quarta-feira, 31 de março de 2010

Os Pontos da Língua

    

     Certa vez me disseram que eu conheceria todos os gostos, e que tudo nas pessoas estariam juntas e que eu deveria aceitar elas com todo esse conjunto nelas anexado. Foi quando eu aceitei, e vim para velas de perto. Nessa mistura de cheiros, olhares e interpretações, essas pessoas me disseram que o que eu havia apreendido era tudo mentira. E que eu deveria saber dividir o que estavam juntas nelas, e que eu deveria ter discernimento para isso.
     Foi quando eu levantei, e recusei. Ter aquilo dividido em cada um, de cada um. Ter humanos, em xeque sem sentimentos, sem cheiros, sem olhares e interpretações. Fez-me de um vago sonhador, um profano depressivo. Vivi nas cinzas das telas pintadas a mão, em tintas pretas, vagos brancos e sombras a grafite. Tudo virou vento, pingos cinza e poças diluídas.
     Foi quando de todo esse conhecimento, o pedaço dessa receita eu mordi. E engoli como a comida mais cara e de um gosto ruim. Desceu “rasgando”. Como se fosse comer algo que não foi preparado para uma criança. Uma careta dessa criança eu fiz ao experimentar tais sensações: doce, salgado e meio-amargo. Saber que eu pude ter o melhor cozinheiro para ter feito isso comigo. Ver o que ele dedicou para isso.
     Foi quando eu soube o verdadeiro gosto das pessoas. E que se não fosse por esse cozinheiro, nunca saberia ao certo e viveria no mundo das cáries infantis. Sem saber o que aflige, influencia e deforma as pessoas dos quais eu tanto gosto do gosto que hoje provo com cuidado: doce, salgado e meio-amargo.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Lentes de Contato




     Aonde se enxerga, aonde há visão. Sempre em deleito do que pode pegar-se, daí sempre estamos propícios a uma nova ilusão. A filosofia nos faz entender cada dia mais esse impasse. Colírio dos olhos que de grossa lente de contato possui nossa visão.
     O que nos faz ver além do mais: flores aonde só a broto, filhotes aonde só a ovos. O que nos deparamos, sentimo-nos normais à situação. Tudo é só conhecido. Tudo é só conhecimento. E daí, os testes infortúnios nos passam um gelo, uma aflição. Saber que todo esse experimento foi iniciado pelo derrame de um deslize.
     Deslize aquele diferente dos físicos que ao se deparar com eles, tornam suas vidas em dedicações, e encontram a prova. Prova que é o único deslize que não pode ser provado, é um erro no código binário da vida, é uma chave aleatória. É a sorte de conceder a combinação perfeita da senha, nas poucas tentativas, do cadeado desse armário.
     Armário feito de água, que esconde o tesouro mais raro, como um oceano. Porém refrata a posição mais pitoresca, dando a incerteza na hora de agarrá-lo, fazendo de nós furtivos e amantes seres errôneos.


sexta-feira, 26 de março de 2010

Entre Elas


     Entre aspas, tudo é dito, tudo é citado, lembrado e defasado. Toda á informação, é passada em um ciclo sem fim de argumentações e opiniões. Todas em um telefone sem fio, que atribui atributos, que desqualifica e qualifica de novo. Tudo sai da minha boca, e chega ao seu ouvido diferente.
     Entre as falas, tudo que minha boca articula é diferente do que eu sinto. Tudo que sai dos meus pulmões é vibrado nas minhas cordas e muda o sentido daquilo que eu queria dizer. Todas as aflições, todo meu conhecimento, fato descrente vira crente e acabo virando mentiroso da minha própria verdade.
     Entre elas tudo é desconhecido, o homem que a usa. O uso do que é usado, e tudo vira o que será virado; E desvirado. Todo homem está dentro e fora das aspas, assim como o que eu quero que você entenda, e o que eu realmente entendo supra à elas.
     "Toda mentira está dentro e fora das aspas, toda verdade também."

terça-feira, 23 de março de 2010

O que você me pede sorrindo, que eu não lhe faço, feliz.


