quinta-feira, 29 de abril de 2010

Tubo de Ensaio


     Não é um sonho, nem realidade. Não sou eu o personagem principal, nem há eu lírico. Agora é você, e você sabe disso. Está em um tanque e a sala não se vê. Isolado no silêncio que logo deixara de existir, você está inundado, e não sabe se é água. Acalme-se, não está afogando, porem não está usando respirador. Sua roupa é branca e cheia de filetes e retalhos, que deixam seus movimentos em passado daquilo que se movimentou. A paz é utilmente aceita, e não se pode pensar nela, só senti-la. Não está fazendo frio, nem a temperatura está elevada. Você agora consulta a mente, e as sensações começam a aparecer.
     Nozes; agora um toque; um abraço. Na frente antes da tela de seus olhos, o vidro blindado desse tanque. Mesmo que se fosse em público, não há vergonha. É só você que esta; a quem estar ali. Algodão; raio de sol; lavanda. As roupas estão limpas, penduradas no varal de nylon. Elas flutuam em uma sinfonia; sala de yoga; música calma. Tem-se olhos, eles agora são castanhos; se é castanho, agora eles são de mel.
     Vício; arte; destreza; e inspiração. Você agora está sozinho acompanhado, todos os seus verdadeiros amigos vão aparecer. E só os verdadeiros, aqueles que só Deus sabe que são. Você agora me ama, e depois me odeia. Pisco em cintilância alternada sobre seu ciclo de relacionamento. Você vê a roupa que quer usar, a causada que quer pisar. Você tem o dicionário e a língua que quer falar de cabeça. Memórias; perguntas; e interjeições. Você não tem dúvidas do seu destino nem do seu passado. Você não erra e nem acerta. Você só questiona sobre o seu coração. Ele é incomunicável, ele é inacessível. Você não sabe quem tem a chave, mais sabe que alguém a tem. Você só não sabe: quem está te amando agora. 

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Quando as Quaresmeiras só querem voar


     Não me sai da cabeça que um dia elas queriam voar. Vem um vento do sul, no finalzinho da tarde, quando o sol, nem no teto de suas copas alcançam mais. Elas sentem, e desdobram as suas folhas asquerosas, para pairar a brisa em baixo de cada uma. Alimentando-as, sentindo a preção da atmosfera e da gravidade mais leve, mais amena. Distraem-se. E se deixando levar por aquela direção.
     Nada me tira da cabeça que um dia elas queriam voar. Mas não podem, pois sabem que assim, morreriam.
     Quaresmeiras como as demais árvores, são virgens do ar, sempre querendo estar alem de sua própria altura. E quando em uma tempestade, vem o vento arrancá-las do chão. Elas sentem remorso, de tal grosseria em que um tornado as faz voar desse jeito.
     O modo como repartem o espaço entre uma e outra, o modo como aceitam sem preconceito as samambaias e as orquídeas as parasitando. Nada me tira da cabeça como elas são generosas, e virtuosas.
     Arvores virgens, ventos grosseiros. Todos que são assim se arrependem ao perder aquilo, que as fazem ser o que eram antes. Porém todos no final da história transam. E transam.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O Descontente


     Sentir frio, e mesmo assim suar. Jogo o que digo em neutro e deixo ver até onde vai chegar. Quando nos conhecemos somos assim. Pois nós julgamos tudo agora, e nunca sabemos aonde esse julgamento vai. Quando estamos um minuto à frente do que somos. Sempre estando, sempre sentando, estamos quase que mentindo sobre o que acabamos de fazer. Quando me vem esse pensamento, logo hoje quando o adquiri, sei que o que eu pensava antes era mentira. E que se eu fosse cruzar os meus passos, apagando a estrada deles, me encontraria em uma forma dizimada de espelho. De vários “eus” enxergando diversas réplicas daquilo que fiz naquela hora. Porque a história é assim como as verdades são: Só vemos o que nos aparece em frente, e temos que nos dar o trabalho de descobrir e julgar o que aconteceu antes, naquilo que você estava sendo, ou que aquela pessoa estava. Várias faces, de vários reflexos, de vários espelhos se cumprimentando sobre aquilo que estamos sendo, e fazendo.
     Um elo contínuo de nós para com nós mesmos, e dos outros para com eles e para nós. Não me descontento que em vez de pessoas, ficaria muito mais astuto e feliz em me ver em vários planos, de várias formas, e de várias ações me cumprimentando e me conhecendo. Eu me perderia em uma sala vazia, perdendo o tempo, e me encontrando... De formas, estados, e várias maneiras... Diferentes.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

