domingo, 29 de novembro de 2009

Crônica da Loja de Bom-Bons


     Havia uma garota de cabelos longos e negros que estava saindo da academia, ela vestia roupas coladas de ginástica e andava ofegava para sair dali. Ela com a garrafa de água nas mãos se deparou com seu cadarço frouxo e agachou para amarrá-lo. Assim ela fez parar bruscamente um garoto dez anos mais novo do que ela, no corredor para a saída, fazendo-o derramar a garrafa de água dela no chão. Nesse tempo Vitória estava na loja ao lado escolhendo uma caixa de bom-bons para o aniversário de sua mãe.
     O garoto pedindo desculpa a garota vê o quanto ela é bela, e resolve ajudá-la para dali se levantar. Nesse momento há um taxista que atrasado por sair de casa trinta minutos mais tarde, resolve estacionar o carro na frente a academia para tomar um café no bar ao lado da loja de bom-bons onde Vitória estava na fila do caixa para pagar sua compra.
     Ele entra no bar e vendo a cena encaixada das pessoas na fila do caixa da loja de bom-bons resolve dar passos largos para assim poder se deliciar, após o seu café, de um bom-bom de nozes que sempre fora seu gosto predileto. Distraído ele deixa o dinheiro que usaria para tal recurso cair no chão. E eu agora estou passando a chave no portão de casa para ir a loja de bom-bons comprar meu pó cappuccino matinal de chocolate preparado na hora pela vendedora da loja, na sua maquina express.
     Nesse momento Victoria entediada pode observar a moça do estabelecimento arrumar seu embrulho para o presente. A garota de cabelos negros esta agora conversando com o garoto jovem e ambos resolvem ir ao bar comprar uma lata de refrigerante para se refrescarem, já que a água da garota fora derramado pelo garoto. Nesse momento estou saindo de casa pós ter fechado meu portão, e sinto uma pressa enorme para poder tomar meu cappuccino, sentindo estar atrasado para algo.
     Victoria vê os jovens felizes saindo da academia e entrando no bar, pensando neles serem namorados, vê o quanto sua vida estava pacata e sem grassa naquele momento. E o quanto seria bom ter alguém para ser com mais ela, dois. Numa tarde quente entrando em um bar para tomar um refresco e falar abertamente sobre qualquer coisa de namorados. Nessa distração Victoria não vê o taxista entrando na loja, pós ter tomado seu café no bar. Ele pega seus bom-bons rapidamente e tenta paga-los no caixa que agora já estava sem fila.
     E eu posso ver o cenário do outro lado da avenida, olhando para os dois lados me preparando para cruzá-la. Quando Victória já com seu presente tenta sair da loja, só que depara com um taxista sem dinheiro e o vendo revirando os bolsos na porta da loja. Ela não consegue sair, e paciente aguarda-o revirar todos os bolsos de taxistas para assim ele poder desconfiar que não conseguiria pagar seus bom-bons e que ele certamente voltaria para o carro para pegar mais dinheiro.
     Nesse instante os jovens saem do bar com suas latinhas de refrigerantes e me fazem frear após eu ter corrido para atravessar a avenida. Eu mais impaciente, os fito com olhos de quem acabou de acordar e não tomou seu cappuccino ainda. Nesse instante o taxista está alinhado aos dois jovens que na freada começam a acelerar para saírem da minha frente, e respectivamente da porta da loja de bom-bons. O taxista desiste e também sai da porta, abrindo caminho para Victoria sair do estabelecimento.
     Nesse instante os jovens se movem para a minha direita, e o taxista para a minha esquerda. Saem dos céus feixes de sol, após ter vencido a barreira de nuvens, iluminando o caminho que se abria entre eu e Victória. Nós olhando para baixo, vemos o sol tocar nossos pés, ambos de chinelos de fivela. Subindo os olhos em câmera lenta, os dois, eu e Victória, podemos desfocar nossa visão: Eu dos jovens, e ela do taxista.
     É o ápice da lentidão, e nós podemos nos olhar. Ela em mim, eu em ela. Senti oposto em distancia perfeita, nós trocamos todas as informações possíveis na linguagem visual. E sentimos algo que certamente, só sentiríamos naquela vez. E nesse momento eu pude sentir tudo o que nos ocorrera do antes até aquele segundo.
     Se os jovens não se conhecessem através do tombo, e eles não tivessem feito Victoria ver que ela estava sozinha, e solitária. E se o taxista não tivesse saído de atrasado de casa, e não tivesse ido ao bar tomar o café. Logo perdendo o dinheiro, para fazer Victoria esperar na porta da loja. E se os jovens não tivessem me feito parar naquele momento entre eu e Victória, e se eles junto ao taxista não tivesse acelerado em tempos iguais, para assim abrir minha visão para Victoria ao mesmo tempo que ela para mim. Eu não estaria vendo-a, e eu não estaria agora tendo certeza que ela também estava igual a mim. Ambos apaixonados.
    

