sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Amor Sala de Espera


     Tudo está atrás, todas as verdades, todos os documentos. Tudo que é mentira tem atrás a verdade. Um dia pude ler que quando não se lembra de nada, logo tentar lembrar, torna as lembranças mentira... por nunca haver o que lembrar.
     E é assim que gentes como eu vivo, lembrando do que não aconteceu, como alguém um dia me disse – alguém importante – nostalgia do futuro. E é assim que espero que as coisas aconteçam. Todos os fatos, que eu imagino. Aconteçam em algum tempo, em algum espaço do futuro.
     Por que cada dia em que eu não entro em sintonia com você, me sinto um minuto atrasado atrás do minuto anterior. Que também se atrasa, e me deixa assim: atrás do minuto, que está atrás das horas, que estão atrás dos dias... em que eu não tive você.
     Sentir-se numa sala de espera que o momento nunca vem, e imaginando várias versões, imaginando o que tem e não tem. Vindo sempre a demora, de te ter nas costas correndo nos campos dos desejos realizados. Sem se sentir atrasado.
     É como o futuro fosse uma caixa, aonde escondemos nossos sonhos e vontades, debaixo das nossas camas. E é como se, sem querer, quando dormimos, sonhamos com tudo isso que colocamos dentro dela. Querendo incisivamente que tudo o que está lá, salte para fora, e aconteça no agora. Sem demora.
     Nós não somos românticos. Nós só metemos os dedos no ponteiro das horas do relógio, toda hora! Para que o que tem que vir venha – assim como nós um dia desejamos – desejando.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Desabafo, Descompasso e Reticências


     -Ei... Tudo bom?
     -Nossa! Quem é... Você mesmo? Eu não... Estou...
     -Para de ser idiota!
     -Ok... Eu só estava brincando...
     -Ham... Ok.
     -E ai!? Qual é o motivo de...
     -Era que eu... Eu estava...
     -Você...?
     -Calma! É meio chato... De falar... Pelo menos com... Você.
     -Por quê?
     -Tipo...
     -Hum...
     -Eu preciso te contar uma coisa... E não sei bem por onde começar. E que eu sei que não se passou nem mais do que uma semana. Mas o tempo anda destorcendo as coisas. Meu carro está cansado de atravessar a cidade aos prantos, e eu quase morro a cada fim de expediente... Eu não sei se você... Está...
     -Calma! Alice... Fale devagar... Ok!?
     -Desculpe... Parece que agente não se fala a um maior tempão!
     -Pois é, mas hoje é terça. E agente se conhece a dois dias.
     -É!
     -E você sabe... Como eu sou...
     -Não! Eu sei! Eu sei que você não está acostumado...
     -É; e ainda sou um pouco lerdo. Apenas diga divagar, para eu ir absorvendo, ok?
     -Ok... Escute, eu sei que não tem nada a ver. E que eu estou complicando de mais. Mas as coisas não são como ás de domingo eram. Eu não me sinto a mesma... Pessoa. Eu me sinto uma idiota! Isso sim! Eu até ando cozinhando! Eu... Aqui eu preciso de te ver...
     -Tá, mas não dá pra explicar, tipo agora!? Eu estou meio...
     -Karlu...
     -...cheio de trab...
     -Karlu, eu amo você.
     -...
     -Eu sei... Eu sei... Você não... Mas... Por favor, me encontre naquele café do lado da loja de sapatos? Lá tem um cappuccino ótimo, e eu estou morta de fome! Quem sabe se agente conversasse e daí agen...
     -...
     -Karlu? Você está me escutando!? ... Karlu!?
     -[tututu...]

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O Conto da Louva-a-Drama


     Ela havia prometido para si mesma, que não se revelaria sobre tais condições. Seus instintos o matariam, e não era preciso estudar muito para saber disso. O amor entre os dois poderia resultar em filhotes, e os filhotes resultariam na morte de seu amor, pelo bem dos filhotes.
     Assim, ela viveria submersa, atrás dos varais de caule de cada planta. Daquela floresta tropical densa. Deixaria o calor que cada dia subia mais, tomar conta de seu ser, sem que ela se prontificasse em tê-lo.
     Ela era uma Louva-a-deus, e teria marcado em seu destino o ato de reproduzir, tendo ela que tanto amar, sem poder estar. Sendo assim, como ela sempre o queria por perto, e vivo. Viver seu amor atrás dos pequenos gramados e arbustos floridos da floresta sem conhecê-lo. E tendo vários outros, para tomar seu lugar, e os matando para realizar sua função e alimentar seus filhos.
     Era assim, para ela, idealizado e imaginado. Nunca descobriria o risco de amar verdadeiramente alguém por intenso podendo assim perde-lo. Ela se contentava em ver seu doce Louva-a-deus, como um próprio Deus, inatingível! Em que ela previa que logo viria uma parceira, e tiraria a única razão de todo aquele apego. De todo aquele cuidado, louvado.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Desejo Noturno


