sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Le Spectacle


     Como uma música, no fim de uma parte, eu pensei que era novamente o fim. E não era. Passaram tempos, climas, ventos, e agora chega mais uma vez onde o piano parece dar o toque final a toda aquela orquestra. E eu finjo entender, que eles vão me enganar novamente. Mas não.
     Agora era realmente o fim. A platéia se levanta, e nem todos queriam levantar. Aliás, todos não queriam. Estavam com medo do que estaria por vir. Eu já nem tanto. Nunca pensei no que poderia me acontecer, e não era agora que pensaria nisso. Porém o ato se segue. E quando pensei que teria de mudar de teatro, vi que aquilo era apresentado por mim.
     Vi-me ali, no foco da luz. Como todos se vêm, em cada vida. Aquelas mãos no teclado de marfim do piano enferrujado não eram minhas, mas as mãos no microfone sim. Estava terminada a segunda música. A primeira fora uma que nunca entendi o repertório, era abstrata.
     Começava a terceira música, e agora ela deveria ser mais formada. Não poderia ter os mesmos erros que nem da segunda, e nem a abstração da primeira. Eu estava formado, a orquestra afinada. Só faltava criar uma musica no improviso de uma vida corrida, perseguir meus objetivos. Assim como todos, em suas apresentações, devem seguir.
     Já a quarta, eu não saberia dizer como ela seria. Só sei que ela deve ser impactante, e melhor do que essa, a terceira. Pois tudo tem que ser perfeito, quando eu for cantar a quinta. E dar fim a esse show, que um dia chamaram de vida.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Tardios


   O por do sol em meados do verão, e seus horários loucos, me propôs naquele tempo vago um prazer enorme. Seguido de todo o relaxamento, misturado com a dor de quem fez muito durante o dia, eu só conseguia admirar aquele céu pavorosamente belo.
   As texturas douradas refletidas no mormaço da tarde faziam da estiagem uma obra divina. Toda luz que daquele único Sol saia, e que vidrava insistentemente nas costas das quaresmeiras. Árvores das quais são as únicas que conheci, e que sei o nome. Podadas de forma violenta em sua parte inferior da copa, pareciam esticar-se para me proteger daquela latente energia celeste. Nós, humanos, contávamos cinco e meia da tarde. Ele por sua vez contava ainda os milhões de anos que carregava em sua história.
   No contexto da minha mente, eu nunca soube o que, no reflexo dos meus olhos fazia todos os meus antigos amantes se apaixonarem por mim. Mas o que eu sabia, era que eu quase podia projetar alguns raios infravermelhos naquela direção. E me conectar com meu único e verdadeiro amor, o Sol. 

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Atômico


Eu quero que você seja rápido e destrutivo
Quero ver o seu núcleo me irradiar
Perder partes, e alterar o meu espaço

Não quero que quebre o espelho
Não quero ver o reflexo dele
Quero que desintegre a imagem

E que exploda dentro e fora de mim
Quero ver até quando vai seu efeito
E visualizar até onde consegue atingir
Ver o estrago feito, as conseqüências

E o quanto vai melhorar
Vou ver você ficar mais forte
Assim como a ciência fica
Diante da religião e da crença

Só não quero vê-lo com os outros
E nem ver o que vai fazer com os posteriores
Só quero você dentro da minha história
No passado, no presente, e no futuro

Sem nenhuma glória ou vergonha
Tudo dentro de um só tempo
Tudo em uma só voz
De nada ao tudo, e depois nada

Nada.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Vaga


     Eu tive um sonho, e um sono que me levou a tarde inteira. Foi derradeiro, pois dentre tanto tédio da realidade, algo me salva em um cochilo extenso. E neste sonho, você me aparece, com o olha triste feito o que tenho agora. Em um relance de rua, vem me cumprimentar com pesares de um relacionamento passado. Isso me deixava triste, por sentir tal tristeza em você, mas me deixava feliz. Eu nunca soube de vera o que lhe fez me abandonar. Isso sempre corroeu e ainda corta minha consciência. Eu nunca mais vou poder descobrir nada de novo teu. Eu joguei involuntariamente todo o tempo em que pudéssemos passar juntos. E tudo isso sem saber o porquê, sem saber o que fiz de errado. Melhor ter brigado por algo comum, perdido partes do que ter saído intacto. Melhor sofrer por algo que deixei com você, do que ter comigo todo o meu orgulho em que já conheço. Não me interessa ser aquilo que eu já sei que posso ser eu queria ser mais, conhecer regiões de mim mesmo no qual nunca conheci. Mas querer ainda no mundo de hoje não é poder. E permaneço com o sentimento de quem acordou, e não soube explicar tal sentimento de acordar. Esquecendo da hora que dormiu, até a hora em que acabou de acordar. Perdido no mundo.

domingo, 31 de outubro de 2010

Gosto Familiar


    Há dias em que a vida parece mais leve. Uma tarde; um tema; uma programação diferente para o final de semana; e algum café é o suficiente para um bom papo. Só que agora não são amigos, e sim a figura que para muitos a mais imperialista e governamental de uma instituição familiar. Dentre as preocupações maternas óbvias em seu rosto, ela me perguntava o que estávamos a fazer, e pedia para que eu não mentisse sobre os futuros acontecimentos.
    Eu fui assim cedendo àqueles olhos verdes e grandes de herança mal resolvida, que em choque com o imperador me fez deles só grandes, e não verdes. Disse assim a verdade, onde estaria com quem estaria e quando voltaria – no caso, só no dia seguinte. – Eu comecei em conseqüências de uma informação completa e segura, ir respondendo todas as perguntas, e o que eu achei que seria um interrogatório, acabou virando uma demonstração de afeto entre mãe e filho.
    Vieram então as curiosidades sobre o meu mundo tão diferente do dela, sobre os meus amigos, minhas ações, e meus amores. As preocupações com meu recente namoro fora logo dizimado, o relacionamento já havia sido rompido. Um alívio para uma alma materna. Depois as preocupações com os fatos dos demais amigos, todos eles envolvidos nesse meu mundo, em que sofremos por amores e por dúvidas muitas vezes não respondidas.
    Veio-me a curiosidade sobre o casamento imperial, eu que mal conhecia o imperador, procurei perguntar o que ela havia visto de tão fascinante e sedutor em meu pai, e porque ela rendera seu coração tão jovem e silvestre para tal membro urbanizado. Ela me disse que na época ele era diferente, do mesmo jeito em que ele tratava os amigos de forma carinhosa e alegre, ele a tratava. Eu retruquei dizendo que em certos – raríssimos – momentos ele ainda era assim. Ela por sua vez concordou, mas mesmo assim afirmou que antes esse comportamento juvenil era mais freqüente.
    Depois de tudo resolvido e questionado, chegamos à conclusão do que seria feito e do que era certo e errado para ser feito no final de semana. Com aquela doce impressão na boca do café, em que o tempo provara para nós dois – mãe e filho – que o tempo sempre permanece atuante, mesmo com resquício do sabor lembrado ou não. Eu sabia que meu pai iria mudar – para melhor ou pior não sabia ao certo. – Mas que apesar disso tudo, eu também mudaria e ela também mudaria. O tempo regia ações na mesma constante em todos nós. Iria me mudar; mudar minha mãe; meu pai; mudar o meu café. Permanecendo só o gosto do passado; do café; do bate papo; e da certeza do amor materno.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A Dor e o Alívio


