sábado, 29 de maio de 2010

Aconhecido


     Tenho uma angustia que me aflige. Como um primo ou familiar que não conheço, me ponho a pensar: Como seria tua voz; a cor do par de seus olhos, da tua pele; o jeito de articular; de pensar e pensar do que sou. Isso me corta, como um conto. A conexão do que somos ao nos vermos me traz lembranças de um futuro imaginário.
     O tempo não me permite conhecer, todos os eventos me afastam de você para um momento certo. Um momento que só o destino conhece, e é isso que me traz o fervor. Condolências. Ficar aqui esperando, agüentando meus familiares e os meus problemas sociais, me fazem pensar em um outro corte.
     Um corte como um conto na minha vida, para cortar essa angustia. Ansiedade. Ter que esperar os minutos certos para te cumprimentar e dizer “Ola”. Tudo o que sinto deveria estar no passado. Um passado adolescente de não saber esperar. Saudades de não ter te conhecido, ainda.
     Morrer. São essas coisas, dentre as demais, que me fazem lembrar do jeito misterioso em que Ele age. Certo ou errado não caibo a julgar. Mas que me corta, isso sim, me corta. Apesar de ainda poder pensar em ter forças para curar toda essa dor, que não é muita, mas é acumulativa. De não saber quando te encontrar. Saudades do futuro.
    

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Diferente


     Nem se lembrava do dia em que havia colocado tudo para fora. Apesar do instinto de resguardar tudo o que via e sentia, ele prometera que disponibilizasse parte dos seus sentimentos com os outros. Não que isso trouxesse diferença alguma para seu dia-a-dia. Era só para ter a sensação de contribuição com o mundo, e com a humanidade.
     Gostava de reparar em formas pitorescas em que as pessoas submetiam seus cabelos. Como elas plastificavam suas formas, seus olhos com pequenos pedaços de vidro. Ele nunca se sentira belo, apesar da idade nova e de respectiva vaidade - comum entre os da sua idade – ele se manteve do jeito que o puseram no mundo. Seu cabelo grosso liso emaranhado, sua pele pálida de tantos desvios por sombras nas ruas, seus olhos fundos surrados.
     Olhos que nunca foram de importância. Sempre fechados durante algo que não lhe interessa-se, ele dormia durante a rota do ônibus; durante as aulas; durante o casamento da irmã mais velha; e até durante a morte dos parentescos próximos. Não que fosse desrespeito, era apenas seu modo de ver o mundo.
     O que as pessoas de seu convívio não percebiam, era que isso não era um atraso ou doença em sua vida. Ele sabia que vivia no mesmo tempo em que os demais viviam. Apenas vivia de uma maneira diferente, dessas mesmas. O fato de não se relacionar com nenhuma garota de seu bairro. O de não ter um objetivo em sua estrada de vida. O de não procurar um trabalho e começar a juntar dinheiro para a casa própria, não o fazia pior, ou melhor, que ninguém. Só o fazia diferente.
     Até que um dia seus pais o pressionaram. Encabulados com a situação de seu filho estagnado em uma rotina de lençóis e cobertores o puseram contra a parede. Exigindo uma providência dele, perguntando qual a área de emprego em que iria procurar como um ofício. Logo o garoto com o rosto amassado e remelado respondeu: trabalharia como servidor público.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Centralizados


     Nossa relação, ás vezes eu penso, como se ela fosse igual a uma estrela. Não o Sol. Porque o Sol não pertence à relação de ninguém. Por ser tão importante e lembrado, poderia ser a relação de Deus com os homens aqui da Terra. Como se os humanos tivessem vontades avassaladoras, e assim, explodissem como vários átomos dentro de um todo. E ai vem Ele nos restringir, nos podando com a gravidade que mantém essas explosões juntas e centradas. De uma força muito maior. E assim em uma constante – talvez não por muito tempo – harmonia.
     Mas a nossa relação está bem mais longe disso. Nossa estrela nem perto dessa galáxia está. A luz que vem dela, nem por telescópio pode-se ver. Porem as vontades que causam essas corriqueiras explosões na nossa “estrela”, vem de mim. E essas restrições e censuras da gravidade que me mantém centrado, é você quem faz. O pior é que eu não agüento mais – a nossa estrela é frágil.
     Ela nasceu nova, em tempo curto, já para envelhecer. Seus olhares furtivos, minhas indagações. Seus cortes ligeiros, meus desabafos abafados. Eu quase morro quando você faz isso. Você sempre faz isso antes que eu morra. E apesar de todo esse alvoroço, me prendo em uma esperança. Você não sabe o que acontece com uma estrela no final. Seu coração já sente apesar de sua consciência não notar. Sua gravidade vai caindo, e vai perdendo essa restauração que me mantêm louco. À medida que você se aproxima de mim, meus desejos vão ficando mais intenso, minha explosões mais fortes.
     Eu expandirei. E vou engolir tudo que está a nossa volta: Seu corpo; suas roupas; seus itens. Vou apoderar do seu cheiro; dos seus dentes; das suas orelhas. E quando achar que tudo está fora de controle. Vou reduzir a um ponto, e fingir que toda a sua gravidade me dominou. Só para te ter, junto a mim. Em um ponto.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Par de Asas