As Dobras de Mim


     Dessa vez eu fui muito nobre, e muito feliz da minha parte. Pensei em um jeito interessante de ser, e falar do ser. E assim pensando, tive uma idéia em que eu seria como uma folha de papel. Do tamanho comum e/ou convencional de ser, não seria maior nem menor do que ninguém. Mas carregaria e estaria muito carregado, das minhas características de ser.
     E nessa folha, minha folha – que seria eu. – Eu estaria dobrado, em várias partes. Cada uma de um jeito, e como a minha dobra mais simples... Que seria a que mais tangencia com as outras folhas – que no caso, seriam outras pessoas – acho que ela é pintada de amarela, com tinta Guash (forte).
     Tem também essa que escreve o texto, a que está com você agora, presente nos seus olhos e ás vezes – dependendo da concentração do leitor – com seus pensamentos: Ela gosta muito de concentrar com fones de ouvidos grandes (sem música), digitando tudo que quer no computador.
     Mas tem aquela que se assemelha com essa última, mas não deixa de ter sua própria dobra: É a dos meus desejos, ela é pecadora e só se importa apenas com sigo mesmo... È a que esbarra na dobra da paixão. Que só se manifesta nos meus beijos e que sempre carrega os lábios de cor roxo-amora inchados, e que nunca se apaixona com ninguém e por ninguém.
     Junto um pouco mais pra baixo da minha folha de papel, tem uma que não foi pintada, mas está toda amassada. Ela já passou na mão de muita gente, mas poucos conseguiram tê-la por muito tempo. Passa o tempo eu vou ganhando outras, as que mais trocam de cor é a da amizade. Mas isso é só na borda, em degrade; O centro é que tem a cor mais forte – que seriam os meus melhores amigos.
     Já a última é pintada de verde, sempre em tempo futuro. E a que mais repara nos ventos e nos cheiros; É a mais esperançosa – e também a mais iludida.
     Fechando tudo, logo penso no macro de minha folha, da arte de que toda ela é. E logo a vejo como uma parte incompleta, de um texto que precisa do outro, para completar o seu sentido. Pois acho que sou assim, a espera de uma outra folha. Para quando assim juntarmos, fecharmos em um contexto de carta. Uma carta selada... Uma carta de amor.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Prova do Provar


     “As todas as opções, que delas me vieram, resolvemos plantar de tal maneira que não pudesse amar. Mas mesmo assim, significaria muita coisa. Dizer que ela estava no jardim, plantando a macieira, seria delito em um lugar donde nunca ouviu falar.”

     Pois assim me disseram, consecutivamente, quase todos ao mesmo tempo. Não sei se era para o efeito dar, ou até mesmo o padrão. Mas eu via que era doutrina, e que disso não era anormal, apenas civilizado. Se eu soubesse que tal ser, me visitaria, deixaria as literaturas de fuga de lado. E esperaria ele, como faço até hoje, só para me iludir, apenas uma vez. Uma vez só.