     Era o marco da porta, e era o meu mindinho. Todo ele, junto aos seus quatros companheiros encaixados à vontade de estar descalço em casa em um domingo. Quando em um movimento mal visto, e em uma visão retorcida de velocidade, vejo-o beijando a beirada do marco da porta entre a esquina de dois quartos. E lá vinha ela seguida de um palavrão abafado pelas reticências. Ela fluía rumo aos meus tendões, viajando a cada bombear de sangue, escalando as escadas do sistema nervoso até chegar ao meu cérebro. É assim a dor.
     Sempre devagar para a consciência, sempre rápida para o desespero. Às vezes ela vem e traz um pequeno inchaço, às vezes é do inchado em que ela veio. Um corte aqui, um raspão ali. O importante é vive-la, como se nunca aquilo um dia fosse passar, e cessar. E depois de todo um processo rápido ou curto de aquisição de posse sobre ela, vem ai uma sensação de como ter um cão raivoso no lugar do machucado. Seus contrastes são como os pelos de um animal. Você sabe que ele é uma fera, só não sabe o quanto bela pode ser e o quanto deve temer-la.
     A dor de nível é uma dor que existem graus de variação, vai de acordo com a profundidade de um corte por exemplo. Existem dores constantes, feito fórmula da Física; Na qual uma delas é a dor de dente. A dor sob preção varia de acordo com a personalidade do sujeito; Se ele mexe demais no lugar, certamente vai continuar doendo. A dor interna pode ser aquela típica dor de barriga, ou às vezes é um tipo de dor que prova no momento que você realmente possui uma alma; A dor do parto é um forte exemplo! Existem dores que vem como terremoto; A cãibra é mestre em exercer essa função, vem balança tudo e depois logo passa. Mas a dor que mais vem sendo sentida e a mais famosa de todas não é a de porte físico, mas sim sentimental. É a famosa dor do amor. Ela é a única que sua medida pode vir a ser imensurável, e a única que pode levar as pessoas a sentirem outras dores.
     O bom é o que vem depois. Alias pra que toda essa filosofia se depois de todo esse sofrimento não podemos desfrutar o prazer do alívio? O alívio é tão famoso quanto à dor. Pois nele nós valorizamos a sinestesia do bem estar. Nele nós conseguimos pela capacidade humana de anacronismo lembrar o quanto aquela dor foi ruim, e assim agradecer aos céus por ter passado. O alívio mais remoto é o contemporâneo, vem com um remedinho que logo faz tudo passar. É desvalorizado pela impaciência dos homens. Não há drama nem cama, para que possa ser depois da dor, desfrutado. Mas existem aqueles alívios que vem depois da fuga de uma diarréia, de uma exprimida a mais no furúnculo, de uma corrente de água gelada na queimadura. Esse alívio natural é delirante! Vem de um ápice de dor, para assim a brisa remota do alívio.
     Sou um tipo de aliado do equilíbrio dos dois. É essas coisas que fazem a vida valer à pena. O que rege a degustação de ambos – tanto do alívio quanto da dor – é o tempo. Só ele fere, e só ele cura. – Às vezes mata, mas não vem ao caso. – Só ele pode nos tirar aquilo que um dia vai ser devolvido, mas sem o nosso consentimento. Quando sentimos dor nossas mentes afogam em um desespero de não haver mais esperança, e daí quando vem o alívio sentimo-nos felizes, mas de uma felicidade serena que só é adquirida com essa valorização de bem estar. Sou também apaixonado pelo tempo, apesar dele me levar em troca justa e fria alguns anos de vida e de saúde, ele sempre me devolve aquilo que eu possuía antes. E é isso que traz à minha felicidade de viver! Mesmo quando o caso do amor é critico e cego, de pensar que nunca vou conseguir deixar de amar algo ou alguém, logo penso no futuro reconfortante de um alívio. Que só o meu amigo tempo um dia pode me trazer.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Discos Arranhados

     
     E ela era assim, a cada amor desencantado, um disco arranhado. Ela adorava francês, conheceu um cara que também curtia francês. Ela sugeriu Carla Bruni. Eles transaram no carro e quando ela voltou para casa, nunca mais ouviu Carla Bruni. Veio outro. Ela gostava de Bon Iver, e quando ficou com este outro cara, pecou em colocar essa música para tocar. Ela fugiu, ele a procurou e ela nuca mais quis ouvir Bon Iver. Dias nublados, e ela resolve procurar outro. Ela agora ouvia Rachael Yamagata, ele gostava mesmo era de Lady Gaga (fútil). Daí foi ela conceber seus beijos na calsada, e lá foi Rachel ser deletada da sua playlist. E veio do ultimo, ela resolveu tomar jeito. Ela o fez no cinema enquanto tocava OneRepublic, ela gostou dele e de OneRepublic. Resolveu escutar e acabou curtindo. Agora ela prometeu em não fugir mais, e assim selou esse compromisso. Só que o destino resolveu pregar uma peça, e ele que resolveu abandoná-la. E ela? Deixou de ouvir OneRepublic. Ela ainda o quer, mas não o disco do OneRepublic. Pelo menos agora ela ainda tem Ingrid Michaelson e KT Tunstall para ficar lamentando a perda. Enquanto todos os outros vivem suas vidas, ela permanece arranhando os outros discos, sem ouvir os que mais gosta com alguém, pra não ter que arranhá-los. Em fim, dias nublados discos arranhados.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A Dúvida