     Eu vou dormir de janela aberta, sim fazia calor. E o perfeito nisso era que fazia. Perfeito era tudo o que agora não faz diferença, quando estou do teu lado. Todos os lados da verdade somem. Tudo fica aberto, tudo fica claro, nítido.
     Hoje a chuva nesse noturno sentimento puro me faz lembrar seus olhos escuros, turvos de desejos por mim. Turbulenta minha tormenta de não de te ter, por enquanto. Sei que as musicas que você cita em escutar, são para se lembrar de mim. Eu sei que suas ironias são carregadas de verdade, sobre o que eu sou para você.
     Bobo, é o que você persiste em me chamar quando não há o que dizer sobre como se sente do meu lado. E o frio que entra nesta janela, me convida para perto de você tendo de tão longe de mim, me roço ao cobertor esperando tal momento.
     Eu, bobo, e na chuva: é como eu quero estar quando eu puder te ver - E te ter.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Número de Série


     Ás vezes, no martírio de uma tarde, chego à pensar em Deus. Não de uma forma cristã. Mas de um jeito mais “amigável” e até mais íntimo do que essas pessoas que ficam berrando em cima de um palco, para um determinado público. Gosto de investigar, algumas possíveis maneiras em que ele cria o ser humano. Qual a sua “doutrina” para isso, e como ele as caracteriza seus processos.
     Assim, logo com a experiência mínima porem significativa de minha vida, penso nas pessoas em que eu infelizmente tenho mais contato. Pessoas extremamente superficiais, e com uma personalidade extremamente opaca. Cujos sentimentos dos quais já questionei se encontram em paralelo vão. Tanto dentro desse vão, que tais seres mal têm isso em conhecimento de sua vida.
     Pessoas que talvez Deus criou só para preencher a cota de vagas na terra, e que não passam de cópias. Andróides que não possuem limites, pois nem sabem o que é isso quando se fala de um tabu próprio. Seres cujos devem possuir um número de série no qual ainda não encontrei. Pessoas que possuem a programação que não conferem com os meus princípios, pessoas sem princípios. E que quando respiro devagar para acalmar tais repulsas, ouço Deus dizendo-me em voz sábia: -Acalma-te meu filho, eles não sabem o que deixam de ser.
     Talvez eu até possa entender a função delas, sem elas não teriam pessoas nas quais eu iria gostar. Pessoas com personalidade, pessoas que são meus amigos, alguns da minha família, e até outros de níveis de importância semelhante ou inferior.
     Em fim. Vai uma dica de quem tem olhos de jovem, e coração de velho: Se você é uma dessas pessoas que nasceram com um número de fábrica em série, procure a assistência técnica para uma manutenção geral.
     Você nasceu com defeito.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Felinos e Gatos




      Meus olhos estavam bem mais negros, eu me via agora no futuro... Não em um sonho. Estava com várias bolsas de nylon carregando uma câmera chamativa, com alguns papéis... e minha fadiga um pouco cansada. Cruzei a porta do meu apartamento que nem vi que tinha aberto. Numero 203, cujo o condomínio possuía o numero da soma do meu apartamento em blocos de prédios.
      Eu era até feliz, um pouco mais adulto, mas me sentia mais belo. Sem espinhas nem cravos, apenas a barba mínima que eu insistia em tirar todos os dias na lâmina seca do barbeador. Pelo peso, eu sentia que tinha muito trabalho a fazer, e pouco sono. Foi quando eu senti falta de um pretexto:
      -Pumos, se ta ai!?
      Recordei-me; Pumos era meu gato, um felino lindo todo negro que comprei em uma feira da cidade quando ainda estava para me mudar. Minha mãe não curtiu muito a idéia, mas agora eu era independente e era isso que importava.
      Eu não o encontrei, achei estranho... Ele sempre me recepcionava quando eu chegava tarde do trabalho. Porque ele sempre acordava tarde, à noite.
     -Pumos!? Cadê você?
      Estranho... Eu agora estava com medo. Pumos sumido. Seria o caso de algum assalto? Ocorrido na minha casa e eu tolo de filme não estava sabendo?
     -Pumos é sério! Não tem graça! Apar...
     Nós ficamos imóveis. Eu e um ser que eu tinha certeza não ser Pumos. Porém, era de forma humanóide, olhos negros idênticos aos do meu gato, braços arredondados, pele avermelhada, morena e lábios já beijados.
     -Você!? O que...?
     -Desculpe não ter avisado que viria, eu tomei a liberdade de pegar a chave com a sindica do prédio... Não se importa né?
     -Não... que isso, eu... Eu... Só pensei que...
     -Ok... Você se esqueceu também né?
     -Pois é, eu... Acho que foi isso.
     -Não tem importância, eu errei também. Belo gato! Eu não sabia que você gostava... De...
     Foi quando o maldito apareceu, me olhando com aquele olhar felino e desconfiadamente constrangedor, de quem eu devia algo e não era a sua ração.
    -Pois é, esse é Pumos, o meu... Gato.
    -Legal...
    -Em fim, fique à vontade!
    -A casa é minha?
    -É... A casa é, sua... – Solfejei entre rubras febris.