     Como cálice ele me veio, e assim ele me disse:
     -De onde estive, onde estou. Agora estou mais?
     -Meu Deus! Quem é você!? Como apareceu aqui!? – Eu estava surpresa em ver tal ser na minha frente, dentre às oito horas da matina, e ainda na minha propriedade.
     Ele era extremamente magro, porem forte, seus músculos pareciam látex, em função de um amortecimento perfeito! – Tanto que eu nem pude ouvir sua chegada.
     -Eu sou Alacarte. Um certo cidadão sou.
     -Daqui? Você mora aqui!? Como entrou na minha casa?
     -Eu estava à missão de mim mesmo. Por já descobrir tudo do que me interessa em meus aposentos. Vim descobrir o que se esconde nessa terra proibida.
     Eu estava começando a flutuar, sua voz era doce, como um cubo de açúcar. E eu, leiga em não ser leiga em literatura. Poderia ler suas palavras como um livro, achado no fundo da terra, na raiz daquela macieira comida, pelos cupins que ali se davam.
     -E já descobriu o que queria descobrir, senhorio Alacarte?
     -Ao certo não ao certo, porem certo: sim! – Eu conseguia friamente me perder em suas redundâncias, apesar de feias, eram belas... Nele.
     Ele continuava: - Descobri uma criminosa que aqui reside.
     -Criminosa... Eu?
     -Ao certo não ao certo, porem certo: sim! Você estava a plantar um ser que de vida existe.
     -Sim, eu a comprei. É uma macieira... Na sua cidade isso é proibido!?
     -Ao certo não ao certo, porem certo: sim! Lá é completamente por completo, porem completo: proibido dar vida a qualquer ser ou a qualquer vida!
     Eu estava frustrada com aquele linguajar de montanha russa, e então pude contar de um a dez em dois segundos. Para assim ver que ele não pertencia a minha “civilização” – quem dirá meu planeta!
     Mesmo assim, tentei ser esperta, e encurralá-lo, perguntando:
     -E como rega os que já têm vida em sua morada?
     -Simples, de simples ser, porem simples: lá nós deixamos os banhos ás alimentarem...
     -Então vocês ás banham! Regam como nós, regamos!
     -Não de certo, não ao certo, não! Lá os chuveiros ás regam.
     Eu comecei a ficar confusa, e estava cada vez mais. Então eu logo pensei, seriam as nuvens?
     -Seus “chuveiros” aonde banham, nos banheiros, são como esses nos céu? – E apontei para o alto e lindo azul daquela manhã.
     -Não. Essas são as nuvens, que vocês estranhamente penduram nos teus céus... Como fazem isso?
     -Ah! – Ele era louco, não tinha como tal. Só ai eu pude abaixar meus olhos para aquelas roupas.
     Eram de um tom para o mesmo tom: o azul. E eram incrivelmente justas, de um modo de pedir ajuda para tirá-las de seu próprio corpo. Eram niveladas, e em um sentido único: o sentido do vento. Como se ele não parasse, como se conversássemos em movimento. Aí eu vi que ele realmente não saiu do mesmo planeta que o meu.
     -Vocês usam nuvens para se banharem?
     -Não minha cara, cara és porem não é cara: nós chuvemos no banheiro, para limpo estar e ficar durante os dias.
     Aquilo havia entrado em mim como um porrete. Nunca havia ouvido falar nessa... “articulação” para á chuva – que da nuvem vinha. Foi quando eu apelei, estava cansada e louca para começar meu dia, “porem do porem” de verdade!
     -Olha seja lá como fazem para tomar banho, ou para regar as plantas, ou para viverem! Deixe-me em paz! Aqui, que não é ali e nem acolá, é onde eu moro, onde as regras são outras e onde eu as sigo do jeito que aqui deve ser!
     -Porem segue. E isso é de fato interessante... Porque gasta teu tempo com cuja planta?
     Foi quando a fúria subiu, como um termômetro direto ao fogo.
     -Eu gasto em uma forma de agradecer a essa terra da qual eu vim, por tudo em que essa vida em que ela me deu tem... Sido! Eu estou aqui... Sei lá... Homenageando a vida: por eu poder gastá-la em meus cigarros, curti-la com meus amigos, viver com minha própria vida, e para ela mesma! Será que eu fui bem...
     Ele então se virou e começou a dar passos largos. Para onde? Eu não sei.
     -Ei! A onde você está indo!? Eu não acabei de...
     -Já, porem já, em já; aqui: descobri o que vim descobrir, achei-o em um curto tempo o que certamente não poderia descobrir em tempo algum. De fato não sei por que... Não faz sentido... Ainda! Mas há de ser questionado!
     -Ah!... Ok! – Depois era eu que estava ficando louca!
     -Sabe pelo menos se tem vontade de descobrir, de beber algo em que seu paladar não conhece? De ver algo em um algo que não tens nessa terra, que veria nas minhas?
     -Sei, e... Não tenho vontade... – naquele momento me surgiu uma ponta de aflição, como se eu estivesse perdendo aquela estória em meio de falta de concentração, no dito livro em que estaria lendo ali, na minha frente.
     Foi quando ele foi embora, em fração das frações contáveis do tempo em que aqui tinha, para se contar. E eu fiquei ali, olhando para onde ele deveria estar, ou apenas o vento estava. Vagando...