     Estar à deriva, na deriva por deriva. Estática em estado, pior do que estar abandonada é estar em duvida de estar sozinha. Pois é assim que ela se via. A sala, a escuridão, e a noite. Todos os endereços pregados no chão, todas as idéias. O pior de estar assim é ser terrivelmente bonita. Ela havia apostado todo seu amor, jogado pra Lua. Apostado com os astros, que daria certo. Abrir os olhos, e estar chorando no chuveiro.
     Mas as semanas, compostas do tempo apropriado de sete dias cada uma, passou para ela como se fossem meses. Não anos, pois a dor ela não é pior na overdose. Mas é pior quando o gole é perfeitamente bem medido. Sem ultrapassar nem faltar, o tempo contado que foi suficiente para ela ficar sem seu vício. Mas nem lembrar, e nem esquecer. O tempo certo para ela queimar todo o seu coração quando a dúvida vinha.
     E assim ela resolveu após vários dias juntar os papeis. As provas ali impressas à mão, no chão. De tudo aquilo que ela havia colhido durante a presença da substância em que a viciou. Ela pegou tudo aquilo, selou com duas voltas no elástico. De forma que preenchia a sua mão, delicada mão. Ela parava o momento, para se observar.
     Seu rosto era belo, pardo de contrastes ponderados à beleza. Era bonita e cobiçada por certos passantes, em que ela nunca percebia de quem lhe havia gostado ou não. Fazia de seu nariz uma imponência, na qual era a única afronta em seu rosto. Vivia de rosto curvo, baixo rente aos joelhos. Mas seu nariz não. Sempre apontado para frente, avante àquele que atrapalhava, ou incomodava. Seu corpo delgado feito fio de malte, parecia nunca ter fim. O quebrar do seu movimento, o jeito de olhar, olhos de lentes telescópicas apontadas para o céu. Escuros como os céus de noite sem Lua. Grandes e ofuscantes não refletia, apenas refratava de um jeito que fascinavam o observador.
     Saíra de casa, precisava honrar os compromissos, bem atuante com sua tristeza como sempre. Quando ela o avistou. E ele estava lá a observando. Ela já o havia percebido há muito tempo, quando cruzava a esquina. Mas ela preferiu esperar, pois já havia esperado por todas as semanas, e não lhe custava mais esperar um pouco pela àquela visão. Fora ele, o seu vício. Ela estava cansada daquela substancia, e queria não ter mais que enfrentá-la. Mas ele estava lá, e já se aproximava. Ela levantou e o encarou. Trocaram menos de um baile de pares nas palavras. Era o suficiente. Ele não tinha olhos de quem a abandonara. E era isso que a distraia.
     Ele se foi, eles trocaram algumas informações sobre o próximo lugar a se ver. Mas ela não estava certa se o veria, e ele ainda era indecifrável para ela. Mas mesmo assim, estava certo. O destino iria reger da melhor forma para os dois. Ele havia a desculpa ainda atuante, de que era inocente. Ela ainda estava abandonada, mas ainda paciente. O que o tempo curou, voltou a ferir-la. Ela indignada com a volta daqueles sentimentos de dúvida, meteu sua delicada mão novamente no bolso, e de lá tirou os papeis enrolados no elástico. Ela voltou a analisá-los. Ela precisava saber! E ele?! Ele continuava com olhos de quem não a abandonara.
     

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Rolamentos


     Mente moderna, anos avante. Corpo jovem, papo reto. Comunicação aberta, lábia, persuasão, manipulação. Flexibilidade, maleável, adaptação. Situação, exploração. Teste, análise, experiência sem proteção. Infecção. Doença, vício, hiperingestão. Gula, absorção, osmose, estando com fome ou não. Escassez, perda, problemas e mistérios. Escolta, esconde, escalas e curiosidade. Distância, distinto, destino, disperso e saudade. Discernimento. Apuração. Contato e colisão. Realidade, fatos, notícia, manchete e reportagem. Preção. Estopim, conflito, avante em revolução. Atrito, desgaste, arranha com pó ou não. É o fim, que prevejo, nesses termos lidos no contrato ou não. Assino, embaixo, de todo amor, após o X marcado, de caneta azul ou preta na mão.


terça-feira, 28 de setembro de 2010

Rendo-me de Ti


De mim até você existe um universo
Que criamos com rapidez
Tanta velocidade que nós esquecemos de criar um mapa
E nos perdemos de vez

Mesmo que incerto, acreditei em você e selei
Eu te tendo sempre, até você me perder
A carta que dentro veio às novas regras
Através do tempo que vejo nos dissolver

De mim até mim mesmo, veio agora o caos
Você me judia, tendo a falta, o chicote
Eu não te tenho e você não me tem
O que nos liga é a ponte dos ponteiros

Falta-me o engano, o desespero e as indagações
Resta-me a inércia, a imperícia e as reclamações
Não vou colocá-lo em verso por não precisar assim ser
Me fez sofrer até agora, de todo tendo que permanecer

Rendo-me misturo-me sem ti, por agora não te ter
Nesta prateleira de reagentes, vou usando todos os frascos
Organizo todos em prosa e insiro na seringa de corpo presente
E injeto-me de manhã, feito vitamina!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Conciliações


     Triste eu sei que é. Não ser um vício comprável no caixa da padaria. Tornam as coisas mais difíceis para mim. Sair de casa, e procurar na cidade a presença. Seja à noite ou de tardizinha. Tudo se transforma, e pede para que não se perca tempo. Essa cidade é assim! Ela força os participantes dela a tomarem rumos, seguirem objetivos e cursos nos quais os respectivos cidadãos têm que saírem zarpados de casa.
     Mas existem noites, em que é inevitável ir devagar. Quando tudo perde a graça, ou se tem graça de mais. Nos dois extremos, o tempo pede para se curtir-lo mais. E é assim que aquela música portátil vem com mais tonalidade, e é ai que os detalhes de ambas as coisas vem com mais veracidade.
     Tanto o sentido do que se ouve quanto o sentido do que vê. Eu previamente não sei o que faço aqui, mesmo não deixando de fazer. Sendo assim, sigo o curso de velas bambas e soltas entre as artérias e intercessões dessa cidade. Topar com você é pra mim, meu maior preço. Mesmo sabendo que não vamos encontrar, sempre estamos a aguardar aquela ligação. Aquela resposta. Deixar de te ver é o que torna a minha vida normal. Acho que a de quem ama também, certo?

domingo, 19 de setembro de 2010

Enxergar-te


     Perfeitamente normal, e admissível é amar. Quando entra na rotina. Vem como manhã de quarta-feira. Derradeira e normal. Possível. Não altera nenhum sentido, é só gastar o tempo que era à toa, que era pra você. Que era sem prazer, sem graça. Aquele tempo em que você fumava, e compunha aquela música.
     Vem como esta que finca no ar, sem machucar, sem reagir. Cheiro é mais leve que o amor. Quando não há flor, ele vem do nada, lembra teu, amado. Nem que esteja claro, vem sentir assim, toque no escuro. Toque material, toque carnal. Morder partes de quem já morreu, sentir na textura o breu, de te morder.
      Ter que vingar, esperar puxar todo esse anzol. Nunca me fez bem, não é bem assim. Como colocar, isca pra matar. E vela sofrer, se agonizar e salvar. Se apaixonar, filme de terror, os olhos fechar. E encostar, na paz do silêncio. Tudo que é escuro, e no claro invisível é o que eu sinto. Vidro limpo, depois um espelho, depois você. Sua foto; isso é o amor.
     Não te enxergar, enxergar-me através de ti.

