estava quebrado. Mel tentava aflar as expressões para fora, como quem nunca tivesse apreendido a ser gesticulada. Ela parecia um animal, que se expressava pelos gruídos ao contrario de simplesmente mover os músculos, as sobrancelhas.
      Seus olhos refletiam o medo das pessoas, eles eram poderosos, e imóveis em relação ao que sentira, Mel tinha apenas o domínio da intensidade. E isso deixava seus interlocutores loucos. Ela não sabia, apesar de seus dotes, o que as pessoas pensavam dela. Ela sempre via os olhos em pares como se fossem estátuas, mal sabia o que eles tinham em objetivo com ela. Assim ela ia abandonando os pretendentes, os amigos, os convites, os empregos. Mel podia mudar de personalidade como o gelo podia transformar em água, e isso a deixava a par do que acontecia com ela.
      Ela sabia que isso a machucava, ter que fingir o que não é para varias pessoas. Mel estava mudando, e não eram só os hormônios, havia um coração a palpitar. Um coração que mudava de acordo com os olhos, de acordo com o clima. Haviam energias vindas vibradas do céu, e às vezes haviam projéteis disparados do mesmo céu contra seu rosto. Ela não podia evitar, ela era assim, um espelho de seda contra uma muralha de espinhos que era a realidade.
      Pois assim, não vou poder terminar essa historia. Não por falta de inspiração, ou até mesmo por preguiça ou querer dar impacto ao texto. Mas a historia não sei ao certo. Mel estava parada diante da janela, e eu posso sentir que ela está desistindo de entender as pessoas. Sinto que ela está debruçada sobre os sonhos, e que tudo a confunde, quando ela mesma deveria a ajudá-la. Mel não está ao certo morrendo, ela esta parecendo dormir. Sobre a brisa que curva a chuva para dentro do seu quarto, e a obriga a pensar: Será que ela nunca vai encontrar? Será que no seu casulo, apenas seu mel vai estar?
      Mel estava arrependida. Mel precisava arriscar... Amar.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Poder

    
      Quem nunca quis ter um dia, geralmente na infância, um poder qualquer. Para fazer o que quiser, que pode-se ter até certos limites. Mas ter o poder em si, para ser diferente, para ter vantagens, para poder ter um pouco de atenção sobre um certo tipo de tempo em que as pessoas que o te vissem ficassem surpresas para depois admirar o que você a demonstrou. Bom todos na verdade já passaram por isso, por mais que não pareça, só de ter contato com o cinema fictício, você já torna essa pessoa fictícia.
      Querer sair voando pela janela, de atravessar objetos e paredes, de quebrar e torcer facilmente objetos e paredes, de ser imortal! Quem nunca quis ser imortal!? Para simular um assalto, e poder tomar tiros pela menina para ela se apaixonar por você! Para que todos vejam e digam: “-Nossa ele é imortal” e outros complementem “-Nossa que gato!”. É sempre assim, temos crises, e normalmente e após ver um filme no cinema com os amigos. Sempre da essa vontade de sair pelas paredes correndo, imaginando inimigos que acabamos de cruzar os olhos e começamos a dilacerá-los!
      Porem, eu acredito, que toda essa vontade de fazer coisas imagináveis vem de um poder que já temos concebido: Os sentimentos. Sim alguém; e não se sabe se é o Dr. Deus ou Dr. Evolução, adicionou essa maldita dose de sentimento. Que não passa de um receptor e comunicador de freqüências que as programamos e gravamos seus nomes em diferentes pontos como: o ciúmes, a raiva, a alegria, a tristeza dentre outros. Todos eles são variações que nos fazem ter essa vontade de ser sempre mais, e ter sempre mais. E ai nós necessitamos de ser o que nenhum humano é, o que nenhum pode fazer. Ou o que todos fazem só que o seu com características diferentes.