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Veemência


     Pós êxito, e os corpos ainda permaneciam molhados. Os olhos dilatados rente aos outros olhos. Um sobre o tal, o tal sobre o um. Tudo estava errado, e permaneceria assim. Até que ele viu o que estava acontecendo, fisiologicamente. E tudo mudou de visão. Agora estava ele olhando para dentro de si. Via seu coração batendo mais forte, sobre aqueles músculos no qual mal cuidava. Apesar da textura da pele, seu corpo deslizava sobre a superfície que ò mantinha suspenso do chão. E isso não o incomodava
     E ela deslizava como manteiga, mas muito mais quente que o seu corpo. Ele podia ver o quanto ela estava em súbitas palpitações de êxtase e nervosismo. Era como tomar refrigerante gelado com a boca ardendo pós efeito da pimenta. Ele sabia disso, pois via em seus olhos o quanto aquilo a satisfazia. E ele estava satisfeito com isso. Só de saber que ele era bom demais para deixar tal superfície trêmula, só de ver o vibrar dos olhos que quase mudavam de cor por tanto gozo. Só de estar em tal tempo, já paralisava a ação e os efeitos.
     Mas não era o suficiente, ver esta superfície tão perfeita e morena suar, como o teto de uma sauna qualquer. Onde os vapores dos desejos não escapam. Não era suficiente ser a válvula de escape dessa panela de preção. Ver os segredos vedados pelo anel de borracha da tampa fazia essa superfície estremecer, e gemer.
     Vendo tais reações, ele suportou em ficar ali, só a observando. Com olhos de anti-clemência, não importava com a saúde da superfície. Só achava exagerado, pois o corpo dele não era resistente o quanto o da superfície. Ele apesar de diferente do que a superfície era; Era apenas humano. E estava se sentido muito bem, em ser um humano a causar estragos em uma superfície tão macia, tão quente, tão gostosa.
     Cansou-se de esperar. E agora podia ver-se quase levantando para partir. Ele agora a deixaria ali para que ela pudesse descansar. Incrédulo praticamente. Pois afim, ele não podia. A superfície era muito mais forte. Ela o agarrou e o trouxe perto de seu coração, quente e suado como pós-respingos de chuva ácida. Ela o abraçou veemente e olhou arregalada em teus olhos. Recém vazados e mudos de cor. E ele, com dó, a beijou novamente! Estava tudo recomeçando de novo, e certamente, ambos suariam outra vez...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Agora


     Quando “agente” deita, o mundo encosta. Agente encosta em outra dimensão. Falar que era preciso, faria valer a pena, de uma opinião. Todo o teu medo, e cores frias nas lentes da minha imaginação. Quando você deita, o tempo congela, faz de noz uma conexão. Sei que é difícil, entender. Todo esse conjunto. Mas se você está vivo, em outro mundo, não importa. O que importa é que você existe, e que existe, e que vai ter por onde estar. Eu vou estar, em algum lugar, aonde você também vai estar. E nos cruzar, os olhos lentes mal estar, eu vou sentir. Você estar, em êxito, complexo demais para os mortais. Estar, fazer, com que o ar sinta a diferença. O que ninguém, pode sentir. O que ninguém, pode enxergar. Todos sentem, todos enxergam, todos vão enxergar. A diferença, entre nós dois: é que o momento de enxergar chegou agora.
     E agora? O que agora? Eu posso fazer, tudo nesta hora. Pular de um prédio, fingir mistério, mudar o que sou para ser você. E nessa hora, a grande cova. Que eu cavei tendo no meu coração. O que tu gosta, e quando chora, a chuva devagar e em degradação. Eu vou embora, caso nem gosta. De como eu quero me sentir, nesse vão. Gosta de torta, porque me adora? Se sinto você morrer em cada opinião. Qual casal que gosta de opinião? Qual de nós vamos nos criticar, amando ou não?
     Qual a porta? Ela é torta? Será que eu vejo tal noção? De que tem hora, que me distraio, pondo num diário. Os seus traços e tua afeição. Não, borracha, não. Nada vai fazer você aqui, ou ali. Tudo vai estar em você, e você em mim. Sim, escreve, sim! Escreve menino tudo o que odeia em mim. Pra eu poder fazer, o que a tortura da tua letra me faz, bem. Ou mal? Não sei... O qual? Não sei... O que está? Agora...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Entradas no Diário de um Ator