domingo, 12 de setembro de 2010

Presente


     De gás me tornei liquido. É o meu condensador. Quando não sei mais o que sinto, e fico buscando nomes para descrever, o que está aos pulos dentro de mim. Sei que tudo isso é devido reações à falta de seus beijos. Pois agora sim, estou dentro desse ciclo social que é o amor. Ele, para se participar, tem como meio regras árduas e até masoquistas que nos levam a loucura. Mas sem causar dano algum.
     Quando volto a pensar agora que sou de liquido, conjelo-me, e viro a pedra. Que espera pacientemente em seu lugar. Eu gosto de estar assim, parado. Quando se sente essa dor, que nos cortam aos ralos e ralados de um coração. Onde só a presença do outro vai curar, anestesia em um frio gostoso trêmulo essa dor de pele, que só os amantes sentem na carne.
     Penso outra vez, e sou espírito. Vagando por todo esse vale, elogiando todos os parados, que só sentem o amor. Todos sentindo. Véu de azul, ar de gotas. Vem umedecer a minha tarde. Vazia e sem graça, com toda essa perícia que desperta meu charme. Charme que eu só tenho por você. Como um presente guardado, não tendo como mudá-lo para satisfazer demais. Assim é você pra mim, guardado.

domingo, 5 de setembro de 2010

Lá no Lar


     Meu lar está na distração do pensamento, ele não é fixo nem permanente. Ele sempre está fora do chão. Quando fecho os olhos, consigo encontrar cada móvel em cada lugar. Tudo decorado com minha imaginação. Meu lar infelizmente não fica em casa, como os das demais pessoas. Pois ele não se habitua a se compartilhar com meus familiares. Meu lar chega e me vê cansado, no final do dia, ele foge de mim. E vem me receber na manhã de segunda-feira quando abro a porta para sair. Acho que minha cama nunca foi tão ciumenta, em ver que meu lar é muito mais amado do que onde eu possa dormir.
     Minha família não entende, de onde possa prover esse lugar. Eu só dês de criança descartei essa idéia, de manter meu lar nesta casa. E olha que eu ainda vivo onde dês de pequeno vivi. Não por opção ou falcatruas, na verdade minha vida nunca saiu daqui. Só fico triste por ter sido forçado a carregar esse lar por onde eu vou. Pois sei que cada lugar que o levo, ainda vai restar do que sou. Se deixá-lo em casa, meus pais o destroem. Sei que dentro de minha mente, esse lar vai se regenerar. A cada dia novo, em que saio de casa, deixo minhas tristezas e minhas brigas mal resolvidas pra lá. Aonde vejo parentes que sem diálogos guardam a dor do rancor. Vivo sem magoas, de fora, apesar de o que é de dentro me decompor.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Ebulir


     Involuntariamente aperto minha barriga, agora nua pós o banho noturno, depois de tanto ver esses olhos. Tais podem corromper, mas não sei porquê, eu não entendo. Como duas bolinhas de gude podem ser tão persuasivas. Se é de perceber o quanto vou longe por isso. Ficar perto de pessoas com a mesma temperatura, nunca foi muito convincente. Mas é bom, sempre foi bom. Quentinho... Nada comparado do calor que todo seu corpo faz ao estar distraidamente perto do meu. É assim; no banho-maria de um pro outro, agente sempre acha que nunca vai ferver. Ai que agente percebe, que nem sempre somos das mesmas substancias. E fervemos!

domingo, 22 de agosto de 2010

Fartura


     Te procuraria todos os dias. Todos os dias seriam iguais. Não por eu não estar variando. Procuro em todos os lugares: debaixo das gavetas, entre os sapatos, reviro as cobertas. E eu faria tudo de novo, se eu me perco. Sei que logo me encontro. Não há como fugir de você mesmo. Mesmo regado de confusões, dívidas, drogas e depressões. Somos sempre o que inspecionamos todos os dias a ser. Quando não é o meio, é o sangue que nos determina. Não há como fugir. E não há como fugir de ti, nas cruzadas das linhas, permaneço todas às vezes no seu parágrafo.
     E eu te escolho todas às vezes. Todas as chances que eu tenho para gastar, eu invisto em você. Às cegas, sempre, com retorno: ligeiro ou não. Estarei sempre com meu indicador apontado para você. Porque é você quem eu quero. E isso é inevitável! E eu consigo esquecer tudo o que tens de ruim. Todos os defeitos que os demais encontram, eu apago da memória. E o instrumento que uso é o mais simples, e o que mais funciona. Teus beijos são querosene para as minhas aflições. Todas as sujeiras de tinta que jogam em mim, durante os dias, eu apago com o seu líquido, que vem e me inflama!
     E logo depois do branco, queima-me no vermelho. Fogo de um desejo subconsciente em qual só os que amam conhecem. Chama invisível, faísca dos olhos. E eu quero subir em você quando eu acender isso. Bagunçar teus cabelos, deixá-los na forma em que eu quiser deixar! Fazer de sua vergonha e vaidade, uma preocupação maior para os momentos pós cólera. Tudo o que eu quero, é o caos. Essa é a minha essência, e sempre vai ser. Ver o circo pegando fogo. Com todo esse fogo em que me põem. Todo esse falso jeito, em que só os amantes verdadeiros possuem, para dobrar a vontade do amado. Condescendêcia. Cada vez mais, de um toque estéreo, em que na singularidade de cada um de ser. Ser alma gêmea para sempre satisfazer. Ser um banquete, servido de fartura. Completo: de completar e de completado. Como se não houvesse tampa, encher sem nunca transbordar, todo esse recipiente que o seu corpo permite ser.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Elementar, meu bem.


Vem. Como do início de um vento, sentir o fim da brisa.
Como da magnitude do mar, sentir da água, só o sal.
No deitar de um tédio, trançar os dedos nessa terra.
Do explodir de uma idéia, ganhar todo o fogo do Sol.

Ao seu toque, sou assim. E tudo mais?

Delongas.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Hora de viver mais um ano...


     Era para ser mais um aniversário, uma comemoração de todo o resumo que eu fui e fora a ser. Reunir aqueles que sobreviveram ao meu jeito, àqueles que me agüentaram, e comemorar. Mas assim não veio, e como vá saber quem escreve esse maldito destino, rasuraram no meu dia do calendário. Tira teima. Era um teste, ou mais que isso. Fazer com que todas as expressões que meu rosto pudera agüentar, e socá-los dentre minha face. Eu deveria ter que conversar e agüentar, e suportar todos os optativos. Eu não estava feliz como imaginaria estar. Mas estava ali. E isso já era o suficiente. As pressões me vieram de diretrizes completamente diferentes daquelas de costume. Como se virasse a gravidade do planeta, ter que encher o copo de lado, e suportar tamanha loucura. Tudo sucedeu como o planejado, menos o fim.
     Quando eu fui ‘recolhido’ pelo meu ente na escola, repousado em minha poltrona do carro de acompanhante, me propus a chorar e a disparar em desespero.
     Eu nunca fui tão feliz, em poder chorar como hoje.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

À frente, Assim, Afronta


Veja-me. Como uma miragem dentre o deserto vão.
 Toque-me. Como se fosse pluma, felpo de algodão.
Tenha-me. Objeto raro, poder de aquisição.
Deslize-se em mim. Como se o atrito fosse só uma ilusão.