     Da lupa eu não consigo achar, microscópio já encomendei. Nos registros, nos documentos e cláusulas. Procurar de um modo que me faz por inteiro confundir. Mudar de tipo de gosto, de mídia. Trocar de telefone, te telefonar. Em vez de encher sua caixa de entrada – no e-mail – encho a sua de correio. Saber que há tantos modos virtuais de se receber um não. Tantas páginas, tantos ciclos... Tantas fotos.
     Revelar só aquelas que encontro você. No tubo de imagem lembranças congeladas ver. E no porta-retrato ver o filme que passa na TV. Você está se lembrando de que só tem um eu, mas está esquecendo que eu só tenho você. Falar dos outros como se não fosse eu, escutar de todos o que não merece pra você.
     Todo esse amor que jovens podem oferecer. Todas as cartas que eu tanto queria postar, tantas receitas que preparo sem saber o por que! Ou por quem. Câmeras recebem só o vento, ventiladores recebem só a luz. E nada se move, nada é movido por energia alguma, que possa me fazer mover.
     Aliás, pra que toda essa energia se no final, eu não vou poder te ver?
 

quinta-feira, 18 de março de 2010

Os Picos da História


     A história deixou de ser estória, para se tornar real. O tédio deu espaço para adrenalina, o alinhado deu espaço para as saliências, a mentira deu espaço para o impacto! Hoje não existem mais verdades, apenas uma vertente como ponta de agulha que passa a tocar na pele “macia” e perfurá-la.
     A diferença que agora damos atenção à dor, que agora damos cor ao sangue e tudo deixa de ser pús. Todos sabem quem se feriu, e quem foi ferido. O ato de amar agora é mais analisado. O homem em si na história, muda de centrismo do seu “universo”. O homem é só mais um animal medroso.
     E o que aprendemos nessas disputas? Que sempre há vencedores, tendo eles perdido para alguma coisa. Talvez para a própria vitória. Todos são amigos e todos são inimigos: o que muda é o contexto histórico. A cronologia. As exacerbações são urgidas, as guerras são declaradas. E as mascaras? Bom eu já conhecia os rostos, mais o importante é que elas voltaram a cair.

segunda-feira, 15 de março de 2010

No meio da noite; No meio de março



     Estamos no meio das apresentações, e tudo é mais perceptivo. Olhares cruzados, mãos anexadas. Existem cores, sons e luzes. E se vê movimento, se ouve músicas e se acende velas. Sou eu na tua frente, e você na minha. Tudo é ânsia, tudo é cólera. Estamos no meio da noite.
     Sentir tudo isso deixou de ser sonho. Agora toda a pele sente o calor, todo o nariz sente o cheiro, toda a boca sente a palavra. E se diz “oi”, e se responde “prazer”. Segue o “como vai você” e em contrapartida vem o “tudo bem, melhor agora”. E estamos no meio de março.
     Deixar o tempo levar nossa saúde, recuperá-la com os nossos vícios. Mestre de todos, são seus olhos negros. Aonde no doce branco voavam as cores, no preto ácido despencam e absorvem. Pois assim faz você com minha alma, quando fita minha instância me chupa em doses. Canudos de sorvete, me toma com leite, em goles de Ron. E assim vamos dormir dos sonhos e acordar nas realidades. Por que se logo assim nada existe. E assim logo estamos:
     “-No meio da noite; No meio de março.”

quinta-feira, 11 de março de 2010

Seu custo, o meu benefício



     Havia duas pernas, as dobradiças circulares eu nunca havia reparado. Pois sempre vinham tampadas, na propaganda do produto. Já as dos dois canos alinhados, eu já havia notado. Neles poderia ver os detalhes que me tornara fácil alvo da compra. Não eram cromados, nem de plásticos. E da loja, não se venderia ferro batido. Também não fazia meu estilo, não ia ficar bom no sofá lá de casa. Mas era sinuoso, bem trabalhado. E apesar de vir de fábrica eu poderia jurar que era artesanal. Todas as marcas, todos os cortes e falhos nulos no contexto da pintura. Era alto, e eu imaginava ser mais alto do que eu. Seria melhor assim. O que havia de novo, dos demais, eram suas cavidades distintas aonde vinha detalhes com duas pedras Ônix. Aquilo parecia ser indígena. E se fosse não me assustaria, faria logo o cheque pré-datado. Porem de todas as qualidades - que me atraiam para todo o gasto do meu salário e algum devedor a mais no crediário – havia um porem. Saber que nem com todo o dinheiro do mundo eu poderia comprá-lo. Não era assim. E não era essa, a moeda que compraria esse produto.
     

