“As todas as opções, que delas me vieram, resolvemos plantar de tal maneira que não pudesse amar. Mas mesmo assim, significaria muita coisa. Dizer que ela estava no jardim, plantando a macieira, seria delito em um lugar donde nunca ouviu falar.”
Pois assim me disseram, consecutivamente, quase todos ao mesmo tempo. Não sei se era para o efeito dar, ou até mesmo o padrão. Mas eu via que era doutrina, e que disso não era anormal, apenas civilizado. Se eu soubesse que tal ser, me visitaria, deixaria as literaturas de fuga de lado. E esperaria ele, como faço até hoje, só para me iludir, apenas uma vez. Uma vez só.
Como cálice ele me veio, e assim ele me disse:
-De onde estive, onde estou. Agora estou mais?
-Meu Deus! Quem é você!? Como apareceu aqui!? – Eu estava surpresa em ver tal ser na minha frente, dentre às oito horas da matina, e ainda na minha propriedade.
Ele era extremamente magro, porem forte, seus músculos pareciam látex, em função de um amortecimento perfeito! – Tanto que eu nem pude ouvir sua chegada.
-Eu sou Alacarte. Um certo cidadão sou.
-Daqui? Você mora aqui!? Como entrou na minha casa?
-Eu estava à missão de mim mesmo. Por já descobrir tudo do que me interessa em meus aposentos. Vim descobrir o que se esconde nessa terra proibida.
Eu estava começando a flutuar, sua voz era doce, como um cubo de açúcar. E eu, leiga em não ser leiga em literatura. Poderia ler suas palavras como um livro, achado no fundo da terra, na raiz daquela macieira comida, pelos cupins que ali se davam.
-E já descobriu o que queria descobrir, senhorio Alacarte?
-Ao certo não ao certo, porem certo: sim! – Eu conseguia friamente me perder em suas redundâncias, apesar de feias, eram belas... Nele.
Ele continuava: - Descobri uma criminosa que aqui reside.
-Criminosa... Eu?
-Ao certo não ao certo, porem certo: sim! Você estava a plantar um ser que de vida existe.
-Sim, eu a comprei. É uma macieira... Na sua cidade isso é proibido!?
-Ao certo não ao certo, porem certo: sim! Lá é completamente por completo, porem completo: proibido dar vida a qualquer ser ou a qualquer vida!
Eu estava frustrada com aquele linguajar de montanha russa, e então pude contar de um a dez em dois segundos. Para assim ver que ele não pertencia a minha “civilização” – quem dirá meu planeta!
Mesmo assim, tentei ser esperta, e encurralá-lo, perguntando:
-E como rega os que já têm vida em sua morada?
-Simples, de simples ser, porem simples: lá nós deixamos os banhos ás alimentarem...
-Então vocês ás banham! Regam como nós, regamos!
-Não de certo, não ao certo, não! Lá os chuveiros ás regam.
Eu comecei a ficar confusa, e estava cada vez mais. Então eu logo pensei, seriam as nuvens?
-Seus “chuveiros” aonde banham, nos banheiros, são como esses nos céu? – E apontei para o alto e lindo azul daquela manhã.
-Não. Essas são as nuvens, que vocês estranhamente penduram nos teus céus... Como fazem isso?
-Ah! – Ele era louco, não tinha como tal. Só ai eu pude abaixar meus olhos para aquelas roupas.
Eram de um tom para o mesmo tom: o azul. E eram incrivelmente justas, de um modo de pedir ajuda para tirá-las de seu próprio corpo. Eram niveladas, e em um sentido único: o sentido do vento. Como se ele não parasse, como se conversássemos em movimento. Aí eu vi que ele realmente não saiu do mesmo planeta que o meu.
-Vocês usam nuvens para se banharem?
-Não minha cara, cara és porem não é cara: nós chuvemos no banheiro, para limpo estar e ficar durante os dias.
Aquilo havia entrado em mim como um porrete. Nunca havia ouvido falar nessa... “articulação” para á chuva – que da nuvem vinha. Foi quando eu apelei, estava cansada e louca para começar meu dia, “porem do porem” de verdade!
-Olha seja lá como fazem para tomar banho, ou para regar as plantas, ou para viverem! Deixe-me em paz! Aqui, que não é ali e nem acolá, é onde eu moro, onde as regras são outras e onde eu as sigo do jeito que aqui deve ser!
-Porem segue. E isso é de fato interessante... Porque gasta teu tempo com cuja planta?
Foi quando a fúria subiu, como um termômetro direto ao fogo.
-Eu gasto em uma forma de agradecer a essa terra da qual eu vim, por tudo em que essa vida em que ela me deu tem... Sido! Eu estou aqui... Sei lá... Homenageando a vida: por eu poder gastá-la em meus cigarros, curti-la com meus amigos, viver com minha própria vida, e para ela mesma! Será que eu fui bem...
Ele então se virou e começou a dar passos largos. Para onde? Eu não sei.
-Ei! A onde você está indo!? Eu não acabei de...
-Já, porem já, em já; aqui: descobri o que vim descobrir, achei-o em um curto tempo o que certamente não poderia descobrir em tempo algum. De fato não sei por que... Não faz sentido... Ainda! Mas há de ser questionado!
-Ah!... Ok! – Depois era eu que estava ficando louca!
-Sabe pelo menos se tem vontade de descobrir, de beber algo em que seu paladar não conhece? De ver algo em um algo que não tens nessa terra, que veria nas minhas?
-Sei, e... Não tenho vontade... – naquele momento me surgiu uma ponta de aflição, como se eu estivesse perdendo aquela estória em meio de falta de concentração, no dito livro em que estaria lendo ali, na minha frente.
Foi quando ele foi embora, em fração das frações contáveis do tempo em que aqui tinha, para se contar. E eu fiquei ali, olhando para onde ele deveria estar, ou apenas o vento estava. Vagando...