terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O Primeiro Golpe

     Era uma vez, quando os homens não haviam decidido ainda serem homens, e nem as mulheres haviam decidido serem mulheres. Numa terra distante, tão distante que sua localização se perdera no tempo e no espaço. Onde todo o inicio se começa pelo primeiro passo, onde todos que ali haviam se reunido discutiriam assuntos distintos. Tão distintos que não se poderia dizer ao certo o que exatamente era. Pois poderia ser anacrônico escrever em tal língua, com tais descrições que não fariam sentido, tal filosofia a nossa que não chega à poeira dos pés de tal complexidade do que se havia discutido.
     O fato é que ali seria sacrificada toda uma gama de poderes e riquezas daquela raça para a divisão dos valores, e a difusão da unidade suprema em que eles haviam adquirido com o tempo infinitamente anterior a nós. A verdade é que eles haviam alcançado a soberania mental, onde nada de seu sistema conflitava, e nenhuma das ações ou procedências se chocava umas com as outras. Mas porque dividir tal utopia finalmente alcançada?
     Como todo o mal que existe para o bem existir, de fora veio outro ser. Um ser subitamente mais fraco, que se apresentava defeituoso, e totalmente fora de toda aquela perfeição que ali naquela sala se encontrava. Ele estava vestindo turvos olhares, sintetizado em ressonantes curvas com pontas, embaçado em seu sentido completo. Ele avançou ao meio do ovo que era à roda dos demais. Desprendido daquela una forma dos demais, que por si mesmo compartilhavam, ele se encontrava solto, distinto, indiferente.
     Pois vejam bem! Ninguém nunca havia tido uma só vez a noticia de tal criatura. Ninguém nem sabia o nome daquela forma, não conheciam suas palavras, não reconheciam suas cores. Era de um fosco forte, uma massa que se locomovia através de suas arestas, superfície que começava quando outra terminava. Suas pontas se multiplicavam e dividiam, de um jeito que tornava aparentemente o numero de espinhos semelhantes. Essa formação era de tal mutação viril, que todos ali não conseguiam enxergar tal característica veloz.
     Pois assim, do ovo que era a ciranda, um se depreendeu. Havia um olhar mais curioso, como se seu próprio nome já alarmasse aos demais, seu maior “defeito”. Deu dois passos, e curvou-se a aquele magnetismo que a forma perto da porta principal lhe atraia. Todos se alarmaram, uns mais que os outros, e em um coro todos o alertou: “-Não se aproxime!” – Ele não deu ouvido, continuou andando, um pouco mais rápido do que antes. E com sua extremidade mais sensível ao reconhecimento, e sua característica de apresentar logo no inicio, ele o tocou, sem saber que havia encostado, na criatura.
     Esta se assustou, ficou surpresa, deu dois passos para traz, encarando aquela audácia da uniformidade com olhos atentos. Viu sua cor mudar, suas arestas curvarem-se a uma singela ponta gasta. Só tal criatura conseguia visualizar sua própria mudança. Sentiu-se mais forte, mais ágil, e logo quando tornou a encarar quem lhe encostou, ficou mais surpreso ainda.
     A forma ali desprendida estava a murchar, seus detalhes foram cedendo ao chão, na velocidade da gravidade do toque. Uma trinca surgiu de um estalo na forma una. E todos se assustaram. O céu escureceu, a superfície vibrou a um leve ranço em desafio a normalidade. Todos se espantaram. Foi quando aquela criatura tomou conhecimento de seu poderio, e avançou feito um lagarto sobre os demais.
     E os tocou, roçou no segundo, abraçou o terceiro e quando chegou ao ultimo, já estava dentro dele. Todos assim como o primeiro perderam suas forças; Seus raciocínios solenes estavam vacilantes, um olhava para o outro em contradição. As duvidas foram surgindo em contexto sobre suas evidências. “Como mantivemos assim?” – “Quem está no domínio disso?” – “Como chegamos aqui?” – “Quem é você?” – As perguntas não paravam de surgir na mente de cada um. As questões não tinham tempo de serem resolvidas. Eles estavam regredindo de acordo com o que era escorrido ao chão de suas essências.
     E vendo todos deitados ali ao chão, sobre a overdose de serem eles mesmos, separados. A criatura se sentiu forte, rejuvenescida sem nem estar velha, revigorada sem nem ter tido vigor. E ter aquilo tudo sem ser seu, era como ser outra pessoa sem ser ela mesma. Era falso e verdadeiro, e isso o confortava. Sentia-se nutrido, ele encarava a sua volta e via tudo iluminado por si mesmo. A sala refletia sua cor vermelho pistache feito todo aquele teor que nunca havia comparado, poderia lhe servir. Foi quando ele percebeu o seu valor.
     Ele ergueu sua forma, de pesada para leve, a flutuar; Olhou solene e mórbido para a porta e dali fugiu, para explodir na superfície e testar de uma vez só o seu poder. Ele avançou aos céus, deu seu ultimo suspiro de gratidão ao entendimento. E dali se desfez. Como uma bomba ele pintou todo o universo, se expandiu tanto que seus fragmentos não são vistos hoje ao olho nu. Ele havia dominado todas as dimensões daquele cilindro que um dia fora perfeito e equilibrado. Dominando todos que ainda existem, porém que um dia foi uniforme. E que agora teriam de conquistar todo aquele trabalho perdido, que a criatura um dia lhes havia roubado.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Verdade

     Eu queria aproveitar esse momento para compartilhar com vocês o que a verdade pode ser. Ela limpa, cristalina, resolve permanecer na mentira, por traz das capas revestidas de medo e escuridão, e tenta esconder. Aquela verdade que trava no texto o duelo completo que não faz por dizer. Que toda a sociedade manifesta no intuito visto e de se ver. Eu, que nunca quis o não. Tive que agüentar, essa opinião. De não querer esconder; Que não quereis esconder, a tal da ilusão. Coração que queima nessa ultima das pontas. Eu tenho o sentido aguçado e chego até lá. Eu chego até la! Você queira ou não. Mantendo a razão, oposição. De não saber se estou sozinho, de não saber qual é o caminho. De lhe dizer a maldita verdade.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Sobre o que é certo

     A dor não é um demasiado problema. Se eu fosse descrevê-la, diria ser como uma grossa agulha de tricotar quente fincado insistentemente no peito. E como em um continuo movimento frontal, ela não mais perfura em quanto não se acaba a carne. Entretanto, não dá trégua para descanso. O calor de sua ponta faz sangrar a tristeza de quem foi deixado sozinho, falando de dentro de uma caverna vazia. Após todo o procedimento de masoquismo, o sangue esfria, o buraco mantém aberto enrijecido feito cromo, até a passagem de alguns meses. Ai pronto, a carne se fecha, e antes que possamos deixar a cicatriz desaparecer, nós esquecemos tudo que foi passado, e voltamos a perfurarmos novamente. Dissimulados ao nos deparar, outra vez, frente a frente de uma paixão.