quinta-feira, 31 de maio de 2012

Curioso Entender


     Eu estou adorando isso. E eu sei que vai passar tão rápido, que nem vai dar tempo para uma vida inteira. Entender esse sentido marca. Mas ainda bem que o sentido se desprende do entendimento. Viver perdendo as coisas é algo tão bom. É bom errar às vezes. No vazio de uma tarde, perder a tarde inteira. Se perder. Olha que coisa maravilhosa? Viver como uma mosca com o seu olhar multifacetado para o mundo nunca foi tão fiel. E esta visão caleidoscópio das coisas é o que me faz viver. Ver algo que era algo dar duas voltas e voltar atrás. Não era algo, era alguém. Mas eu voltei atrás.
     E ir 'indo', aprendendo um dia olhar pelo lado certo. Aquele lado que não reflete, e não fingi ser quem não é. O lado puro das coisas.
     Feito o buraquinho, deste instrumento, por onde a luz passa.

     O centro da mandala.

domingo, 20 de maio de 2012

Verbo


     Era uma vez como uma vez só pôde ser. De dente tantas vezes já concebido, onde nasce o ser. Um ser dentre desses seres com outras vezes. Vezes que só pode ser como as vezes que aqui veio nascer. Seres, vezes, eras. Histórias criadas, interpretadas e reescritas de dentro de cada ser. O mundo é grande apesar de ser um só. O tempo e único apesar de ser vários. O abraço do ser no tempo que insiste em viver. O pisar do ser no mundo, que insiste em do mundo gastar, tornando o tempo único. E quem se desgasta mais? O mundo, o ser, ou o tempo? Todos se perdem no amor próprio que possuem um pelo o outro. Em uma ciranda infinita que os homens dessa terra me ensinaram ser o viver. Viver é o que eu não quero. Nem de mim querer morrer. Quero ter a imortalidade da vez. Aquela que se repete infinitamente sem se perder. Deixando no mundo, no tempo, a marca dolorida de um único suicídio de oportunidade no ser. Ser uma vez, como uma vez só pode ser.