      E assim são também os sentimentos, nós sentimos diferente, temos variações diferentes em cada “freqüência” sentimental nossa, e isso nos torna diferentes um dos outros. Alem das diferenças físicas, que cá entre nós, o ser humano já descartou a muito tempo como ponto diferencial e já o pôs no plano ou subjuntivo (para os que aderem a abstinência) e o sexual (para aqueles que praticam obviamente o sexo).
      Mesmo assim, sempre querendo mais, vamos descobrindo ao passar da adolescência e da fase adulta, que (alem de não poder ter poderes, lógico) existem coisas, que movem as pessoas de uma forma oculta e as torna poderosas e fracas. Que existe uma coisa que não revelamos por medo, ou por vergonha, e que não nem sempre precisa ser escondida. Uma coisa que nem sempre podemos controlá-la, o que a deixa mais poderosa ainda, e que torna nossos vilões nocivos a ela ou não. Temos o que nos faz entregar aos outros, temos aquilo que nos faz confiar nos outros, temos mais do que poderes, temos sentimentos. E isso nos torna, poderosos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Doutrina de todo Humano


     Em habitat noturno, ela quase é invisível. Já de cara és a mais alta, na noite selvagem, nos olhos infravermelhos. Qual seria tal animal, qual seria tal pupila. Que enxergaria sem teu brilho.
     Ela nem fala, mais sua presença marca várias opiniões. Cada faze é uma delas, delas sempre chegam a um vão.
     Ela parece pura, talvez seja, nunca pesquisei sua trajetória. Em sua empresa ela é o máximo, quase ninguém pode ser do teu tamanho. Pelo menos no nosso caso, a vejo por esse estado.
     Ela possui varias dimensões, quase nunca de outra cor. Não possui cheiro, gosto, nem ruí sons. Mas meche com qualquer visão.
     Nossos olhos nela dilata, mas não dilata como os demais, e nem demais. Ela não queima nossos olhos, igual certos seres celestiais.
     Ela é um ser feminino, ela não é humana. Ela é a mais ousada, ela não precisa de cama, porem no ar é a mais profana.
     Sempre que brinca com uma bola de fogo, ela quer queimar em seu posto. Parece as vezes querer se bronzear, mais acaba a nos assustar.
     Ela tampa a nossa luz, por poucos segundos, e suficiente para deixarmos sem palavras.
     Quase posso tocá-la a noite, em certas vezes permite a aparição ao dia. Parece nunca querer se separar de nós. Parece não ter mais outra paixão na vida.
     Eu podia uma dia até visitá-la, mas a passagem do ônibus é muito cara. Quase um dia por ti morri, quando ao seu deparo me distrai.
     Todos nos a admiramos, quase sempre por ti erramos. Já alguns até matamos, por ti profetizamos.
     De ti já ouvi vários nomes, quase todos os mesmos que de ti chamo. Os mais sábios em latim te chamam de Luna. Eu, porem o mais tolo, te chamo de Lua.
    

sábado, 17 de outubro de 2009

Contemporaneidade


     -Venhamos e convenhamos, esse negócio de amor é muito esquisito não é? – ela introduziu o assunto durante aquela tarde tediosa.
     -Uai, por quê? – ele quis entender do que se tratava.
     -Não sei acho feio de mais, como as pessoas ficam ridículas ao amarem.
     -Você acha?
     -Acho! Alem do mais, me irrita! – ela firmava os braços e mostrava as presas - Elas ficam exibindo isso, como se fosse produto de um conhecimento, de uma intimidade entre os amantes durante muito tempo.
     -Mas as vezes vem de muito tempo...
     -Não creio... – ela pensou um pouco, colocando a mão apoiada ao queixo - É como se fosse algo publicável, como se as pessoas estivessem fazendo uma imagem forte daquele amor que talvez nem seja tão vivo, talvez nem seja amor.
     -É, isso pode acontecer, mais isso varia de pessoa pra pessoa. – ele tentou finalizar.

     Pouco tempo depois ela voltava ao assunto, como se estivesse querendo saber mais.
    -Isso que eu estava dizendo, acontece mais com pessoas da nossa idade.