domingo, 11 de abril de 2010

Sonho Éden



     Era uma sala muito branca, com luzes uniformes, quando o sonho foi favorecido pelas seringas. Eu estava descansado, mas mesmo assim tinha que atender a necessidade de dormir.
     E nessa sala, eu me encontrava acordando, no centro de uma cama redonda. Ela por sua vez, era toda branca, lençóis brancos, cobertores e travesseiros também. Havia muitos travesseiros. E a única certeza de que aquilo não era o céu; Era que lá não havia nuvens.
     E tudo em tempo se passava rápido, eu me levantava e olhava para o topo da sala com olhos de veludos. Eu podia ver o preto dos meus olhos sendo refletido em todas as direções. Quando me vi todo vestido de branco, também, como um “vestido-avental”. Eu me levantei, dei três a quatro passos acelerados, como no filme “O Chamado” em que a menina dá. E já estava no centro.
     Lá quase esbarrei delicadamente em uma maçã flutuante, tudo lá era delicado. E a maçã por sua vez não escapava disso. Porém, ela era perigosa. Estressante de tão vermelha, eu quase a ouvia conversar comigo. Pedindo para eu morde-la. E eu não queria, eu sabia que era o fruto do centro do “Jardim do Éden”.
     E então ela insistia, ela era sua própria serpente. Eu via meus olhos retorcerem nos reflexos negros que eles permitiam. Eu estava cedendo. Comecei acariciando, movendo o tronco do corpo como se estivesse dançando. Ela era anormalmente imensa, como um melão! E ela dizia que “sim”! Ela ainda estava flutuando, quando me aproximei mais, retirei-a de sua própria órbita, e a mordi.
     Tudo então escorreu nas paredes da sala como sangue, era como se eu estivesse sangrando aos poros. Eu perguntava para a maçã: “E agora?” E podia ouvir seu silêncio, quando ela me ignorava. Eu sentia uma tremenda dor na mordida, como se minha arcada estivesse soltando. Foi ai então, que eu descobri como Eva se sentia, no final da história.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Meio palmo de Aço