Sopra-me em vento, dança em movimento.
Todos são de erros, tolos assim são feitos.
Conclusão apressada, de quem de serenata.
Faça-se pra te acordar, beleza que aqui esta.

À frente de mim.
Presente, assim.

Afrontais!

Coma-me. Como da cesta eu fosse o ultimo pão.
Beba-me. Recipiente escuro, tendo certeza ou não.
Sinta-me. De cada músculo meu, a contração.
Deite-se em mim. Como de cansaço, poder a visita, pedir um colchão.

Levanta-me a hipótese, perdida nesta posse.
Formando-me um elo, tornando-se um credo.
Tonteia esse modo, rodeia-me como um copo.
Pra disso de eu poder beber, dentro de ti poder viver.

Presente, assim.
À frente de mim.

Afrontais!
E amar...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Trochilidae


     Com o bater de asas a oitenta vezes por segundo, ele veio pairar na minha frente. Nesse ramo da casa aonde o jardim se limita às azaléias e outras pouquíssimas flores, estava eu sentado no único banco que ali restava. Não que eu não quisesse estar ali. Mas a tarde vazia com seu tempo nublado, nos faz visitar lugares perdidos em casa.
     “Porque perdera seu tempo comigo?” – Eu não conseguia entender. Tão rápido, de tamanho tão pequenino e de vida tão curta. “Vai fazer algo em que possa ser recompensado!” – Ele nunca que poderia me entender. Eu, que me perco às vezes no sentido da vida, pairo como ele no ar para buscar respostas, interpretações. Eu e ele, ele e eu. Somos tão diferentes em espécie, ordem e gênero. Mas mesmo assim possuímos o mesmo objetivo. Daqueles em que regam para mim, ser o mais difícil para se concluir. E o que mais vem sendo uma decepção para mim, e talvez para ele:
    
     “Provar para os outros, que o seu próprio objetivo não é mais importante do que a vida dos mesmos.”
    
     E mesmo sem resposta de importância, se importar com os mesmos.

Garoto da Capital


     Escrever algo após uma refeição, sempre cobra um tom mais ameno de palavras. Nas cores mais azuis e nos gostos mais refrescantes. Aqui deixo não as folhas de hortelã, mas sim as de menta, que são assim por dizer no meu sentido de sentir. Olhar para esse ambiente, sem elogiar tamanha tranquilidade, fugiria do meu pretexto. Quando nessa vasta altitude, de ventos fortes e climas amenos. Vejo esses que aqui moram, acabo me assustando. Tamanha primeiramente aparenta ser sua raça. Não só pela saliência dos rostos, mas pela cor também. Regados de sol, suas peles os mantém todos nos mesmos padrões. Aqui quem vem de fora da para se perceber.
     O jeito como se vestem, me permeiam até um censo critico quando vejo. As garotas - coitadas - sempre carregando muitas cores, e com seus cabelos também queimados pelo sol, estão sempre desgrenhadas e falando alto. Perdendo a pose do mistério, para a perdição da diversão entre grupo, com as colegas e amigas. Já os garotos, seus cabelos apesar de sempre mal cuidados, sempre são lisos. Perfeição que invejo por eles mesmos não estar nem ai. Os olhos porem em ambos os sexos, e o que mais me intriga. E o que mais me faz pensar.
     São em contraste com a pele, sempre aveludados de cor, predrificados de brilho. Mel é a maior porcentagem dessa cidade. Eles sempre te olham como se fosse ainda te reconhecer. Olham de um jeito como se dessem importância. E isso para quem vem da cidade como eu, é de um tanto, espanto. Essa serenidade me irrita, essa falta de o que fazer misturado sempre com a grande quantidade de tempo, me faz querer nunca mais voltar para esse lugar. Sempre bem dispostos, o tédio parece nunca chegar aqui. E esses me analisam.
     Quero mesmo era poder te ver. Vós sois o único dentre tantos aqui restritos, que não me faz lembrar essas interjeições. Seu modo de julgar, de dizer, pula do semblante e do sotaque grotesco em que aqui todos têm. Não sei se é porque é igual a mim. Mas tenho a perfeita paciência que queria ter com os demais para ouvir.
     Eu que prometi nunca voltar para esse lugar. Onde no todo já fiz várias amizades, porem sem explicar todos mudam, e preguiçosos de fala me deixaram abandonado em casa. Sem me procurar, nem visitar tal "garoto da capital". Pois é sempre assim. A sociedade de um respectivo ciclo evolui. Esquecendo de onde proveio tal evolução se submetem ao sumiço e ao metido jeito de ser. Mas também esquecem que a evolução não é um relógio de um ponteiro só. Onde se eles já avançaram os minutos. Eu por minha vez já passarei as horas. Sendo assim garoto dessa maldita "capital" - sempre avante, sempre à frente - por puro instinto, ou até intuição. Sempre estarei à frente. Conseqüentemente.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Bitocas


     Ver aquelas duas crianças se beijando intimamente, como só os irmãos mais amáveis poderiam se beijar, foi o fim de toda uma linha de raciocínio em que eu chegara àquela tarde. Não por não só não entender o amor. Mas como também alvejá-lo dentre meus pensamentos mais submissos, para de sua casca dura abri-lo, e em fim ver algo do que estiver guardado lá dentro. Pensar em porque tu me ligas, todas às vezes, para adiar nossos encontros. Levam-me as tardes inteiras, no intermédio de colocar meu coração conectado ao cérebro. Como uma maquina de diagnóstico, e ao vê-lo dormir, forçá-lo a acordar dando-lhe dozes de choques de realidade, que é o desfibrilador da vida.
     Ao ver aquela cena, em frente à loja de perfumes - dessas que são germinadas a uma de colchão, que ao lado logo vem uma de empadas – percebi que há algo belo nisso. A presença! Sim, a presença é a maior chave do amor. É ela que isola as inseguranças, as insensatez, as interjeições. Eles eram apenas irmão, e ainda sim estavam aos beijos! – Não pense erroneamente – Duas crianças de em média nove anos de idade, compartilhavam como benção, bitocas molhadas e sujas de achocolatados em pó dissolvidos no leite às quatro da tarde.
     Há por fim, o motivo. A real impregnação desses costumes. A mãe também os beijava. Daí veio-me a conclusão de porra nenhuma! O amor para mim continua sendo um gás, dentro de uma casca dura de um fruto que para nós assim como os pássaros, chamam muita a atenção. E quando lhe enfiamos o bico, facas e chaves de fenda para lhe descobrir o que há verdadeiramente dentro. Frustramos-nos, apenas com o seu odor, que bem de leve é, voa pelos ares nos deixando um vácuo de pensamento sem fim.
     Como o atravessar de uma avenida, e se deparar em profundos pensamentos. E por fim, esquecer do mais importante: andar.

