terça-feira, 29 de setembro de 2009

Acordar do Figo

             "Ela estava sem ar, num anexo de virtude e alucinação. Era pouco tempo depois que ela estava na fase matinal daquela rotina. Uma rotina que era transtornada entre trabalho e estudo. Onde a adaptação entre o sério e o solto ficava cada dia mais estranho, mais curto. Mas dentre tudo, não deixava de ser rotina, porque era alternada entre semanas e o fim delas. Quando era sábado, o sol era brilhava cinza, carbonizado por uma avenida e uniformes mortos de uma balconista. Uma mão de obra barata, uma jovem. Já quando era segunda, as nuvens brilhavam como gelo pós chuva de granizo, e ela com uniforme de escola mas manhãs e seus vestidinhos aéreos nas tardes acompanhados de café e tapetes.
             Apesar de uma rotina fixa, e determinada para aquele ano, ela ainda se sentia desconectada. Aquele cheiro, aquelas espumas, todo aquele cenário e seus movimentos de ventos compostos de músicas regidas por pássaros bastardos da manhã daquele sábado. Era como se ela tivesse despencado de uma das maiores torres já construídas e de cabeça para baixo. Um vôo expresso para aquele travesseiro de penas de ganso.
             Ela não conseguia levantar, pois tudo pesava: '-A gravidade havia mudado?' – ela pensava. Então ela desistiu, e voltou a se atirar para aquelas formas aveludadas como opção. De bruços para a cama, aquilo se tornara um altar para a jovem moça frustrada. Daí veio uma sensação, e logo outra. O que poderia ser? O que estava se formando ali?
             A cama se tornou estátua, um corpo jovem e esbelto sobre o altar feminista da jovem, e ela o sentiu, como o acido da maçã derramado sobre a boca de quem não conhecia seu doce, sua sobremesa, seu ato profano. Essa era a sensação da pobre garota desvinculada de religião. Ali se sentia tisnada sobre algo realmente inovador e excitante para ela. Algo que a levou ao delírio na terceira sensação, era a ser uma pele sobre o corpo espumado.
             Mas ali, já era outro plano, era o rosto – seu travesseiro – tornara completamente belo e esculpido, a fez lembrar de seus amados não amantes. Ela lembrava de todos como se fossem nunca, ela nunca havia tocado em nenhum deles como tocara naquele momento. Era realmente excitante, o desejo, o cheiro, os olhares. Tudo aquilo se materializava em ordem crescente de época como se fosse o filme de quem acabara de entra em numa UTI recém atingido por uma bala perdida, perto do coração. Como se tivesse abrindo a mesma ferida, os mesmos pontos. Uma cicatriz que volta no tempo e se torna carne viva em relevo de uma facada e seu meio palmo de aço exalando cheiro de ferrugem fresca e salgada no ar.
            A dor veio, o sangue da razão atingira seu rosto no instante em que ela estava passando por uma visão do beijo em que acabara de selar com o ultimo amado em que ela se interessava. A pele dele era lisa, perplexamente lisa, e isso mexeria com o resto da sua manhã. Pois assim tudo que era músculo se tornou pluma, tudo que era lábios se tornou fronha, e tudo que era osso se tornou molas da cama quase que poluída pelo visco de seu figo, e suas caldas semi-derramadas no algodão.
            Por fim, era manhã e ela já havia acordado. Agora com sua xícara de café, e uma vontade mórbida de tragar o cigarro que havia abandonado na semana passada daquela. E ela se via estática, como a estátua que acabara de transar naquela manhã. Uma estátua diferente das outras, não era grega muito menos cinza e fria como a rotina de uma garota tola e enferrujada. Mais era de algodão, plumas, veludos e sonhos. Sonhos que a fizeram trocar a roupa de cama, antes que sua mãe visse o resultado de uma virgindade perdida por uma arbitrariedade, por um sonho, recém acordado."