     Era em tempo, e ali estava meu alvo. Nada pessoal, e tudo pessoal. Ele me irritava, e estava ali, a todo momento. O fato de eu ter que telo por tempo indeterminado me irritava mais ainda. Nada normal, mas atual: Existem pessoas que nasceram assim, com um jeito diferente de querer resolver as coisas.
     E assim eu nasci. Eu não conseguia ver como resolver um conflito entre pessoas pacificamente. Escorria veneno nos meus olhos. Eu sinto-o descer, queimar minhas veias. Eu o sinto conversar comigo, dizer que aquilo pode ser mais fácil do que eu imaginava. Que aquilo já poderia estar resolvido.
     Enforcamento, afogamento, quebra de pescoço, injeção letal, asficsiamento, quebra de mandíbula; eu tinha planejado tantos jeitos de não fazer espirrar sangue naquele banheiro. E nenhum deles daria certo. Eu precisava ver aquele liquido quente e vermelho escorrendo de qualquer fenda que eu abrisse, qualquer parte.
     Por isso eu o aguardei, deixei sua vontade vir, e ele levantou. Posicionou-se para a porta, e do corredor eu o vi entrar no banheiro. Antes ele havia me fitado, era o ultimo rosto que viria. E eu estava feliz por isso. Fui logo atrás. De um modo clássico estava eu de luvas de couro, blusa de manga comprida. Foi quando sem esperar que ele fechasse a porta eu o surpreendi.
     Bati seu rosto contra a parede que logo via a frente depois da porta do banheiro, fechei a porta. Eu podia ouvi-lo reclamar do nariz sangrando. Ele olhou para mim, eu não era tão forte, mas não o deixei em tempo para reagir. Dei-lhe uns três ou quatro socos quando segurava teu colarinho. O arrastei até fazê-lo sentar na privada, desloquei teu pescoço com a força que fiz. E então empunhei a faca na sua guarganta, de uma forma de revirar terra no jardim.
     Pude sentir o tremer do frio do fio da faca entrando em suas veias e arterias, via o ouro do sangue descer pelo pescoço e os olhos assustado de quem nunca me via fazer aquilo se revelarem para mim. Eu achava graça, ele achava terror naquilo tudo. Meio palmo de aço inoxidável, belamente esculpido agora o impedia de gritar. E isso era o meu dia, o meu lucro.
     Dali, deixei-o ali mesmo. Removi as luvas e as embrulhei em um saco plástico junto com a faca. “Acho que ninguém viu.” – pensei. “Deve demorar algumas horas para desconfiar sua demora.” – E segui para fora do recinto. Era minha primeira vítima. E eu estava muito satisfeito.
     Mesmo que houvesses conseqüências, mesmo que eu fosse levado dali. Preso e acusado de primeira, alguma prova que ali poderia ter deixado. Eu não me importava, eu não me preocupava. Eu só sabia que aquela era a primeira, porque tudo havia dado certo. E que eu logo, no próximo conflito pensaria naquilo de novo. Pensaria em resolver daquele modo de novo. Nada pacificamente, nada pessoal. Era só o jeito em que eu via as coisas se resolvendo, deliberadamente.

sábado, 3 de abril de 2010

Quando o assunto é Janelas



     Quando eu penso, sem pensar e nela pouso meu olhar. Vejo uma vista pro céu recheadas de casas e prédios, alguns às nuvens a tocar. Daí eu fujo, fuga é a palavra certa para tudo que vem na minha mente depois. Sempre, sempre é assim que as janelas me vêem.
     Quando o assunto é janelas, eu me vejo cavalgando em jaguares pretos, em um vasto campo de relvas secas aonde o por do sol as tornam douradas. Saltar deles em um penhasco, no fim de algum lugar da África, dando ponta para o mar. Mergulhar, sem as pernas tentando nadar. Apenas mergulhar.
     Quando o assunto é refrescar, eu sinto que estou sendo carregado pela espada de peixes-espada. Com a ponta do seu bico nas costas da minha blusa, indo fundo e mais fundo para algum lugar. Um lugar distante, já perto, no Caribe. Daí eu meu sinto pular da superfície e virar.
     Quando o assunto é voar, eu me vejo nas celas de búfalos brancos com tiras azuis e pelos macios e escovados, que conseguem fazer loops nos ares facilmente, nos picos das montanhas da China. E que dobram as nuvens escrevendo vários nomes, nomes que me fazem feliz. Felicidade que me trás sono.
     Quando o assunto é sonhos, eu me vejo na espinha dos gelos Antárticos, aonde os cientistas não chegaram. No véu cristalino da luz da Lua. Dormindo com uma alcatéia, aonde me vejo no centro de uma roda de rocas de pelos albinos, de mais de uns cinqüenta lobos. Usando-os de cobertor, e nada mais no meu corpo. Todos de olhos mistos. Uns: azuis e verdes, outros cinzas e azuis. Mas sempre azuis.
     Porque quando o assunto é azul, eu me vejo de novo perto das janelas, e quase saltando delas. Atrás de um assunto. Que me faça fugir, que me faça ser, aquilo que vejo através delas. Lá fora. Em algum lugar distante e o mais distante daqui.