segunda-feira, 8 de março de 2010

360 Graus


Para a minha nova forma de amar
Para um novo ângulo de visão
Para o novo contexto
Para uma nova opinião
Para adorar todas elas
Para continuar te amando
Para parar em qualquer posição
Para parar de te amar
E parar.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Hoje



     E eu não vou te encontrar.
     Hoje...

     Por estarmos mais uma vez, no inicio do ano. E o calor, que eu tanto “amo” já está indo, embora outra vez. E isso é feliz, feliz o pranto do jasmim, vibrando de frio no jardim. A vontade de dormir mais cedo, vai fazer eu não encontrar você.
     E você de longe desaparecer.

     E se sentir, a ser o que não é, é ofício. Da civilização, vejo o mundo, lá de cima. Cantando sem pressa, vejo uma grande remeça, correndo em uma direção. E esse vago cidadão, entra contra a multidão.
     E ele não vai me ver.

     Quem anda na tangente, corrente que vai contra o tempo. Eu disfarço entre as gentes. Só para não me sentir sozinho. Vou com quem não tem opiniões, e são muitos dos que não tem.
     E é por isso que eu não te vejo.

     Por que estou aonde não deveria estar, na tangente. E você sempre está no mesmo lugar, contra gente. A onde está certo de estar, no meio. Respeitando seu zelo e opinião, indo contra toda essa gente.
     E é você que está certo.

     Porque não arrisco em estar, sozinho. E contra todos lutar, nadando. Contra todo esse rio. Matando, tudo que as gentes colocaram, em mim.
     E eu assim, purificar.

     E do que adianta eu ver tudo de cima, se eu mesmo não mudo minha rota, e não chego na minha. Eu acabo no mesmo lugar de todos, quando eu deveria estar contra todos. Do lado do seu lugar, vivendo.
     E é por isso que eu não vou te encontrar.
     Hoje...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Amor de Forja. És Forjado?


     Não se preocupe. Essa luz que eu conduzo, só eu posso ascender ou apagar – quando eu quiser. Você sabe que eu não me importo com isso. Que existe compositores, excelentes compositores, que gastam sua folha sob vários dias; Ou aqueles que sob várias folhas, gastam seu dia.

     E eles nunca sentiram teu cheiro. Sentiram?

     Eu poderia usar essa luz para muitas coisas. Você sabe que eu tenho a mínima vontade de não incendiar tudo isso. Por que eu odeio ouvir os outros. E que todos “sabem” muito do amor. E que para todos quando estou feliz, “canto” triste.

     Mas eles nunca viram seus olhos. Viram?

     Vê que para todos, o amor é como uma forma. Mas eles não sabem quem forja essa forma. E que julgam que a minha, é composta de angustia.

     Porem eles nunca beijaram seus lábios, beijaram?

     Lábios molhados da minha falta, da distância que cerca nossos destinos, nossas estradas. Da angustia em que sentimos nas rezas e orações sem um Deus fixo, em que rogo com fervor sua presença em minha cama todas as noites. Nas noites em que sinto frio, e que chove. E do amor em que bato e rebato para moldá-lo, e assim, encaixar perfeitamente no seu, sob sua medida.

     Aliás, eles nunca ouviram sua voz. Ouviram?

     Eles não sabem nada sobre distância, destino, angustia, oração e falta. E vem pra cima de mim, querendo forjar minhas concepções sobre o que é amor. Eles não conhecem seu amor, suas medidas, suas necessidades. Eles não conhecem minha forma, meu amor.
     Mas eles não vão desconfiar disso; e vão continuar a falar, falar, falar...

     A final de contas, não são eles que te amam. Amam?