     Ele então parou de ler o seu livro, e voltou a pensar sobre o caso.
    -Tipo com quem? Adolescentes?
    -É, tipo sei lá, temos tão pouco de experiência com o amor, e quando achamos um pensamos ser “O Amor”!
    Ele soltou uma gargalhada e quis intimidar.
    -Sério? Senhora Adulta!?
    Ela o encarou com desprezo superior.
   -Sério! Bebê... Você que não ama! Porque se estivesse amando, seria insuportável nossa discussão.
   -Certo, então pra mim já está impossível. – ele olhou para o livro, disfarçadamente.
   Ela mal ouvira direito o que ele disse, porem parou olhou para o ar. Voltou a pensar, abriu os olhos atentos, voltou a encará-lo com espanto e perguntou:
   -Você está amando?
   -...
   Ela mal pode acreditar.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O Abismo que é: Pensar e Sentir


      Los Hermanos bem que tentou me avisar, o quanto isso seria difícil. As distrações, os olhares furtivos. Qualquer plano, e qualquer espaço era motivo para ações como essas. Ações que tornam meu cérebro e coração cada vez mais distantes, cada vez mais distintos, cada vez mais... específicos. O endurecer de cada pálpebra, parece sal a arder em quem não conhece ou não consegue distinguir. Para quem é inexperiente... Você sabe do que eu estou citando: Pensar e Sentir, o que são e qual a distancia de um para o outro. Em qual você pode entrar... aonde vai acabar saindo. Quando tomado um caminho, sabe-se lá se poderei voltar. Só me sinto bem, em quanto não tomou nenhuma decisão... Pensar e Sentir... O quanto poderíamos estar nessa ocasião. Quando encontramos alguém, um novo alguém, ao toque de um só olhar, e vem ligeira a duvida: Pensar ou Sentir?
      Sentir: O mais ágil, e o mais difícil. Quando se sente se põem em risco uma saúde inteira, ou nos exageros uma vida inteira! Quem se submete a sentir primeiro, e leva isso como um estilo de vida está sempre se machucando, está sempre querendo pular do pé de alface, está sempre disposto a causar terrorismo. Sentir é uma das ações mais complexas, varia gosto, varia criação, varia causa, varia lugar. É uma das coisas mais enigmáticas, quem sente se sente preso a se sentir em um precipício, e volta a sentir essa sensação outra vez, quando percebe que sente algo. Sentir é como uma tempestade: Toca, demonstra, destrói, rouba e constrói de novo.
      Pensar: O mais demorado, porem o mais confortável. Pensar exige primeiro a habilidade do ser de afastar o sentimento que possa estar vindo naquela freqüência. E ai só então ele começa a pensar, é bem mais demorado. Pensar exige detalhes, rigor, frieza e cálculos. Agir só por pensar e quase uma dádiva hoje. Porem e quase uma atrofia humana. O dispor de se parecer uma maquina, assusta a maioria dos telespectadores, dos interlocutores propriamente. Ao se deparar num ser excentricamente pensante não se acha em qualquer esquina, e nem em todo lugar agradável.
      A balança disso tudo esta no ciclo entre os dois: A maioria dos pensantes já sentiram, poderiam até ter sentido profundamente demais, se arrependeram e se envolvem em uma capa de intelectualidade assustadora. A maioria dos sentimentais já andaram pensando demais, selecionando de mais o que os tornou carentes a volta de uma loucura. Agora por onde começar nunca se pode pensar, pois se pensar assim, já vai estar pensando. Pode-se saber que você está no meio de um dos dois processos: pensando ou sentindo. Uma coisa eu tenho certeza, entre pensar e sentir existe sim um abismo, e uma viajem bem longa; Onde todos os humanos estão dispostos a seguir. Somos todos nômades, e estamos sempre de lá prá cá de cá prá lá, pensando e sentindo. Esperando sempre o amor e a dor nos levar. O amor por pensar, o amor por sentir.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Inspiração


      Ela adorava acordar com seu marido roncando, isso tornava ela tão bem... Tão viva! Ela quase podia dançar de manha, quando seu sonho desfalecido não passara de uma noite com um radio tocando uma orquestra sinfônica muito chiada do seu lado. Ela parecia tão feliz no trabalho: “Nossa! O que aconteceu com você Marisa!? Parece que caiu uma bigorna na sua cabeça e você ainda não se recuperou?!” E ela respondia naquele sorriso mais amarelo do que tampa de privada: “Eu estou ótima! É uma nova dieta que eu to fazendo... inclui esforços físicos, resistência, e muita paciência com pessoas intrometidas! Quase uma religião...”