     Abro os braços e só hoje sinto, depois de um longo tempo de espera, a chuva tocar o meu corpo quente. Eu estou a poucos metros de um abrigo, e só depois de longos e sucessivos passos, vejo que a chuva atrasa quando estou bem. Assim vivo, com o meu nome diferente do que era antes do banho de chuveiro e depois do da chuva. Meu nome? Pablo Castro Silveredo. Minha profissão? Ator de teatro, de palco, mas só de teatro. A televisão me confunde e seus contratos são arriscados. Eu faço um sucesso aqui, e isso às vezes traz conseqüências diabólicas.
     As conseqüências boas todos já conhecem, fama, o pseudo-dinheiro, a rotina instigante. Mas agora, as más, só eu conheço em certa intensidade. Existe um “humano” que me persegue, sua profissão é de tal ato. Porem, ele exagera as vezes, e só comigo. Eu já cheguei a pensar que ele me amava, alem do mais, nunca soube minha opção sexual ao certo. Na verdade nunca parei para pensar nisso, só ando realizando os desejos das pessoas pelo mundo afora.
     E isso irrita a mídia, como irrita esse “humano”. Ok, sem negações. Ele é jornalista de uma revista de só celebridade. Coisas que jornalista de verdade não curte, ele já trabalhou com teatro, fora diretor, e hoje mexe só com palpites nas peças dos outros. E então ele sempre está na primeira fila, quando vou entrar em cena. Todas as peças, dês de que minha carreira começou a ser aplaudida por um publico mais vasto. Ele vive a me perseguir.
     Davi Estayói era um ótimo diretor, apesar de sua amargura ele sempre fora muito decidido, aplicado e regia com fervor todas as peças. Infelizmente ou felizmente, eu nunca trabalhei com ele. Às vezes agradeço tal recurso, pois tenho certeza que ele me mataria no palco de tanto me fazer trabalhar o mesmo ato. Ele hoje, só serve para falar de mim, bem ou mal eu sempre estou na sua coluna. E eu adoro ler ela de manhã, durante meu café ornamentado de frutas, nas quais nunca provei.
     Porem estou arriscando esse relato, pois a ultima crítica foi interessante. Muito interessante! Davi nunca expressou durante as nossas conversas atravessadas o objetivo de tantas faladas de mim. Ele sempre me criticou, colocava minha personalidade em foco, para poder descobrir o que estava acontecendo comigo. Através do meu trabalho. E nunca, pelo menos eu vejo, que conseguira.
     Já tive vontade varias vezes de adentrar no seu posto de trabalho, durante o expediente e confrontá-lo diretamente. Sem medo de fazer escândalos. Porem logo me vem a preguiça que essa mídia me faz e desisto de encontrá-lo. Ele nesse último relato crônico, apresentou o depoimento de sentir dó de mim, e dó do que eu faço. Davi me achava intruso dentro dos palcos, como se eu nunca me encaixasse perfeitamente bem em nenhuma atuação.
     Ele diz em suas linhas, os momentos de minha carreira. E tenta decifrá-las. Tolo. Dó é a dó que eu tenho dele. Dó antes da dó que ele dissera ter por mim. Fétido, mal sabia o que era teatro. Vejo que ele esta desatualizado, e nem sabe mais qual é a minha situação atual. Ele me vê como um fraco, só porque sabes meia dúzias de casos de “amor” que já tive. Só por que eu sou louco, e vivo minha loucura ninfomaníaca em torno dos meus objetivos. Só porque eu transo por missão, de conseguir transar com os outros. Homens e Mulheres, aquele que mais me convir, eu mordo!
     Sabe-se lá se o casamento dele vai bem. Um “jornalistazinho” daqueles não devia comer a mulher a séculos, se é que ele come. Pois nos meus olhares vulgares, posso ver seu vacilo de desejos. E se eu me impor um pouco mais, conseguiria abrir suas cintas. Hahaha! Seria cômico, e daria uma bela capa de jornal. Alias, queria ver ele depois que eu pudesse corrigir seus olhos, como ele escreveria e próxima matéria!
     Pena que isso é só uma entrada no meu diário. Eu queria agora nesse exato momento, dizer para ele que a minha dó veio intuitivamente antes da dele. E que a dó dele não é original. E penso nisso, pois se sou intocavelmente longe dele, e se eu não prendo sua atenção. E logo sou um ignorado por ele. Porque ele perde tempo escrevendo colunas sobre mim? Jornalistas são estranhos, eu que só faço o meu trabalho. Hoje me sinto muito mais forte às tuas criticas. E elas é que me são intocáveis por mim. Quando eu era novo, me afetava, mas mal sabia o poder da mídia. E me machucava ser criticado. Hoje pouco me lixo, e sinto o poder de ser artista, e de enganar as pessoas com o que faço. Com ou sem palco, é ruim mais é o que me faz humano e pecador.
     “Se você não acreditasse em minha mudança, mudaria de novo a persona em meu rosto e faria isso ate que você visse o quanto sou forte, Davi! Posso ser distante, posso ser próximo, intruso ou convidado. Mas serei ator, e atuarei suas ilusões. Serei convidado quando eu quiser ser convidado. Serei intruso quando quiser ser intruso.”
     “E você será só um. Tolo.”

