sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Lírio


     Não tinha explicação. Era doce puro e amargo demoníaco. Fazia-me pensar só em sentenças, eu não ia nada alem disso. Porem havia algo: Eu conseguia me desassociar de uma maneira perfeita, de modo que minhas idéias transbordavam. Só havia uma coisa que me parava, eram as palavras. Eu não conseguia formular, sintetizar, eu só conseguia jogá-las para fora. Despejando-as como um jogo de cartas, distribuindo-as sobre a mesa felpuda e verde da compreensão. Quem não estivesse verde, não entenderia. Estava acima do preconceito, do conceito, do pós-conceito. Era muito antes e muito depois, e a ordem não mudava fator algum!
     Mas eu conseguia te perseguir, todas as suas argumentações não me interessavam. A verdade é que tudo o que você é, não é nada comparável com o que eu estou pensando. Nós jogávamos um jogo que só eu vencia, e você não gostava. Lógico, quem disse que era pra ser fácil. Eu cruzava na lucidez transcendental, e você? O que você fazia das suas idéias? Corrompias com o egoísmo de voltá-las para você. As idéias, aquelas puras e perfeitas, próximas de Deus; "Estas ficam soltas, lá onde não podemos ir." E ficar prendendo-as em conceitos próximos, definições, comparações, não ajudava. E você não entendia isso. Mas eu compreendia, com dó, mas aceitava.
     E o apetite crescia, eu não queria carne, nem você. E você não entendia isso. Eu nunca quis você. Eu sempre quis a ideia de ter você, e você nem sabia o que queria. Mas é assim, o efeito iria passar, eu começaria a querer, até a próxima doze. Tudo o que estava nas letras das musicas eram mais fáceis de entender, e a atenção reage a coisas estimulantes. Era tudo com contrastes alarmantes, de fato eu conseguia ver escalas de cores que eu tenho certeza que não encaixavam no seu corpo. Porem eu entendia.    
     Era um passo de acordar outra vez, olhar para o relógio e não entender nada daquilo que havia acontecido. Porque você só é, você que é, quando está lá, daquele jeito. O seu suéter negro, suas meias negras, não iria evitar do meu coração lhe mostrar quem eu era. Eu poderia ser tão mal; Eu poderia ser tão perverso. Mas preferi esperar, pela próxima chamada. E salvar mais uma vez, meu coração da normalidade dos pensamentos. E ser novamente, livre, nas idéias e nas palavras. Feito tudo aquilo que eu não conseguia ser, normalmente.