      Marisa trabalhava na faculdade de música da sua cidade, uma das mais citadas do estado, ela era regente, professora e compositora. Estava preste a fechar um projeto que fora interrompido por estafa. Marisa nunca fora de ser muito controlada, não tomava remédio por se sentir jovem de mais para isso. Já pensou em dormir na sala, em isolar acusticamente o quarto, em morar no visinho que estava alugando o apartamento. Estava ficando fina e delicada a situação de Marisa e Pedro, seu jovem noivo – jovem pois haviam só 3 anos de casamento.
      Pedro era administrador e tinha alguns probleminhas no nariz que realmente não era do interesse de Marisa. Ela só queria dormir o sonho dos anjos, mas toda vez que pousava sua cabeça no travesseiro parecia uma construção a poucos centímetros dela, uma banda de musica africana, uma daquelas de só percussão. Marisa já havia comprado pelos programas da televisão, muitos artigos e quinquilharias para abafar os ruídos do amado ao lado, durante o período noturno. Marisa já havia desistido.
      Seu projeto de criação musical estava um fracasso, Marisa não tinha inspiração e sua cabeça latejava toda vez em que pensava em compor. Os graves do violoncelo pareciam cobras najas envenenadas mordendo seu pescoço, a envenenando a cada deslizar nas cordas. Marisa precisava de ajuda, e não sabia a quem aderir, quando o seu superior, amigo e conselheiro a alertou: “Marisa, precisamos terminar o projeto! O tempo de inscrição esta terminando e você não vai concluí-lo!” Mas Marisa estava um caco e só respondia: “Esta tudo sobre controle Eduardo, estou quase com todos os papeis e partituras prontas... Só que...” Então Marisa desabava todos os seus problemas para seu superior Eduardo.
      Até que Eduardo com dó e meio sem idéias a aconselhou a compor durante as noites em que seu marido roncava. Marisa estranhou a idéia e quis saber qual era o nexo disso. Eduardo então disse, para fazer tal composição em nivelamento de tom e ritmo semelhante as baforadas do marido. Talvez viesse alguma idéia, alguma obra ate bonita vinda de tal maneira natural das coisas... uma inspiração! Marisa na noite seguinte resolveu aderir.
      Ela começou a revirar partituras, marcar os ritmos e escrever os altos e baixos de cada solfejo de Pedro, como se fosse o apogeu de cada musica, cada respirar era como uma calmaria na musica de Marisa. Até que passar de uma semana de coleta de informações “roncais” ela entregou o trabalho para Eduardo. Que juntos começaram a adaptar a obra, e organizá-la para a apresentação.
      No dia do festival em que Marisa apresentaria seu projeto, ela estava como sempre atordoada e casada, porem havia na platéia o apoio do marido e no camarim de Eduardo sempre eufórico. Ela assim tocou na sua vez, fez jus o que tinha composto e depois da aplicação de toda a obra ela esperava agonizada pelo manifesto da platéia. Mal havia percebido tamanha emoção que havia arrancado da platéia, estavam todos pasmos com tanto talento, tanta astucia, tanto dispor sobre o violoncelo.