domingo, 8 de novembro de 2009

Palpite


     Coitado... Eu ainda podia vê-lo na distância da nossa despedida, fitando-o com os olhos pasmados, como ele aumentava a sua velocidade para chegar em casa. Ele tinha algo realmente importante para fazer, ou senão seria tolice dele de abandonar uma vida para ficar em casa, sozinho. Apesar de Atila nunca achar isso uma verdadeira acusação, no qual eu sempre via isso em teus olhos. Ele mal podia dizer o que era virtual e real. Seus amigos pareciam pixels na tela de onde, sem tê-la o que ver morreria, certamente.
     Pensar não o livrava da sua realidade dentro de uma janela, ele podia ser o que fosse, nunca seria o mesmo quando estivesse fora dela. E eu que sempre me remediei em dizer isso, hoje já posso ter menos do que duvidar. Eu tinha dó de Atila, ele sempre seria aquilo o que um fio de cobre o mandava. Eu pude sentir na tua pele a energia eletrostática fluir no seu corpo, ansiosa só para conectar novamente ao seu servidor.
     Mas eu percebia isso pois estava sempre por perto, seu corpo não reagia mais meus instintos, e eu era apenas carne perto de Atila. Ele porem também era, mas estava desligado dessa situação em que todos do seu mundo real o tentavam alertar. Porem ele estava longe de mais, ele não era inteligente e não pensava tanto assim como ele dizia. Isso era forte quando ele estava enquadrado e eu o pude sentir.
     Percebi que Atila estava em uma ilha, aonde me assustava aproximar. Eu, do meu navio como outra pessoa qualquer, dando só mais um palpite, o via encalhado naquela ilha. Onde teus amigos, que também virtuais, estavam ali brincando. Impetuosamente e paralelamente de ciranda, na areia cromada da ilha. Seus amigos hologramas, mal sabiam como ele era diferente na vida real. Eu realmente tinha dó dele.
     Porem eu não podia tocá-lo, por mais que tivessem melhorado fisicamente, seus músculos estavam fartos de sua cadeira de escritório. Eu podia sentir os pulsos de informações codificadas passando pelos teus cabelos. Mal tratados e ignorados como o próprio dono. E acima da tua pele estava uma camada de plástico se formando, uma camada na qual ele resinava. Para quando ele expuser-se para a vida real. Eu já o via proteger-se de teu próprio produto industrialmente criado por ele mesmo.
     E eu o via pensar, projetando como seria tal tarde na qual ele se conectava, tolo mundo do próprio tolo. Eu sentia tua carne frágil. Ele mal podia me machucar, era tão mole. E eu o via morrer, assim como o mundo dele ainda se via intacto. Pois eu tinha certeza que estava eu fazendo o certo. E que Atila morreria como um jovem qualquer nessa vida que cada vez mais se ilude com cibernético. Eu via a distância entre Atila e teu querer, eu o via falsamente interpretar um futuro, um futuro que ele não poderia ter. Mas um futuro no qual ele acreditava, e que o fazia destruir seus vínculos reais, e tudo aquilo que poderia realmente existir. Atila morreria sozinho.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Controle Remoto


