Tudo está atrás, todas as verdades, todos os documentos. Tudo que é mentira tem atrás a verdade. Um dia pude ler que quando não se lembra de nada, logo tentar lembrar, torna as lembranças mentira... por nunca haver o que lembrar.
E é assim que gentes como eu vivo, lembrando do que não aconteceu, como alguém um dia me disse – alguém importante – nostalgia do futuro. E é assim que espero que as coisas aconteçam. Todos os fatos, que eu imagino. Aconteçam em algum tempo, em algum espaço do futuro.
Por que cada dia em que eu não entro em sintonia com você, me sinto um minuto atrasado atrás do minuto anterior. Que também se atrasa, e me deixa assim: atrás do minuto, que está atrás das horas, que estão atrás dos dias... em que eu não tive você.
Sentir-se numa sala de espera que o momento nunca vem, e imaginando várias versões, imaginando o que tem e não tem. Vindo sempre a demora, de te ter nas costas correndo nos campos dos desejos realizados. Sem se sentir atrasado.
É como o futuro fosse uma caixa, aonde escondemos nossos sonhos e vontades, debaixo das nossas camas. E é como se, sem querer, quando dormimos, sonhamos com tudo isso que colocamos dentro dela. Querendo incisivamente que tudo o que está lá, salte para fora, e aconteça no agora. Sem demora.
Nós não somos românticos. Nós só metemos os dedos no ponteiro das horas do relógio, toda hora! Para que o que tem que vir venha – assim como nós um dia desejamos – desejando.