      Assim no final do festival, uma mulher que havia presenciado as músicas pela platéia foi falar com Marisa de tão eufórica e emocionada ela estivera aquela noite. Se aproximou de Marisa e disse: “Esplendido!!! Perfeito, tamanha destreza, leveza e fúria a sua música parecia! Marisa querida, de onde tirou tamanha inspiração para tocar algo tão fabuloso?” Ela ríspida e direta, morrendo de sono, e achando a situação engraçada respondeu: “Se você tivesse tamanha inspiração como tenho, aposto que nem dormiria direito!” Então afobada e feliz sua ouvinte a disse: “Nossa como eu queria ter um dom desse, você bem que podia me emprestá-lo?!” Marisa pegou um pedaço de papel e uma caneta e respondeu: “Claro! Vá para a Rua Hutinhopolis, numero 87 apartamento 201, que empresto sem tempo de devolução!” E Marisa saiu sem deixar sua ouvinte entender nada e foi tentar dormir mais uma noite.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Aliança de Pano


     “Quero acordar amanhã, para dormir o ontem”, seus pensamentos não fugiam disso. E disso, fugir era impertinência, e o sexo não prendia ele ao que realmente queria exprimir. João era assim, sempre um nome qualquer, mais de uma variação difusa que mantinha seus pensamentos ligados a 220 volts sempre que conversava com alguém. Era quase um criminoso, seus olhos vagos, densos, e quase sem cor; captava o que poderia ser apenas um cisco, um detalhe. E isso o tornava repreendido, porem quase o deixava louco.
      Sua perspicácia o tornava súbito de traços, ele precisava de riscar, marcar toda e qualquer superfície que fosse lisa; e de cor diferente ao teu traço. Ninguém nunca o entendeu, sua filosofia de arte, suas análises. Ele era quase uma estalactite, pronta no suor do seu pingo ser aquilo que deseja, ser mais, tornar sempre; e sem querer cair de ponta ao chão. Isso era o que eu podia ver dele, sempre querendo detalhes, querendo se encontrar.
      Lutava tanto para isso, que eu como todos os outros que o viam, tinham que massagear seus egos para agüentá-lo, ele sempre queria ver, estar, transformar tudo em reflexo dele mesmo, em seus próprios assuntos. Era insuportável, impertinente, mais era ele. E tínhamos que agüentar. Se eu soubesse de tudo disso, teria evitado, sei lá! Talvez colocado um apelido, alguma coisa que amortecesse.
      Um dia pude ver como era o desgosto, planejar planos, para ser implantáveis. Eu o via equipado de seus acessórios, e dentre eles um chamou minha atenção. Era diferente, de pano, e mexia com meus neurônios; como os raios que mexem bruscamente com as árvores. Perguntei para um amigo meu psicólogo o que poderia ser, o que poderia significar. Aquele desejo de imagem, de capturar, de congelar; que movia o desejo de João.
      Esse meu amigo me respondeu simples e tranquilamente como se fosse seu primeiro livro de estudo da faculdade. E sua caderneta durante aquela seção pudesse confirmar tudo aquilo que eu e João estávamos passando. O que estava em seu corpo, era um elo, uma aliança de pano que ligava ele a mais alguém, e isso trousse a minha fúria
     Como ele pode me trair? Como ele pode me ocultar? Era o meu papel, e estava explícito, não tinha o porque dele não ter se aberto comigo e ter me contado. Ele me frustrou e feriu meus sentimentos. João era oculto como uma sombra, minha lanterna sobre ele só me fez focar naquela imagem que eu mesmo criei. E eu o perdi; perdi tudo aquilo que pude construir com ele. Eu o amava! E planejei dês do início toda a nossa vida, que ele... Ele jogou no lixo! Eu o amava... Eu o... Amava. João... João era meu filho!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Desistir


      Eu desisto. A perfeição se contempla em só duas palavras, o afogamento dessas palavras em todos os sentidos. E para mim está em um dos melhores sentidos, o sentido de desistir. O ato mais nobre, mais desvanecido, mais delicado. O ato de largar de algo, deixá-lo de fenestrar, bem devagar. Como uma taça de cristal, um toque de alma, um toque. O toque que não tivemos. O que tornou aquilo impossível, o toque que eu queria dar, e você nunca deixou.