     Eu estava sonhando outra vez, e nele, havia um garoto sentado no canto de uma parede comendo chocolate timidamente. Eu estava prestes a acordar pelo primeiro impulso, senti meu corpo ser guinchado pela vontade de não adormecer outra vez, foi tudo muito estranho. Eu só queria levantar, para aproveitar, sei lá! Mas eu não conseguia, quando de repete o salto me veio com uma força em que eu poderia derrubar um time inteiro de qualquer jogo que usasse da força, uma necessidade.
     Agora eu levantei! Tinha dado um salto na vertical com a coluna, como se um espírito estivesse dentro de mim. Eu estava sem meus movimentos básicos. Sim, eu tinha acabado de perder meu controle remoto. E eu já me via afivelar os chinelos de borracha nos pés. Eu acendia as luzes do meu quarto, peguei a chave e corri em disparada para a cozinha. Lá dei um giro de meia-lua, revirei meus olhos para cima, avistei o horário das sete e meia marcados no ponteiro.
     Voltei para o quarto, agarrei minha mochila. Agora eu realmente não parecia eu mesmo, eu estava incrivelmente tímido e indecifrável. Algo estava me tomando à força. Nas quais o fluxo me fazia querer reagir. Cada minuto mais e mais. Abri minha mochila, segurei dela minha carteira, notei que havia dinheiro. Peguei uma nota de dez reais, e fui a passos largos para a cozinha novamente.
     Eu estava domado pelo menino do sonho, ele era mau e só queria o chocolate que não havia conseguido morder no sonho, por intrometimento meu. Ele estava me assustando, e eu quase que o podia segurá-lo por dentro, eu só precisava de mais tempo. Agora eu o observava observar o jardim, estava chovendo e estava frio. O menino parecia ter medo da chuva, e ele se sentiu vazio novamente, ele sempre fora vazio.
     Ele já não tinha nada por dentro, e eu impetuosamente removi seu chocolate como se ele nunca precisasse daquilo. Eu fui rigoroso, e sentia como só eu poderia sentir, a mágoa de ter feito algo tão ruim. Porem não tive dó, eu tinha que domá-lo, ele estava desobedecendo as regras da casa. E isso estava me deixando ridículo por dentro de mim mesmo.
     Na primeira oportunidade que tive, eu o segurei pela gola de sua camiseta listrada. Ele se esgoelou de forçar para frente, uma tentativa evasiva infantil sobre mim. Porem não conseguiu. Eu pude me sentir novamente. Tomar as rédeas, o controle. Agora eu estava o segurando dentro de mim, pelos dois braços: uma mão em um braço e a outra no outro braço. Eu pude-me ver olhando para ele.
     Ele estava totalmente com raiva, eu vi o seu vazio, e vi também sua fome. Eu nunca pensei que ele teria fome, não dentro de mim. Eu o encarei como se estivesse dando um sermão. Ele agora estava olhando para o chão, com lágrimas a formar no rosto. Eu o balancei para ele voltar à atenção para mim. Pude acompanhá-lo junto ao meu corpo para o meu quarto, eu estava de pé.
     E vi-me pegando um prato de comida, com arroz, feijão, um bife, salada e até batata frita. E por dentro de mim, entreguei a janta para ele. Ele se abaixou no mesmo canto da parede, agora no meu quarto. Pegou o prato, cruzou as pernas e o vi comer furtivamente torto para dentro. Eu estava o encarando, até que ele comesse tudo. Quando assim feito, voltei para fora do corpo, eu estava segurando o meu dinheiro e a minha chave.
     Estive pensando em quanto olhava para a arara avermelhada na nota, quem seria aquele garoto. Eu estava passando por momentos difíceis, e estava sentido o que aquele garoto sentia dentro de mim. Eu também sentia um buraco de fome no meu corpo. E o prato que eu o havia entregado, era aquilo que eu estava evitando todas às vezes durante a semana. O menino era o meu orgulho, e vi que eu finalmente o havia domado. Agora o prato, eu não sei o que era. O que as comidas nele representavam. Eu só sei que o satisfez, e isso me deixou mais seguro. “Ele estava com fome...”

