domingo, 22 de agosto de 2010

Fartura


     Te procuraria todos os dias. Todos os dias seriam iguais. Não por eu não estar variando. Procuro em todos os lugares: debaixo das gavetas, entre os sapatos, reviro as cobertas. E eu faria tudo de novo, se eu me perco. Sei que logo me encontro. Não há como fugir de você mesmo. Mesmo regado de confusões, dívidas, drogas e depressões. Somos sempre o que inspecionamos todos os dias a ser. Quando não é o meio, é o sangue que nos determina. Não há como fugir. E não há como fugir de ti, nas cruzadas das linhas, permaneço todas às vezes no seu parágrafo.
     E eu te escolho todas às vezes. Todas as chances que eu tenho para gastar, eu invisto em você. Às cegas, sempre, com retorno: ligeiro ou não. Estarei sempre com meu indicador apontado para você. Porque é você quem eu quero. E isso é inevitável! E eu consigo esquecer tudo o que tens de ruim. Todos os defeitos que os demais encontram, eu apago da memória. E o instrumento que uso é o mais simples, e o que mais funciona. Teus beijos são querosene para as minhas aflições. Todas as sujeiras de tinta que jogam em mim, durante os dias, eu apago com o seu líquido, que vem e me inflama!
     E logo depois do branco, queima-me no vermelho. Fogo de um desejo subconsciente em qual só os que amam conhecem. Chama invisível, faísca dos olhos. E eu quero subir em você quando eu acender isso. Bagunçar teus cabelos, deixá-los na forma em que eu quiser deixar! Fazer de sua vergonha e vaidade, uma preocupação maior para os momentos pós cólera. Tudo o que eu quero, é o caos. Essa é a minha essência, e sempre vai ser. Ver o circo pegando fogo. Com todo esse fogo em que me põem. Todo esse falso jeito, em que só os amantes verdadeiros possuem, para dobrar a vontade do amado. Condescendêcia. Cada vez mais, de um toque estéreo, em que na singularidade de cada um de ser. Ser alma gêmea para sempre satisfazer. Ser um banquete, servido de fartura. Completo: de completar e de completado. Como se não houvesse tampa, encher sem nunca transbordar, todo esse recipiente que o seu corpo permite ser.

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