      Melhor do que ouvir musica clássica, melhor do que se alisar nas cordas de qualquer instrumento, o ato de abrir a mão, sendo ela o ato perfeito em si própria de segurar. Segurar a tua mão pelo tempo que pude segurar, hoje você a soltou de mim. Isso troca o porque, pelo óbvio. As incógnitas que eu nunca quis por, hoje me forçam a perguntar. Por que? E quanto mais se perde, mais quero não querer saber. E isso que traz a minha glória, a glória de não querer saber da sua existência, e querer esquecer.
      Tudo a partir de agora não terá mais nexo. Nada terá mais ordem, eu não vou ter ordem. Nada mais vai fazer sentido, tudo será misto. Assim como a suas malicias e seu egocentrismo fez com o que eu me apoiava, meu apoio vai se apoiar na ponta de qualquer faca. De qualquer estirpe. Um lugar tão perigoso onde não possa ir, e isso vai ser bom. Vai ser bom pra você, muito bom. E melhor ainda para mim!
      Nunca fui assim e não apoio que sejas também, nunca tive medo, e você é o que mais tem. Isso não me deixou de pensar, mas pude evitar até agora, até esse atestado. Até eu escrever esse laudo, até eu escrever esse contrato, até eu assinalo. Fique com sua redenção e seu poder incrível de definir o futuro das pessoas, fique com esse seu prazer mórbido de ter criado tudo o que estou vivendo hoje. E agora mexe em tudo como se fossemos peças do seu jogo. Não é ódio meu, só que você é o mais esperto, você é o centro daquilo que é para você mesmo.
      E isso me torna profano, me torna sagaz. Isso traz o do meu olhar a arma mais perfeita para suas barreiras angelicais. Isso traz de mim um simples mortal para suas escolhas invencíveis. Oh! Ser mais invencível, tu és indestrutível. E isso traz o meu humor a tua pior dor. Você tão observador e pensativo, seleciona cada passo, e não sabe interpretar meu drama. Eu quero usar do meu teatro até a ultima cena só para te confundir, quero usar esse poder para te definhar. Eu quero usar a dádiva do caos do Demo para que seu amor eterno por si mesmo torne os seus atos em fúria! Quero ver do que é capaz. Quero ver até onde será frio, e se permanecera neste teu trono. Oh! Ser Indestrutível... Oh! Glorioso DEUS!!!

domingo, 11 de outubro de 2009

O despertar de Estele


        Estele era uma jovem determinada, apesar de não ter muitos objetivos, o que tornava sua vida simples e sem grandes saltos. O maior ponto fraco na vida de Estele era sua rotina, inquebrável! Ela não conseguia fazer nada diferente, tudo que colocava estava sempre no mesmo lugar, na mesma posição. Tinha vez que pensava estar tendo um déjà vu quando um dia pós a mesa do café perfeitamente igual ao dia anterior. E sempre pensava que tudo o que repetira tinha séculos de ter tido acontecido. E era na verdade sempre o ocorrido do dia anterior.
        Morava em um apartamento, o que deixava as coisas mais rotineiras. E ainda era super-apertado, tendo todos os poucos moveis muito juntos, o que tornava os movimentos mais rotineiros ainda. Sempre ela levantava, colocava o café para ferver, juntava o lixo, tinha coragem de colocá-lo lá fora com aquele seu embaraçado cabelo longo matinal, lavava o rosto, penteava os cabelos, passava o café, pegava o jornal, tomava o café, tomava banho, e ia direto pro trabalho.
        Até quando saia de casa, Estele estacionava na mesma vaga do seu condomínio. Os vizinhos já haviam acostumado com a cor do seu carro. Ela sempre entrava no carro pelo acompanhante, pois a porta do seu fusca bonina não abria do lado direito por estar bloqueada pela arvore que ficava ao lado de sua vaga. E ela ligava o carro, sempre dês-engrenado com o pé na embreagem. Reclamava da arvore com o porteiro, seguido de um bom dia, e seguia para o trabalho.