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ciclo Diário


     Acordo, sabendo exatamente o que vai acontecer, e que eu com você de novo vou sofrer. Levanto, e é a ânsia que me domina. Tomo meu leite com café, pensando como abordar como organizar e organizando todas as frases que está dentro de mim. Recolocá-las em texto, infelizmente não consigo, ainda é muito cedo. Só durante o caminho percebo o ciclo que outra vez vai se tornar o meu dia. Mais um dia, em que eu na trigonometria da minha tola vida, vou voltar no fim para eu mesmo.
     Os pensamentos se aceleram, e quando alcanço o topo do relógio é quando a tristeza de te ver de costas me domina, o dia ainda não terminou. Eu estou no molejo do quente da tarde, e daí começo a relembrar como foi à manhã. Desorganizada, corrida e eufórica. Mal pude por em ato os meus planos, não dei um passo se quer no plano cartesiano que existe entre eu e você. Eu estou vencendo o ciclo, e os ponteiros vem caindo pelas laterais.
     Seus olhos invadem meus pensamentos, nas horas vagas do dia, não é elipse não é círculo. É toda aquela volta que me faz perder em pensamentos quando não posso te ver outra vez. Te ver não me faz tão mau, o mau é não ver você. Os poços fundos de onde lanço meus desejos mais complexos e só recebo o ricochetear das águas da sua superfície. Nem o barulho da penetração dos meus objetos lançados posso ouvir ao se chocar com seu lago.
     Eu agora estou concluindo a caminhada, é o fim de mais um dia. E consigo sentir facilmente o quanto não adiantou nada dar a volta nessa circunferência. O quanto não quero chegar à ponta da volta, o quanto não quero começar outro dia. Me vem a inspiração, aquela que provém de todo esse seu abandono, recordo pela terceira vez o que não consegui de você no dia, e começo a escrever, a compor. Tudo o que eu sinto e tenho, com freqüências variadas que saem dos raios iluminados dos teus olhos.
     Depois de tal desgastes, xícaras de cafés sujas, eu me sinto um pouco melhor. Procurando alguém que entenda, alguém que faça dessa minha dor, uma tangente com meu ciclo. Penso nisso a noite, antes de dormir, quando os pensamentos são toda a vertigem que nos prende a falta de sono. Vejo como seria mais fácil, como será triste para você saber da verdade no futuro e não puder fazer nada. Continuo caminhando, na esperança de que meu andar em círculo varie, e que eu o possa arrastar para um círculo próximo a mim. No tolo desdém adormeço.
     Acordo, sabendo exatamente o que vai acontecer...



    

domingo, 1 de novembro de 2009

A Árvore

     Nem as lágrimas dão o poder dela chorar, ela queria cravar o dente em sua árvore que um dia ela permitiu que a mantivesse no jardim dela. Se arrependimento matasse ela já estaria morta. Nem seu nome ela não lembrava mais, de tão tonta que estava. Ela não conseguia nem trabalhar ao ver a sombra da árvore no jardim a perturbá-la da janela do escritório. Ela nesse momento queria ser outra qualquer, queria morar num apartamento. Só para aquela árvore não a aborrece-se mais.
     Era uma mangueira, alta, forte e quase podia sumir nos galhos. Seu teto era visto apenas por quem tinha asas, seus troncos retorcidos invadiam quem estava próximo e todos sempre gostavam de estar sentado neles. Ela estava cansada, e não tinha força para fazer nada em relação aquilo. O impasse era sentimental, se ela arrancasse a árvore de sua vida, a própria árvore não reclamaria. Se ela a mantivesse, a arvore não faria nada, e tudo ficaria do mesmo jeito!
     Isso a deixava louca! Ela só queria uma reação, algo que pudesse fazer para que a árvore fosse contra ou a favor. Algo que tornasse aquilo mais contraditório. Ela queria era ter uma opinião contra qualquer ato dela. Ela queria ser questionada, enciumada, protestada. Ela queria que a árvore a protege-se de qualquer coisa que acontecesse para ela pessoalmente. Ela queria respostas, ela queria perguntas.
     Vinha os frutos como pedras, não tornavam aquilo interessante. As raízes eram intrometidas, e as folhas um trabalho a mais na faxina. Mas mesmo assim ela não conseguia tomar partido, ela não conseguia nem mais pensar. A árvore era o peso que tinha sobre o chão, tomado sobre ela mesma. E isso à conduzia, uma vida atolada, deixando ela triste. Ela queria outra coisa, mas não se lembrava ou mal sabia. A loucura fez ela esquecer que aquilo no seu jardim era só uma árvore. E que como própria arvore, nada fazia. Apenas seria, árvore.