Me desculpem, perfeccionismo não é minha matéria mais forte. Porem vejo com mais clareza a nitidez. Essa nitidez que ao máximo hoje quero passar em forma de algo que estranhamente acontece. Sempre em temperaturas altas, parece precipitar. Eu não consigo respirar. Sério, leve isso a sério. Não consigo respirar, e as lembranças nos detalhes nas músicas impertinentes que ouço a soar, me fazem queimar o estomago, e os dois rins.
Era uma tara na minha vida, e quero que sem especificá-la, leve-a a sério! Estava em corpo de Dora, era ela alternativa e mais próxima do gosto de Dimas, o garoto que ela sempre copiava para tentar aproximar de seus assuntos e conversas. Eu não sei explicar mas eu estava no corpo dela, e podia sentir coisas que normalmente eu não poderia sentir. Não que fosse um desejo mas era uma experiência, e isso me assustava.
Me encontrar com seios, quadril como uma sacola de varejão e ainda disponibilizar de cabelos fartos e lisos era realmente estranho. Ainda mais lisos! Porem os cenários eram peculiares, seus cheiros suas cores e brilhos, reflexos. Faziam meu enjôo de estar em outra historia mais intrigante ainda. Havia a amiga de Dora, que eu ate agora não consigo explicar de onde surgira. Ela era da mesma idade, o que me assustava mais ainda, e se apresentava pelo nome de Jade.
Jade era excepcionalmente bonita, tinha corpo dourado branco de sua pedra como nome. Ela possuía os olhos verdes pequenos, com o corpo dobrado pela beleza em curvas, chamava a atenção de massas de homens que podiam a idolatrar séculos como diva de alguma coisa popularmente conhecida, algo como artistas, músicas; gosto da nova geração... Estirpes.
Porem eu, quer dizer, Dora; era mais singela. Delicada e jeitosa, sem desastres como eu em minha vida costumo ser. Dora se olhava no espelho sem ter inveja de si, e de Jade. Dora sabia que sua beleza era avulsa do gosto da mídia, que abraçava Jade em vez dela. E ela gostava disso, se sentia mais conectada ao mundo, ao natural.
Eu só tive tempo de ver 5 coisas: Eu, meus seios, Jade, Dimas e um beijo. Tudo isso enfurnado nos cenários de minha vida real. Jade me adorava, éramos grandes amigas, e eu podia confiar plenamente nela, apesar de suas indiretas me flertarem um pouco, alias, flertarem Dora. E Dora se sentia muito estranha com essa posição de sua amiga. Jade sabia que Dora era devota do amor não correspondido de Dimas.
Era realmente uma devoção, mas que passou por mais uma prova de fogo, que a vez no final gostar ainda mais de Dimas. No primeiro ato, era uma sala de manipulação de alimentos. Um lugar onde eu trabalho, nada romântico. Porem o cheiro era ruim, de coraçãozinho e asinha de frango temperado no ar, com varias pitadas e nuvens de água sanitária.
Dimas não sei porque estava lá dentro, só de pensar em seus olhos envidraçados de sua cor padrão de castanho escuro já deixava-me louco, ou seria Dora? Só sei que sempre gostei do padrão de castanho escuro refletido nos olhos das minhas personagens. Isso tornava mais cativante, mais apaixonante! Dimas estava para me olhar, só de pensar nisso Dora simplesmente esquecia que lá era um lugar para apenas funcionários da empresa podiam entrar.
La havia uma pia de aço inox, uma espécie de ímã que mantinham as facas e a chaira de açougueiro que deixa o clima frio e bem característico de comércio. Fora da sala, para frente dela, havia um balcão também de inox onde eram expostos as carnes e frios para serem vendidos. E após o balcão havia o resto tudo de bebida em fardos e churrasqueiras, temperos, acessórios. Tudo o que um comércio especializado podia ter, alias é aonde eu trabalho, saberia desenhar o cenário perfeitamente.
Mas mesmo assim não era nada romântico, era uma lembrança minha. E isso tornava as coisas mais simbólicas do que nunca! Dimas depois de encará-la avançou em dois passos e meio, era o que a distancia da parede da esquerda ate a porta onde Dora se encontrava. Dimas a cumprimentou em silêncio misteriosamente, e veio segurando sua cintura fina, dá-lhe um beijo no rosto.
Daí o mistério! Dora se guinava desacostumada com o afeto de Dimas, depois de uma luta de desvio de avanços de pescoço e boca, como duas Emas. Dimas sem querer, ou querendo, deu-lhe um beijo no canto esquerdo da boca de Dora. Meu Deus! Eu sabia perfeitamente onde o beijo instalou-se. Eu estava lá! E isso deixou Dora tão tonta que ela quase desconectou-se de mim naquele momento.
Dora se desnorteou. Me deixou tão aflito que em nosso desmaio mudamos repentinamente de cenário. Todo o lugar recebeu uma chuva de cadeiras de plástico enfileiradas, como se fosse uma platéia, uma palestra estava para começar. Dimas me puxou para a uma das cadeira, e fomos nos sentar nos fundos. Onde era o mesmo lugar, porem recheado de cadeiras.