        Estele era jornalista, era investigadora criminal da redação, o que tornava a rotina e os cafés mais fortes ainda. Ela estava sempre muito ocupada, falava sempre as mesmas coisas com seus colegas, e seus colegas sempre comentavam nulamente com ela suas férias adiadas, e ela sempre respondia a mesma coisa: “Estou muito jovem para tirar férias”, e eles sempre retrucavam: “Não precisa ser velha para se tirar férias”. E como sua língua não agüentava ela finalizava: “Mas precisa ser velha para ter juntado todo o dinheiro, e tirar férias descentes no Egito.”, e todo mundo pensava sem responder: “Egito?!”
        Ela realmente não era muito bem dotada de criatividade e desejos comuns. Mas uma vez Estele recebeu um conselho do seu chefe na redação que fora praticamente uma ordem: “Estele se você não quer tirar férias, tudo bem. Mas eu exijo que faça algo diferente, algo como um hobby, para que você saia dessa rotina.”. E Estele perguntava: “Hobby está no meu contrato, Sr?”, e seu chefe vermelho retrucava: “A partir de hoje está!”.
        Assim Estele teve de ficar em casa até encontrar o maldito Hobby: “Meu Deus aonde deve estar esse Hobby maldito?”. Ela rondara o apartamento todo, o que não era muito difícil, revirava livros de estudos da faculdade, tomava mais café ainda, até um livro de receitas tentou arriscar, mais ainda não era um Hobby. Até que havia cansado, ela agora estava na sala, com sua única televisão, que não gostava de deixar no quarto para não interromper o sono das noites que durante sua rotina noturna eram sempre mal dormidas.
        Jogada no sofá, vestida com o pijama do Mickey Mouse, ela movia só os olhos em torno da sala para encontrar o maldito Hobby que agora era considerado o tédio para suas tardes. Até que com a cabeça virada a ponto de ter um torcicolo, e com os olhos quase cerrando com o sono que vinha, Estele cruzou os olhos sobre aquele móvel rústico, que havia herdado da mãe e que ela usava como criado mudo, onde sempre pusera as chaves, a câmera, o gravador e o celular.
        Era um piano de armário, lindo todo trabalhado e esculpido a mão, suas teclas estavam amareladas, e o tecido que forrava as teclas para proteger já estava branco de tanta poeira. Estele se lembrou do seu desejo de tocar as composições de Bach no piano, quando sua mãe apreendera com seu pai, quando Estele ainda era criança. Ela associou o piano com um amigo de trabalho, que tocava muito bem, e levava a musica como um Hobby. Estele havia encontrado o Hobby.
        No dia seguinte Estele correu para a redação logo de manha para encontrar esse seu colega, seu nome era Pablo e era muito bem conhecido pelos colegas no trabalho. Pablo era um dos amigos de Estele que a lembrava de suas férias empurrada, e que não entendia como alguém tão jovem podia ser tão “quadrado”. Logo que Estele o convidou para ajudá-la a criar um Hobby pelo piano, Pablo aceitou. Eles combinaram de estudar musica juntos a noite nas terças e quintas da semana, logo depois do expediente.
        Estele estava muito animada e arrastou Pablo ate a sala do chefe, que era o editor da redação. E interrompendo a reunião de publicação da tarde, Estele disse logo que entrou, após ter atropelado a secretaria do editor: “Achei um Hobby Sr. William!”.
       William, o pensador: carinhosamente chamado pelos jornalista subordinados a ele, pois ele sempre pensava demais antes de publicar as noticias, o que deixava seus colegas frustrados e nervosos; deu um pulo e um grito subitamente suspeito: “Estele! Nossa, que susto! O que seria seu Hobby?” ela respondera “Aulas de piano!”. William fitou Pablo de uma forma muito intima, e parabenizou Estele por ter conseguido um Hobby que a daria êxito, ela só não sabia o quê.