sábado, 19 de maio de 2012

Cólera Sanguínea



     Abster. Em um sentido único, como todas as palavras de nossa linguagem, nunca carregada de um só sentido, porem como todas as palavras que um dia aplicamos em vida. Ela sabia que abster só possuía um radical de sentimento. Até que um dia, um fato, um nome, fez com que sua organização pessoal do seu ego revirasse de ponta cabeça.
     Lídia era uma mulher que já fora menina. E tal afirmação não pudera ser tão obvia pelo fato dela ter carregado consigo sua maior característica infantil. Ela era medianamente jovem de uma maneira a não se definir idade. E possuía o dom da energia pura, a ser convertida em diversas tarefas. Coisas do seu ofício. Uma vida comum comparada a do que os homens mediam como importante. O que fazia com que qualquer fato incomum, parecesse corriqueiro.
     Porém Lídia possuía muita energia, de uma forma que seu recipiente de cristal humano não suportava na maioria das vezes. Essas suas vontades eram solvente em ultima instância, mais universal que a água. Que um cair errado de qualquer outra partícula, poderia modificar toda a configuração de seu todo. Colérica, sempre que exposta em situações pouco extremas sentia-se ameaçada e pronta para qualquer ato precipitado.
     Ela carregada dessa propriedade vagava o mundo com todas as referências de seu casamento. Por ser a única coisa que possuía em sua mente. Onde em um efeito confuso nobre e raro de uma mente pulsante, havia esquecido o único detalhe importante do portador da segunda aliança. Vinha em um liquidificador turvo da manhã, logo após a abertura da mente, e um pouco antes da abertura dos olhos. Seu eu procurava reviver todos os momentos juntos com aquela pessoa.
     Viajou entre as lembranças, lembrou de quando era muito nova, de quando suas pernas eram firmes e hábeis, de quando seu sorriso refletia no Sol, e assim era lembrada. Lembrou de seu primeiro beijo com seu jovem amante, de suas brigas de como ela era cega e tola com suas decisões. E de como ela queria ser novamente tudo aquilo que fora, porem mais calma, mais detalhista.
     Espreguiçou-se na cama, estalando as vértebras que ainda estavam duras. Abriu os olhos, vagou dois balões com o pescoço mole, e sua mão sobre sua nuca perfumada pela última noite, e parou sentada como se estivesse possuída. Ela não conseguia lembrar o nome dele. Ela havia rodeado todas as lembranças até o seu casamento. Lembranças felizes de quem nunca tiveram problemas conjugais. Mas mesmo assim não conseguia lembrar o nome de seu amado.
     Apertou os lençóis, com punhos cerrados e vermelhos de calores noturnos. Seu pensamento cintilava como as jóias da festa anterior. Sua maquiagem fervia junto com o corar de seu rosto. Havia uma falha. Seu medo, sua inocência de perder tal amor. O amor em que ela havia decidido em segredo ser o último. Por não conseguir tais sensações em outros, por se sentir conectada a ele.
     Eram tantos momentos bons, intrínsecos por ele. Sempre querendo analisar e trazer a superfície dos sentimentos mais dissonantes de Lídia. Ela sempre ficava confusa, pelo jeito que ele olhava seu rosto, seus olhos. Procurando em casa após cada encontrar aquela beleza em que ele tanto citava, olhava o espelho, sem encarar. Não se entendia, mas entendia-o, como se recebesse o manual de instruções errado. De como se meter com ele, e não com ela mesma.
     Estava farta de tentar. Vieram em sua mente agora os momentos de brigas. De incongruência, desentendimentos naturais da sede. Lembrou de como tivera que mudar para ter ele por perto. O respeitar, e dobrar seu espírito para uma sabedoria digna de mulher. Símbolo da força. Dominante, põe sua mão em risco, nas presas de um Leão, carta de tarô. Onde sua cria podia lhe matar, sem nem lembrar-se de sua dona.
     Esvaziou sua mente. Lídia agora era sua segunda personagem, distinta, consciente, realista, portadora dos olhos de Atenas. Reuniu todas as suas experiências, e de como já era e planejava se ver no futuro. Seu coração flagelado; batendo em quatro tempos na valsa. Experiente. Sua alma deixava de ser colérica e com todos os seus fragmentos passava a ser sanguínea. Ela possuía o controle de tudo, estava dopada pelo controle mental de sua vida adulta, estava se libertando de preconceitos infantis sobre seus sentimentos.
     Foi quando vacilou seus olhos. Sua pupila contraiu, voltando o foco do dia presente. Fez a primeira inspiração do dia, tomada por toda a sua historia. Neste momento, sentiu seu cheiro favorito. Uma mistura de campina vasta e plana, algodão, leite de mãe amada, trigo a ser colhido, ácido de ditador, dia seminublado, e a vasta sensação de território grande, país. Sentiu o peso pedante ao lado na cama, um calor desconhecido, no virar dos olhos para a esquerda, viu as iniciais em uma toalha bordada no cabide do quarto: L & R. Contraiu os olhos, desconfiada e surpreendia.
     De repente seus olhos arredondaram em susto. Via seu nome sendo bordado na toalha. Como se um anjo a tivesse ornamentado, com letras tortuosas em estilo de casamento. Via o & em contraste de ouro, sendo pintado pelos Deuses de todas as religiões. Rufar de tambores a cada formar das letras. E antes de completar a segunda letra do ser de suas lembranças. Foi deslizando os olhos no escorrer de uma panela amanteigada, esquentando cada vez mais a cada milímetro de queda.
     “-Rafael”. - Pousou seus olhos sobre aqueles cabelos grossos e despenteados de quem estava ao seu lado. Ela com os lábios vermelhos e suculentos de quem havia passado fome. Sentiu sua espinha tomar com frio toda sua estrutura óssea. Lídia sempre sentira isso nos encontros escondidos de namoro. Porem já não guardava nenhuma lembrança de quem era. Seu nome saltava em sua memória.
     Torceu seu corpo por cima dele. Sentiu no peito em brasa o calor tranqüilo de quem ainda estava em rota de sono. Sentiu desejos, vontade de estar no sonho dele também. Lídia aproximou seus olhos arregalados em seu rosto rosado, ajustou sua postura ao incomodo rápido de seu homem. E lhe beijou com toda a sua energia canalizada ao seu rosto branco-avermelhado, sem fazer estalos, abençoando em doutrina própria de quem um dia resolveu dividir sua cama.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Karma

     Pra desistir é um passo despreocupado. Uma forma sem sentido, o não tentar e entender. Dar quarteirões de vontade e não voltar. Sabendo daquilo que não vai dar certo. É fácil prever, escutar o destino, te falando o que não se deve fazer. Perder mais? Por quê? – Já era a era de dizer os nomes, falar coisas, complicar. O difícil se prende a aquilo que não é tentado. E ai se volta a questionar. Por que não tentar?
     Andar através do tempo de uma semana inteira, já com leve de não ter ninguém pra encarar. Por quê? – Para aqueles que carregam horas a fio de uma desinência no pensamento, sabendo que pode errar. E abrir o espaço, tirar fumaça do barro, ver que não é tudo aquilo em que outro nem está a gastar.
     Ele não gasta o mesmo tempo que você gasta no pensar.

     Desistir é um passo despreocupado prestes a se pisar.
      Meu कर्म.