Há dias em que a vida parece mais leve. Uma tarde; um tema; uma programação diferente para o final de semana; e algum café é o suficiente para um bom papo. Só que agora não são amigos, e sim a figura que para muitos a mais imperialista e governamental de uma instituição familiar. Dentre as preocupações maternas óbvias em seu rosto, ela me perguntava o que estávamos a fazer, e pedia para que eu não mentisse sobre os futuros acontecimentos.
Eu fui assim cedendo àqueles olhos verdes e grandes de herança mal resolvida, que em choque com o imperador me fez deles só grandes, e não verdes. Disse assim a verdade, onde estaria com quem estaria e quando voltaria – no caso, só no dia seguinte. – Eu comecei em conseqüências de uma informação completa e segura, ir respondendo todas as perguntas, e o que eu achei que seria um interrogatório, acabou virando uma demonstração de afeto entre mãe e filho.
Vieram então as curiosidades sobre o meu mundo tão diferente do dela, sobre os meus amigos, minhas ações, e meus amores. As preocupações com meu recente namoro fora logo dizimado, o relacionamento já havia sido rompido. Um alívio para uma alma materna. Depois as preocupações com os fatos dos demais amigos, todos eles envolvidos nesse meu mundo, em que sofremos por amores e por dúvidas muitas vezes não respondidas.
Veio-me a curiosidade sobre o casamento imperial, eu que mal conhecia o imperador, procurei perguntar o que ela havia visto de tão fascinante e sedutor em meu pai, e porque ela rendera seu coração tão jovem e silvestre para tal membro urbanizado. Ela me disse que na época ele era diferente, do mesmo jeito em que ele tratava os amigos de forma carinhosa e alegre, ele a tratava. Eu retruquei dizendo que em certos – raríssimos – momentos ele ainda era assim. Ela por sua vez concordou, mas mesmo assim afirmou que antes esse comportamento juvenil era mais freqüente.
Depois de tudo resolvido e questionado, chegamos à conclusão do que seria feito e do que era certo e errado para ser feito no final de semana. Com aquela doce impressão na boca do café, em que o tempo provara para nós dois – mãe e filho – que o tempo sempre permanece atuante, mesmo com resquício do sabor lembrado ou não. Eu sabia que meu pai iria mudar – para melhor ou pior não sabia ao certo. – Mas que apesar disso tudo, eu também mudaria e ela também mudaria. O tempo regia ações na mesma constante em todos nós. Iria me mudar; mudar minha mãe; meu pai; mudar o meu café. Permanecendo só o gosto do passado; do café; do bate papo; e da certeza do amor materno.