       Logo Estele começou, Pablo teve que afinar o piano, teve alguns problemas de manuseio más logo já estavam aprendendo as notas na escala do meio. Estele nunca tivera dificuldade para apreender, sempre muito aplicada e rotineira, pegava fácil com repetição as lições da apostila que Pablo preparara com carinho para sua companheira. Pablo com o tempo fora percebendo os vícios de Estele, e gostando disso nela, a convidava certos finais de semana para sair na tentativa de quebrar esse ciclo de Estele. Mas nem sempre dava certo.
       Até que os dois se aproximaram de uma maneira muito simétrica, já estavam trocando segredos, duvidas, estratos bancários, óculos de leitura e ate o controle remoto da televisão que um sempre carregava sem querer para a casa do outro. Tornaram-se uma coisa alem de qualquer definição, tudo era mais alegre e descontraído. Tudo era muito mais desapegado, até que sempre Pablo a fitava de um jeito só dele, um jeito jornalístico e psicólogo que a queimava por dentro, e ela não sabia o que era, só não se sentia mal por isso.
       Uma noite, no relaxamento dos dois, Estele estava sentada colada em Pablo, no mini-banco do piano de sua mãe. A janela estava aberta e era noite de quinta-feira, o vento frio batia dentro da sala onde das duas luzes amarelas uma havia queimado, o que deixava a partitura bem difícil de se ler, e o hálito dos dois sobre ela bem mais próximo. Estele estava palpitando de sono, e Pablo já vendo isso palpitava de uma mistura de dó e sentimento.
       Quando ela mal conseguia frisar os dedos nas teclas, e já suspirava de sono e frio, Pablo segurou sua mão sobre as teclas de um jeito delicado e a olhou nos olhos. Suas blusas de moletom já paralelas braço a braço, esquentaram esse olhar entre os dois que fora de duvida e decisão. Com a outra mão Pablo tirava seus óculos quando um vento suave e indecifrável bateu nos cabelos de Estele, que lavados no mesmo dia, fez-se de seu cheiro uma provocação para Pablo o tornando quase vulnerável a um desmaio, ele não sabia o que sentia.
       Esperavam um, dois minutos em olhos cruzados. Um desafio para os dois jovens que mal sabiam a sensação que estavam a ser submetidos. Eles estavam já com calor e com os estômagos contraídos, quando a pouca luz fez um aproximar do outro para realmente os olhos de ambos refletirem o que eles queriam saber. Estele sempre em sua rotina, adormecia seu corpo perto de Pablo, quando seu coração já estava dormindo desde muito tempo, por não encontrar ninguém. Pablo sempre tímido, estava sempre a um ponto de tudo para um ponto de nada, e nunca conseguia entender essas suas reações de quem ele confiava e tinha-o por perto.
       Dez horas da noite, Estele já estava desabando sobre o peito de Pablo como se estivesse recém dopada por algum calmante de seringa, quando Pablo ao ver o dispor de Estele, a segurou firmemente para que ela realmente não desabasse sobre o tapete. Quando ela já estava com o corpo firme mas com a cabeça quase batendo na partitura sobre o piano, Pablo tentou segura-la com o seu rosto mas o dela estava reto ao dele. Estele e Pablo inocentemente se beijaram.
       Estele sentiu aquele pedaço de pele labial sobre os seus lábios, como frutas recém colhidas nos jardins mais úmidos a Terra. Seu gosto não era de frutas, pois esses mesmos lábios haviam tomado o seu café, e isso a alertou rapidamente a comparação por saber tanto como era o gosto do seu café. Não eram largos mas tinham a simetria perfeita para asfixiá-la dentre três tentativas de respiração não concluídas, que a fez perceber que aquele incidente era intencional e ela não poderia mais nem mudar o curso da historia, nem tentar evitá-lo. Vendo que não poderia nem fugir, e nem queria despedir dessa oportunidade, Estele abriu os lábios convidando Pablo para uma pausa intensa deixando a passagem aberta de seus sentimentos. Estele então, havia despertado.