sábado, 17 de julho de 2010

Letra Só


     A carne humana nunca havia sido tão frágil; quente; e abstrata; quanto nesse último dia. Ter de morder bovinos já não tinha mais graça. Eu precisava dessa dose molhada em plástico fino celofane quente, que era teus lábios. E agora eu me estranhava, essa permissão só me era dada quando se estava escuro, e ninguém nos olhava. Porque só eu me sentia distraído naqueles espaços, e naqueles curtos tempos? - Eu não sei, mas também não deveria deixar tais cláusulas, me permeabilizarem.
     E assim, eu ficara exposto. Teu jeito é morte certa à sua doutrina de discrição. Quando teus olhos pousavam nos meus. Era de fácil acesso tais carências, e euforias. Mais parece um posso de dísel, prestes a explodir teus pensamentos escuros. E não só de silenciosos inversamente proporcionais às besteiras que diz. Mas também as lágrimas lubrificantes que permeiam teus olhos, após longos períodos submetidos aos meus beijos.
     Beijos que parecem comida de calango para ti. De tão imóvel, se sente nervoso ao beber minha saliva. Ao me beber, deixa de minhas mãos bagunçarem-te teus cabelos, e teu rosto fino e jovem tocar. Meros tendões laterais do pescoço, em que contraídos para me alcançar, me excitam. E teu cheiro indecifrável, assim se faz por não conter o álcool de nenhum perfume. Força-me a senti-lo, desejáveis demasiadas vezes. Para que num ciclo errôneo, ache à comparação exata.
     Teu nome é o símbolo do humor. Quando dentre todos os amigos usamos da letra o símbolo para assim encontrá-lo. Não que sejas raro, pois para mim, você mesmo não permite ser. Mas é para assim como os meus amigos, ninguém descobrir. E assim possamos gozar com tal pseudo-discrição em que tanto preza em manter nossa relação. Ter que te esconder, não é meu maior objetivo - nem de só de ti usar. Porem evoluir, isso sim é uma justa causa. Para assim poder me ter, por completo, e talvez me amar - melhor e de verdade. Sem ter que se esconder, entre salas escuras; combustíveis viscosos; e nem letras, da qual te escolhemos o Y.

domingo, 11 de julho de 2010

A Loucura da Vida


A loucura da vida
é o saber que...
é pra ser do
futuro que está
presente e do
presente continuo
de uma vida
passageira, sei
que o que é
para ser será
e que cada um
sabe a alegria
e a dor que no
coração traz. O
sentimento é
apenas emoções
que ficam ou
passam por pensar
que algo acontece
ou se algo acontecer,
diferente de
uma lagarta que
já sabe do seu
futuro de uma
linda borboleta
a morte.

                                                             Beatriz Letro Ribeiro

domingo, 4 de julho de 2010

A Eterna Procura


Amar, dia e noite,
 Sem tempo para chorar,
Sem parar,
Sem hesitar.

Pra que falar?
Pra que relutar?
Apenas deitar,
Deitar e rolar,
Até o sol raiar.

O dia seguinte não importa,
O momento se repete,
Com outro nome de uma agenda,
E nessa vida, sem realmente amar,
É a vida na qual eu queria estar.

Amar é algo complexo,
Doar mais do que se recebe,
Entristece, faz o coração chorar,
Buscar a utopia amorosa,
Desgasta, cansa.

     Por: Filipe Kinsky | @Filzinhu

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sistema


     Devido a muito pensar, escutar, falar, e até discutir; cheguei aos meus consensos. Não que eu estivesse indo contra nada. È só que como uma forma de me alcançar a alguma satisfação, escrevo isso.
     Porque para mim não importa se terei que manipular pessoas e situações para conseguir o que eu quero. Mesmo que o que eu quero não esteja ainda decidido; eu ainda sou assim. Crimes nunca me deram muito medo, e Leis também não. Quando você tem que pensar entre dinheiro e amor, eu penso no elo. Trabalhar para amar, amar para conseguir trabalhar melhor. Mas se posso entrar em contradição, não me importo. Fui criado sobre contradições.
     Quando penso nisso, não quero e nem gosto de citar filósofos. Para não ir contra a credibilidade das leis e teoria deles. Eu vejo o sistema burocrático. Daqueles de órgãos públicos, em que as pessoas só querem o “faz me rir”. Mas eu não as culpo, nem as invejo. Eu consigo assimilar suas carências, tanto nesse próprio dinheiro, quanto no próprio amor: em que eu acredito que elas não o têm.
     Eu sei que não vou viver só de amor, mas também não só de manipulação. O sistema me cobra uma coisa, o amor outra. E eu, bom... Só quando estou em colapso que me encontro em forma de cobrar de mim, eu mesmo.
     E se serei pobre? Não sei, ainda. Mas posso garantir que vou trabalhar o suficiente para ter como estar com quem eu gosto, e assim amar as pessoas. Trabalhando/Amando.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Código


     No suor da pele, as pessoas guardam seus cheiros. Aqueles que julgam dizendo que não se pode sentir mentem. Eles não sabem, ou não dão importância ao fato. De que o cheiro existe, e existe para nos comprometer. E está lá, a todo o momento. Esperando para que nós o absorvêssemos, e nos apaixonamos. E o teu me vem nas correntes de ar. Assim como todos. Carregando a característica de feder forte o cheiro de glicose, ou bala de goma. Mesmo que isso não altere os sentidos dos passantes nesta rua. Vem para mim como uma flor de dama da noite. Em uma neblina transparente e dócil, para me atormentar. Mesmo que quebre o meio da incoerência, não tendo sentido e nem futuro. Lá está ele, e sempre estará. Fico no aguardo da esperança, de sua evolução perceptiva de acreditar, que um dia foi feito pra mim. Você, e só você possui a resolução deste problema, em que tem que solucionar. Disso eu sei; que em você existe um “eu” dentro de ti: Criptografado.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Amor


     É único; é recíproco. São variados e diversos. É platônico, é onírico, é sujeito; adjetivo e verbo. É distante; é próximo; é vulgar; é puro; divino e profano. Abstrato; com formas; linhas; curvas e acentos. São quinas; arredondadas; ponte-agudas; vértice e planície. É audacioso; é garboso; experiente ou leigo. É forjado; tatuado; cunhado ou impresso. È descritivo; é narrativo; dissertativo ou em prosa. Poesia. È musica; é pintura; é dança; teatro ou cinematográfico. Arte. São cordas; laços; nós; e embaraços. É frio, é quente; queima, e também gela. É animal; é vegetal; é material e também espiritual. Está no passado; no futuro; no presente; e talvez até fora do tempo. Temporário e eterno. Duradouro e destrutivo. É sentença; é prisão; é habeas corpus; é o fim do castigo. É reacionário; libertário; conservador e revolucionário. E é livre; é censurado. É branco; é preto; é colorido e transparente. É invejoso; é ciumento; é vicioso; é saudável. E é estranho e normal. Louco incondicional. É avesso; ou do mesmo lado. Ambas as partes ou de uma parte só. É sozinho; é acompanhado; é em par; trios; quartetos ou quintetos. É materno; é paterno; familiar ou extraconjugal. É funcional sem ter função alguma. É alguém; é ninguém; é presente ou ausente. É noite; dia; tarde e madrugada. É Lua; Sol; estrelas; mundos e toda a galáxia. É chão; estabilidade; lugar ou cidade. Casa; apartamento; chácara ou fazenda. É viril; é hostil; hospede ou residente. É inconsciente; consciente ou subconsciente. É estado; situação; junto ou separado. É pior, ou melhor, mas é escrito e também falado.