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Sr. e Sra. Escribas


     Onde pisamos, os sapatos são iguais. Ok, eu nunca vou conseguir ter o mesmo numero que o dela, pois meu pé é muito maior que de tal fato. Porém, temos o que nos torna juntos, o que nos torna conectados. Seja o dom da escriba jorrado de sentimentos ou mesmo o nosso jeito. Cada um com seu estilo, cada um com seu meio de registro: ela no papel e lápis, eu no teclado de um computador. Aonde o medo vai, levamos a importância de um com o outro, juntos. E nisso vai a historia que passamos: as lembranças, as brincadeiras e pequenas brigas. Nada é comparado com o limite. Por que ainda não descobrimos o nosso limite, tudo é irrefutável quando estamos juntos, tanto fumando escondido, quanto tomando um café com os demais. Todos em contrastes para nossa inspiração. Ela capta o tudo em descrição, eu capto um todo em detalhes. Até inspirarmos de novo; Carregar em palavras, jogar em um texto – crônica ou conto – dar mais um gole no café, virar um para o outro – concentrados um nos olhos do outro – e dizer com fervor na amizade: “-E ai Cabron!?”

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Trauma


     Era apenas um episódio, para mim, mas minha mente faria daquilo uma eternidade. Uma história, um livro que foi resumido por mim pela velocidade dos fatos ocorridos. Pela ferocidade da minha angustia, da minha vontade de saber, e ter. O coadjuvante me traria desejos que se arrastariam nos meus lobos por um bom tempo. Ou por até o tempo previsto em que eu ainda não o esqueci.
     A personagem era tudo aquilo que eu poderia ser, porem ainda sim ela tinha mais sorte, pois estava na historia: ao contrario de mim. A timidez é um fato que cruza em tangente eu e ela, contra o coadjuvante e ele. E torna tudo mais difícil. Tudo mais imperfeito. Ver que com ela, a personagem principal, tudo da certo. E comigo tudo é ao contrario, como se não houvesse fim.
     A diferença? É que os personagens de um livro têm o privilégio do ponto final, no ultimo capitulo. Já eu? Tenho que esperar até a hora da morte, para dar fim a esse amor.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Épocas, sentidos e sentimentos


     Como era bom aquela época. Aquela em que o passado não traz nenhuma ressaca de ter o tédio de ler mais um texto meu. Em que não tem dó ao iniciante, nem vigor ao veterano. Como é bom poder escrever, em uma época que se tem língua. Aonde alguém de uma grande maioria me entenda. Pois sei que não vai entender o que sinto, mas só de ler já me faz compreensível.
     Época do qual não se permite vincular nenhuma data, para não ter figurino, e para assim não ser gravado um filme. Época daquela que não se tem um estilo, padronizado. Época daquela que será época, e como ela mesma terá um próprio tema, um próprio sentido.
     Quando disparo para dizer sobre ela, remeto-me ao mistério, e obrigo a todos lerem, do inicio ao fim. Para assim não me sentir sozinho, como ninguém gosta de se sentir sozinho. Ter um sentido na palavra, para dar sentido aos sentimentos, e assim dar sentido a quem vai ouvir. Pois assim são os humanos no meu ver: Ninguém para mim tem sentido, se no que eu digo em palavras, não pode ser entendido. E assim vira um objeto. Um porem.
     Porem que mesmo no porem, ter um porem para fugir do ultimo porem o torna mais um porem. Pois assim levo a vida errante, colocando rotas de fugas dentro de rotas de fugas para se sentir mais fugido. E mesmo assim estar no mesmo lugar, fugindo para a mesma direção. Porque é assim que eu revivo a minha inspiração, voltando a escrever como naquela época em que eu escrevia assim.
     Deixando o sobrenatural me tomar como um copo que toma do vinho, antes do tomador tomar desse tal vinho. Cálice que foi calado pelo cálice. Cálice copo, cálice vinho. E voltar neles como uma historia, e voltar para na historia entender a época que eu era feliz.
     A época em que eu falava de olhos. A época em que eu sempre falarei. Pois sei que deles que saem todo o sentimento de um movimento voluntario ou não. Porque para mim é assim: Voluntários são involuntários à ação daqueles que não querem ser voluntários de coisa alguma. E sabemos da verdade: Quando nos perguntamos do porque do porque até o fim da explicação.
     Porque quando se tenta descobrir sobre o sentido de tudo do que fazemos, descobrimos na profundidade do fazer, que não tem sentido nenhum fazer aquilo que estava sendo feito.
     E é por isso que eu tenho saudade dessa época, pois eu fazia tudo sem sentido, e sentindo que havia um sentido, me sentia feliz. E saber que essa época era ontem, me faz sentir mais feliz ainda. Porque fui assim antes, sou hoje, e serei depois: Feliz.