     Nesta cidade, aonde a neve é cinza feito cinza, eu me perdi. Não que eu não saiba o mapa, ou o sistema das ruas. É que o frio; o tempo; e o meu passado vão em uma vertente, que se demorar, congela-me.
     Nascido humano, renascido no que sou. Hoje depois do encontro com Ele e após ter apagado minha memória, vejo o quanto sou... Diferente. Aqui no Alasca, aonde não há porque ficar, nessa península que a um salto chego à Rússia. Fico por observar: resto de mar; sal em cubos transparentes; água cristalina. Hoje tenho a função de atender todos os habitantes do continente, e assim usufruir dos meus poderes para ajudá-los.
     Nas costas, onde não se vê marcas, posso sentir a pressão do vento cortado a esse impulso azul que surge quando resolvo voar. Eu atravessaria as faces do mundo diversas vezes se soubesse aonde pretendo chegar.
     Afinal, não precisa ser um anjo em meio ao apocalipse para saber do que estou falando. Um homem sem métrica do destino, ou dos objetivos, entenderia facilmente... A minha angústia.

sábado, 8 de maio de 2010

Copo de Argila


     Todos se concentravam naquela noite. A penumbra da cozinha do visinho ligava, e rebatida na parede tornando do seu apago um sinal. O senhor Jon não gostava do cheiro da cidade, e então abria a janela do cômodo em que tangenciava o corredor das casas, no qual Rosa nunca soubera que sala era, ou se era quarto. As casas eram vagas em todo espaço, e assim, como numa situação àquela exigia silêncio, e audácia.
     Uma janela quadrada distante de um prédio acendida apagara, e o “esparro” foi alcançado. Ali na outra janela, morria Rosa, nascia Lisa. Ela como toda boa moça, e como sempre vencia em jogos de investigação de tabuleiros; era a mais esperta. Sua porta fedia a perfume de lima cítrico, sempre que deixava seu copo de argila regado a leite de soja nos trilhos da janela de correr.
    A penumbra havia se apagado. E Lisa precisava ser esperta, o seu visinho já desconfiado fechara a janela. – ele estava com mais remorso ainda da sociedade jovem residente. - A porta do banheiro se fechara. Não era um banho que iria ocorrer ali, só uma visita a privada. O irmão de Lisa também tinha desconfiado. Ele fecha a sua janela silenciosamente. O cheiro de lima enobrece, o copo de argila se esconde da janela com cinzas. Lisa havia fumado o primeiro e o ultimo cigarro da noite. E todos foram dormir, desconfiados.

terça-feira, 4 de maio de 2010

A Sinceridade no Amor


     Assim quando não tem nada para fazer, tiro o dia para te ver. E pronto, já vem às características mais aventuradas; mais elaboradas; e mais aveludadas. Quando o amor é perfeito temos mania de sempre voltar àquele aspecto. Como se sempre existisse aquilo na pessoa. O cheiro gostoso, o olhar sedativo, as brincadeiras executadas só para encostar – passar a energia de um para o outro – e assim tornar daquele sentimento o mais fato do que era.
     Quando esse amor existe, é como uma irmandade. Nós nunca avançaríamos para o próximo passo, se não houvesse uma série de fatores que contribuísse – uma festa, uma bebida a mais, um idéia de uma amiga. Pois somos assim, ás vezes para alavancar um amor, precisamos que Deus e o mundo aponte o dedo na cara de cada pretendente e diga: “Vá meu filho, esse é o que está mais propício!”.
     Porque somos assim, sempre precisando de uma prova. Aquele elo, que no caso do casamento é pequeno e de ouro. Aquela prova de amor, que levam os mais corajosos a pularem de pára-quedas com ele escrito “Eu te amo!”. Que fazem as pessoas pularem de Bungee Jump gritando “Quer casar comigo?!”. Que fazem pessoas gastarem fortunas só para voltar àquela viajem no caribe. Aonde vocês se encontram pela primeira vez. Para assim tomar uma ação que seja, no entanto, mais emocionante e assim tal voltar àquele momento.
     Tudo e um pouco mais, quando o necessário mesmo, é só chegar a uma posição na qual a pessoa te escute. Olhar nos olhos do interlocutor, para ele ver que a mensagem é para ele, e dizer a pequena frase: “Eu te amo.” – Pronto! Curto e lindo. - Mesmo que não funcione, para todos os casos, de mim vocês podem ter certeza: Estarei sendo sincero.