     Se fossemos descrevê-lo fielmente, levaria um livro, ou uma biblioteca inteira.

sábado, 12 de junho de 2010

Todas as Cores


     Era uma vez às cores. Todas elas, quando foram criadas pelos artistas. Lá na época das cavernas: para desenhar a sua rotina de caças. Passou-se o tempo, e hoje ela serve dentre tudo, a sua principal função: colorir. Não só o que está escrito, não só o que está impresso. Mas também as situações os atos, verdades e mentiras.
     Foi quando me encontrei nesse tempo. Lógico que sem as loucuras das cores que encontramos hoje. Sei usá-las para expressar o que eu sinto ilustrar o que eu falo, mas sem perder o controle da mão de quem às desenham.
     Por isso, vai um protesto. Curto e rápido. Somos todos humanos, sabemos usar tudo do que é nos dado. Porque não conseguimos falar de outra coisa hoje que não seja amor? Porque eu tenho a sensação de que são raras as pessoas que sabem falar de árvores; amizade; mentira; falsidade; delírios e devaneios?
     Só porque existem cores, não significa que elas têm que ser usadas todas as horas. Só porque você sabe distinguir o azul do vermelho, não significa que você tenha que me mostrar vestido no teu corpo, o contraste de um ofuscando bruscamente o outro.
     Eu sei que você ama, eu também amo! Mas francamente. Você não pensa só nela, e no seu “amor” todos os dias, certo?
     Eu fico por aqui, pensando nas cores e no que fizeram com elas. Todas as cores. Tolas as cores.

sábado, 29 de maio de 2010

Aconhecido


     Tenho uma angustia que me aflige. Como um primo ou familiar que não conheço, me ponho a pensar: Como seria tua voz; a cor do par de seus olhos, da tua pele; o jeito de articular; de pensar e pensar do que sou. Isso me corta, como um conto. A conexão do que somos ao nos vermos me traz lembranças de um futuro imaginário.
     O tempo não me permite conhecer, todos os eventos me afastam de você para um momento certo. Um momento que só o destino conhece, e é isso que me traz o fervor. Condolências. Ficar aqui esperando, agüentando meus familiares e os meus problemas sociais, me fazem pensar em um outro corte.
     Um corte como um conto na minha vida, para cortar essa angustia. Ansiedade. Ter que esperar os minutos certos para te cumprimentar e dizer “Ola”. Tudo o que sinto deveria estar no passado. Um passado adolescente de não saber esperar. Saudades de não ter te conhecido, ainda.
     Morrer. São essas coisas, dentre as demais, que me fazem lembrar do jeito misterioso em que Ele age. Certo ou errado não caibo a julgar. Mas que me corta, isso sim, me corta. Apesar de ainda poder pensar em ter forças para curar toda essa dor, que não é muita, mas é acumulativa. De não saber quando te encontrar. Saudades do futuro.
    

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Diferente


     Nem se lembrava do dia em que havia colocado tudo para fora. Apesar do instinto de resguardar tudo o que via e sentia, ele prometera que disponibilizasse parte dos seus sentimentos com os outros. Não que isso trouxesse diferença alguma para seu dia-a-dia. Era só para ter a sensação de contribuição com o mundo, e com a humanidade.
     Gostava de reparar em formas pitorescas em que as pessoas submetiam seus cabelos. Como elas plastificavam suas formas, seus olhos com pequenos pedaços de vidro. Ele nunca se sentira belo, apesar da idade nova e de respectiva vaidade - comum entre os da sua idade – ele se manteve do jeito que o puseram no mundo. Seu cabelo grosso liso emaranhado, sua pele pálida de tantos desvios por sombras nas ruas, seus olhos fundos surrados.
     Olhos que nunca foram de importância. Sempre fechados durante algo que não lhe interessa-se, ele dormia durante a rota do ônibus; durante as aulas; durante o casamento da irmã mais velha; e até durante a morte dos parentescos próximos. Não que fosse desrespeito, era apenas seu modo de ver o mundo.
     O que as pessoas de seu convívio não percebiam, era que isso não era um atraso ou doença em sua vida. Ele sabia que vivia no mesmo tempo em que os demais viviam. Apenas vivia de uma maneira diferente, dessas mesmas. O fato de não se relacionar com nenhuma garota de seu bairro. O de não ter um objetivo em sua estrada de vida. O de não procurar um trabalho e começar a juntar dinheiro para a casa própria, não o fazia pior, ou melhor, que ninguém. Só o fazia diferente.
     Até que um dia seus pais o pressionaram. Encabulados com a situação de seu filho estagnado em uma rotina de lençóis e cobertores o puseram contra a parede. Exigindo uma providência dele, perguntando qual a área de emprego em que iria procurar como um ofício. Logo o garoto com o rosto amassado e remelado respondeu: trabalharia como servidor público.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Centralizados


     Nossa relação, ás vezes eu penso, como se ela fosse igual a uma estrela. Não o Sol. Porque o Sol não pertence à relação de ninguém. Por ser tão importante e lembrado, poderia ser a relação de Deus com os homens aqui da Terra. Como se os humanos tivessem vontades avassaladoras, e assim, explodissem como vários átomos dentro de um todo. E ai vem Ele nos restringir, nos podando com a gravidade que mantém essas explosões juntas e centradas. De uma força muito maior. E assim em uma constante – talvez não por muito tempo – harmonia.
     Mas a nossa relação está bem mais longe disso. Nossa estrela nem perto dessa galáxia está. A luz que vem dela, nem por telescópio pode-se ver. Porem as vontades que causam essas corriqueiras explosões na nossa “estrela”, vem de mim. E essas restrições e censuras da gravidade que me mantém centrado, é você quem faz. O pior é que eu não agüento mais – a nossa estrela é frágil.
     Ela nasceu nova, em tempo curto, já para envelhecer. Seus olhares furtivos, minhas indagações. Seus cortes ligeiros, meus desabafos abafados. Eu quase morro quando você faz isso. Você sempre faz isso antes que eu morra. E apesar de todo esse alvoroço, me prendo em uma esperança. Você não sabe o que acontece com uma estrela no final. Seu coração já sente apesar de sua consciência não notar. Sua gravidade vai caindo, e vai perdendo essa restauração que me mantêm louco. À medida que você se aproxima de mim, meus desejos vão ficando mais intenso, minha explosões mais fortes.
     Eu expandirei. E vou engolir tudo que está a nossa volta: Seu corpo; suas roupas; seus itens. Vou apoderar do seu cheiro; dos seus dentes; das suas orelhas. E quando achar que tudo está fora de controle. Vou reduzir a um ponto, e fingir que toda a sua gravidade me dominou. Só para te ter, junto a mim. Em um ponto.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Par de Asas