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Dois, como dois só

           “Era apenas dias que iam fazer a rotina uma bagunça só, movimentação, conversas, tédios agrupados e tudo que se pode encontrar em uma sala convencional de aula. Alias quem nunca passou por essa sensação? Quanto mais se está no ‘Alto Ensino’ e louco para na verdade estar no ‘Alto de uma Liberdade’ ou de uma carreira mesmo. Ganhando dinheiro, comprando o que se pensar, pensar o que se comprar.
            E é assim todos aqueles sentenciados viviam: pedindo para se chegar ao recreio, e quando já era pós o mesmo, se implorava para que terminasse aquela tortura. Essa era a realidade de todos os dias, fazendo frio ou fazendo calor, todos apenas queriam pular aquela parte da manha para que se chegasse a outra, do outro dia.
           Mais como todo martírio, tudo que ali pousasse viraria novidade. Para uns, seria como um brinquedo novo e seus odores excitantes. Mas para outros seriam como carne podre recém chegada ao covil. E era assim que as coisas funcionavam: novatos, provas surpresas, um trabalho de maior porte, uma excursão. Tudo era como ventos em diversas direções que cada um aproveitava de seu modo a aproveitar.
           O que destacava essa turma das outras de adolescentes, era que eles, nessa estratégia deixavam o destino comandar suas vidas e suas manhãs como se fossem fantoches grudados a cata-ventos em plena beirada do mar. E foi assim que essa historia aconteceu.
           Dois, como dois só seriam, eram de ser normais pois não tinham o que se aleijar. Mas eram dois, como dois só poderiam ser. Sincronizados, alinhados, entre olhados como só eles poderiam ser. Dois que tinham tudo para ser um do outro, e serem um só: sexo oposto, brilho nos olhos, cheiros, vaidade, musica como tema. Tudo; tudo que se podia imaginar era imaginável e feito, cumprido como eles mesmos escreveram suas historias.
           E a sala? O que tem a sala... bom a sala fez seu dever também. Espalhou mentiras, armou escândalos, fez vergonhas armadas para os dois. Tudo o que uma sala de bom modo seria para ser. Alias eles eram dois, e dois o suficiente para que todos os transformassem em um!
           A diferença? Era que o dois deles era divino! Era a vontade, a fusão, a explosão, a ser eles em um. Segredos compartilhados de um modo que um fosse o outro, segredos e conversas que trariam sensações já previstas, tarô, déjà vu. Era capaz de sentir o que o outro sentia, como um boneco de vudu. E a o dois da sala era como uma fenda, era a faca no bolo, era a faca no corpo. O poder de se nunca encontrar, de estar em cada planeta estando no mesmo, estando um do lado do outro, à pouco metros. Como se não fosse metros mais galáxias, pois o sofrer era o lucro e o amor o prejuízo.
          Não que fosse culpa de ninguém, mais também não fosse perdão de alguém. O que existia era uma multidão em uma ponte onde se só passava dois, mais também eles não os culpavam, só tinham visão para ocupar seus únicos olhos, seus dois olhos. Um para um, e o outro para a loucura do outro mesmo, os desejos encarnados e sujos como se estivessem atrás da lente. A lente era o amor, a sujeira que urtiga era o desejo. Como se fosse uma coceira gostosa que não da vontade de parar de coçar, um vicio.
          Não que fosse parar, pois eu tenho medo de terminar historias de amores. Pois quem sabe o que eles sabiam, e o que eles prevêem. Eu só posso velos de longe, e bem melhor do que todo aquela massa que temos presentes em sala. Só posso velos como um velho na rua admirado por ver que o amor durou depois de tanto tempo, e que ele não foi o único a amar, e que ainda tinha jeito para melhorar o mundo. Um mundo de amor um mundo onde quem acredita sabe onde esta, e esta onde acredita saber, o que na verdade não sabe nada. Pois quem sabe mesmo é o amor, e só ele pode te dizer onde você está!"

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Chuva

      “Dessa vez ela veio bem rápida, com barulhos inertes pelos lados, sem perdoar quem estava sujeito a ela. Quem a vê simplesmente distrai, se perde, se acha, se satisfaz. Entra em uma nova dimensão. Ela é fácil mais dificulta, ela cura e machuca, ela cria mas também destrói, ela faz milagres
       E Deus está nela, quando você nela insiste em dançar, insiste em cantar. Ela faz você se soltar; tudo o que eu queria era estar junto a ela. Mas como não posso, apenas a observo. Quieto com uma canção a solfejar, como não sei tocar, a imaginei.
       E fora dela, a música é aleatória, do seu impacto contra um teto metálico de qualquer galpão. Faz você se inspirar, faz da luz o apagar: a do sol e do gás dentro de cada lâmpada deste lugar.
       E eu continuo a observar, e volto as mesmas questões, que me perseguem e me fazem escravos do clima tristonho que está. Ela me fez pensar, e faz mais nós a pensar do que a sentir. Por que escrevo quando não tenho nada? Por que quando não tenho nada, não tenho o que escrever? Por que eu me questiono? Por que o porque do por que?
       Depois de nos fazer organizar todas as questões e opiniões, ela nos deixa sentir de uma forma muito mais ardente, acida. Como por si só, já vem cheia de sentimentos e de pensamentos já ocorrido naquele céu. Nós só temos medo dela não porque somos de açúcar, mais é porque temos medo do que ela pode nos trazer, e assim, não nos deixamos molhar por ela.
      Ficamos desprotegidos de sua benção, desorganizados e insensíveis, à desprezando com seu pior inimigo. Um criado utensílio que me desconecta a cada gota do mundo celestial. São circulares, possuem ganchos de cabeça para baixo que chamam nossas mãos. Se retorcem para melhor guardá-los e possuem um parente que gosta de manter roupas aprisionadas no seu escuro interior. Nós o chamamos de guarda-chuva, mas ele mais à aprisiona como um carcereiro do que nos protege de algo que poderia nos purificar, nos intimidar, ou nos sensibilizar: a chuva.”