Na quebra de cenas Dora agora estava na rua, onde eu moro, perto de um supermercado que se eu fosse descrever, todos os meus amigos já saberiam onde eu estava. Dora estava encostada no portão de uma casa ao fundo desse supermercado. Do lado esquerdo, o portão era verde musgo. E na noite dessa cena, tudo estava mais frio. E ali parecia que um plano iria se cumprir.
Ela estava um pouco de ressaca, e Jade estava lá logo antes de Dimas aparecer. Aquilo me pareceu um encontro, pós uma conversa particular entre Dimas e Jade. Ali um ritual estava para acontecer, onde Dora era a única vitima, eu estava com receio disso. Jade se aproximou e disse: “Está na hora, essa é a sua chance!” Com aqueles olhos furtivos esverdeados dela, como se não fosse esse o meu combinado, eu a fitei com um certo louvor de agradecê-la, eu esperava Dimas.
Dimas aparece, nas nuvens e nos lodos carbonizados da rua. Ele me fita com os mesmos olhos terroristas de Jade, eles se entreolham e ela recua os mesmo dois passos e meio, malditos. Dimas se aproxima, sussurra palavras quaisquer, e me fita com o final de receio. Eu fecho os olhos na confiança de um outro cumprimento daqueles, mas logo sem esperar sinto o beijo.
Era perfeito, eu comecei com a língua resguardada em minha boca, como sempre faço na verdade. Daí o espírito de Dora entrou dentro de mim, ou eu dentro dela? Ela soltava a boca aos poucos, do rígido ao mole. Descontraindo, pude sentir a língua avulsa como carne nas paredes da minha boca. Alinhamos no ritmo perfeito: Eu, Dimas e Dora. Era um beijo triplo, e ninguém poderia fazer tal como qual. Eram dois corpos no mesmo espaço beijando o terceiro como escravo. Desafiamos as leis da Física!
Quando abri Dora abriu os olhos, tudo veio a desfalecer. Era Jade em que eu beijara, ela agora estava me olhando tonta, e com um prazer vilã nos olhos. Eu mal pude acreditar, estava beijando minha melhor amiga, alias, a melhor amiga de Dora! Eu como eu mesmo deveria estar feliz, ela era uma modelo e tanta! Mas eu só pude ter nojo. Nojo por Jade, pela Dora, fúria por Dimas!
Vaguei em apogeu a rua escura, o procurando e afastando Jade dos meus braços, eu agora queria matar duas pessoas. Duas personalidades levam um corpo a duas sentenças! Eu o encontrei já dobrando a esquina, corri atrás dele fugindo dos gritos lésbicos de Jade. Ela que se dane! Dimas com sorte pegou um ônibus na travessia, atravessei a faixa, e adentrei com pisar forte nas escadas de alumínio do ônibus publico.
E ignorando o trocador e o motorista, junto a poucos passageiros eu e Dora gritávamos: “Dimas! Como pode?” Vi o sangue subir no meu rosto, eu estava frenético, e queria agora era mesmo limpar minha boca na dele. Ele me olhou com olhos de brincadeira, como eu gostava daqueles olhos, mas ele não se importava. Ele achou muito natural aquilo, ter me trocado. Eu me senti golpeado, Dora estava em cacos.
Após Dora ter percebido tal devaneia ela tornou a virar, meia volta, pós de ali fora do veiculo deixando todos em duvida e Dimas em cautela. Eu tinha certeza que ele não iria mais a procurar, vadio! Agora a cada balançar de meus passos juntos no de Dora pela rua escura, deslocava um centímetro de raio, do meu corpo com o de Dora. Estávamos chocados! Porem eu estava mais conformado, queria ajudar Dora na transferência de sentimentos. Mas Dora não estava muito assim.
Eu podia ouvir seus pensamentos, ela estava muito depressiva, e queria praticar um suicídio. Ela já não queria mais voltar para casa, nem para vida, nem para nada. Eu tentava falar com ela, mas tudo aquilo parecia um filme. Eu não podia dar minha opinião, só podia sentir as sensações. Lembrei-me, em quanto Dora enlouquecia, do beijo de Dimas até eu que não aprovei muito me senti curtido, foi bom e quase me fez apaixonar pelo personagem. Eu já estava criticando a historia, odiando Jade, querendo humilhá-la no próximo dia.
Mas eu não sabia se teria próximos dias, Dora estava nos passos me deixando sair do corpo dela. Eu sentia os centímetros de atraso meu e dela aumentarem. Eu no de lei passei com Dora, cruzando a rua onde Jade ainda estava encostada no portão. Ela estava sorrindo em êxito ao estrago que fizera. Mas pude ver Dora em seu corpo a frente não a notar a felicidade de Jade. Dora estava em ritmo, e não poderia eu freia-la.
Todos os cenários agora escureciam, eu estava voltando ao que digo ser realidade, eu estava me despedindo de Dora. E ela não me dava atenção, Dora iria finalizar sua peça naquele ato. Ao abrir os olhos e ganhando consciência, só pude ouvir seus passos, ainda em ritmos. Ela pusera todo o sentimento naquela noite, e agora estava retribuindo com a sua vida. Quando me levantei, pude ouvir estalos de suicídio físico. Eu estava vivendo, e Dora, já estava morta.