     Nesta cidade, aonde a neve é cinza feito cinza, eu me perdi. Não que eu não saiba o mapa, ou o sistema das ruas. É que o frio; o tempo; e o meu passado vão em uma vertente, que se demorar, congela-me.
     Nascido humano, renascido no que sou. Hoje depois do encontro com Ele e após ter apagado minha memória, vejo o quanto sou... Diferente. Aqui no Alasca, aonde não há porque ficar, nessa península que a um salto chego à Rússia. Fico por observar: resto de mar; sal em cubos transparentes; água cristalina. Hoje tenho a função de atender todos os habitantes do continente, e assim usufruir dos meus poderes para ajudá-los.
     Nas costas, onde não se vê marcas, posso sentir a pressão do vento cortado a esse impulso azul que surge quando resolvo voar. Eu atravessaria as faces do mundo diversas vezes se soubesse aonde pretendo chegar.
     Afinal, não precisa ser um anjo em meio ao apocalipse para saber do que estou falando. Um homem sem métrica do destino, ou dos objetivos, entenderia facilmente... A minha angústia.

sábado, 8 de maio de 2010

Copo de Argila


     Todos se concentravam naquela noite. A penumbra da cozinha do visinho ligava, e rebatida na parede tornando do seu apago um sinal. O senhor Jon não gostava do cheiro da cidade, e então abria a janela do cômodo em que tangenciava o corredor das casas, no qual Rosa nunca soubera que sala era, ou se era quarto. As casas eram vagas em todo espaço, e assim, como numa situação àquela exigia silêncio, e audácia.
     Uma janela quadrada distante de um prédio acendida apagara, e o “esparro” foi alcançado. Ali na outra janela, morria Rosa, nascia Lisa. Ela como toda boa moça, e como sempre vencia em jogos de investigação de tabuleiros; era a mais esperta. Sua porta fedia a perfume de lima cítrico, sempre que deixava seu copo de argila regado a leite de soja nos trilhos da janela de correr.
    A penumbra havia se apagado. E Lisa precisava ser esperta, o seu visinho já desconfiado fechara a janela. – ele estava com mais remorso ainda da sociedade jovem residente. - A porta do banheiro se fechara. Não era um banho que iria ocorrer ali, só uma visita a privada. O irmão de Lisa também tinha desconfiado. Ele fecha a sua janela silenciosamente. O cheiro de lima enobrece, o copo de argila se esconde da janela com cinzas. Lisa havia fumado o primeiro e o ultimo cigarro da noite. E todos foram dormir, desconfiados.

terça-feira, 4 de maio de 2010

A Sinceridade no Amor


     Assim quando não tem nada para fazer, tiro o dia para te ver. E pronto, já vem às características mais aventuradas; mais elaboradas; e mais aveludadas. Quando o amor é perfeito temos mania de sempre voltar àquele aspecto. Como se sempre existisse aquilo na pessoa. O cheiro gostoso, o olhar sedativo, as brincadeiras executadas só para encostar – passar a energia de um para o outro – e assim tornar daquele sentimento o mais fato do que era.
     Quando esse amor existe, é como uma irmandade. Nós nunca avançaríamos para o próximo passo, se não houvesse uma série de fatores que contribuísse – uma festa, uma bebida a mais, um idéia de uma amiga. Pois somos assim, ás vezes para alavancar um amor, precisamos que Deus e o mundo aponte o dedo na cara de cada pretendente e diga: “Vá meu filho, esse é o que está mais propício!”.
     Porque somos assim, sempre precisando de uma prova. Aquele elo, que no caso do casamento é pequeno e de ouro. Aquela prova de amor, que levam os mais corajosos a pularem de pára-quedas com ele escrito “Eu te amo!”. Que fazem as pessoas pularem de Bungee Jump gritando “Quer casar comigo?!”. Que fazem pessoas gastarem fortunas só para voltar àquela viajem no caribe. Aonde vocês se encontram pela primeira vez. Para assim tomar uma ação que seja, no entanto, mais emocionante e assim tal voltar àquele momento.
     Tudo e um pouco mais, quando o necessário mesmo, é só chegar a uma posição na qual a pessoa te escute. Olhar nos olhos do interlocutor, para ele ver que a mensagem é para ele, e dizer a pequena frase: “Eu te amo.” – Pronto! Curto e lindo. - Mesmo que não funcione, para todos os casos, de mim vocês podem ter certeza: Estarei sendo sincero.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Tubo de Ensaio


     Não é um sonho, nem realidade. Não sou eu o personagem principal, nem há eu lírico. Agora é você, e você sabe disso. Está em um tanque e a sala não se vê. Isolado no silêncio que logo deixara de existir, você está inundado, e não sabe se é água. Acalme-se, não está afogando, porem não está usando respirador. Sua roupa é branca e cheia de filetes e retalhos, que deixam seus movimentos em passado daquilo que se movimentou. A paz é utilmente aceita, e não se pode pensar nela, só senti-la. Não está fazendo frio, nem a temperatura está elevada. Você agora consulta a mente, e as sensações começam a aparecer.
     Nozes; agora um toque; um abraço. Na frente antes da tela de seus olhos, o vidro blindado desse tanque. Mesmo que se fosse em público, não há vergonha. É só você que esta; a quem estar ali. Algodão; raio de sol; lavanda. As roupas estão limpas, penduradas no varal de nylon. Elas flutuam em uma sinfonia; sala de yoga; música calma. Tem-se olhos, eles agora são castanhos; se é castanho, agora eles são de mel.
     Vício; arte; destreza; e inspiração. Você agora está sozinho acompanhado, todos os seus verdadeiros amigos vão aparecer. E só os verdadeiros, aqueles que só Deus sabe que são. Você agora me ama, e depois me odeia. Pisco em cintilância alternada sobre seu ciclo de relacionamento. Você vê a roupa que quer usar, a causada que quer pisar. Você tem o dicionário e a língua que quer falar de cabeça. Memórias; perguntas; e interjeições. Você não tem dúvidas do seu destino nem do seu passado. Você não erra e nem acerta. Você só questiona sobre o seu coração. Ele é incomunicável, ele é inacessível. Você não sabe quem tem a chave, mais sabe que alguém a tem. Você só não sabe: quem está te amando agora.