domingo, 13 de dezembro de 2009

A Agulha e o Caio


     Era uma agulha, e era um palheiro. E era Caio, em frente a este dilema, este enigma. Ele estava na porta do paiol, e acredite se quiser como ele mesmo não acreditava: Havia muitas palhas! Ele estava disposto a enfrentar toda aquela grandeza para achar a agulha. Pois ele sabia, e via que todos achavam suas agulhas. Então ele se perguntava:
     -Porque eu também não acharia?
     Ele era virtuoso, e sempre pensava em tudo com muita esperança, sempre muito caloroso. Ele já era menino, e sabia o que estava fazendo, pois ele já era menino. E meninos quando sabem que são meninos fazem de tudo, para saber o que esta fazendo, para assim fazer e se tornar homem. Homens que depois de feito o que estes saberiam o que estivessem sendo feito, poderiam morrer, de tanto orgulho e felicidade por ter feito o que era determinado por eles, determinado pelos sonhos, dos meninos.
     E assim Caio partiu para o paiol na manhã seguinte para cumprir seu desejo, seu sonho de encontrar a agulha, no palheiro. Ele adentrou bem cedinho, retirou o cadeado do paiol junto das correntes que os prendiam e trancava antes do celeiro. O sol mal podia ser visto, e Caio podia enxergar com olhos matinais de um menino que acabara de tomar seu café com ovos mexidos, do fogão à lenha.
     Logo estava no meio do paiol, e era imensamente grande. Sua família sempre precavida de ração, o mantivera sempre abastecido com seu milho, para as estações do inverno que aproximava. E lá, no auge do abastecimento, estava Caio em busca da agulha perdida, ou nunca encontrada. Ele revirava, separava a palha em cestos, lançava as demais para perto da porta, para não procurar aonde já fora ido. Logo atingia o meio dia, e Caio ainda não encontrou sua agulha.
     Ele nem imaginava como ela era, só sabia que ela teria um corpo, uma dobra aberta na cabeça para passar a linha, e na ponta uma ponta para perfurar os demais objetos. Caio sabia como era uma agulha, apesar de não saber exatamente como era a sua, propriamente dita, a que ele estava procurando. Caio logo foi arrastado para o fim da tarde, e não a encontrava.
     A lareira de sua casa já havia se acendido por sua mãe, seu pai já estava jantando, e Caio estava ajoelhado no paiol. Com os olhos tristes, e sua visão apoiada ao chão de madeira em tábuas. Caio estava perdendo as esperanças. Agora a dor era maior, e parecia que ele estava procurando uma palha no agulheiro. Como se todo aquele cenário amarelo avermelhado do paiol no crepúsculo da tarde, o machucasse em alfinetadas.
     Caio desceu do paiol, queria agora tomar um banho, para se lamentar de não ter encontrado a sua agulha. Sua casa era simples, e ele estava esperando sua mãe esquentar a água do banho em que ia tomar. Jantou, tomou seu banho, vestiu seu pijama de algodão batido. E com uma lamparina de querosene fora para seu quarto, repousar nitidamente naquela noite estrelada do fim de outono.
     Ele abriu a porta de madeira rústica e pesada, fazia ela muito barulho. Ele a empurrou com força. Observou seu quarto, com suas paredes rebocadas a barro do rio. Ele tirou seu chinelo de dedo. E sentou na sua cama, de costume bem devagar. Sentindo seu colchão velho, forjado e recheado de palhas que seu pai o fez para ele. Caio sentiu um enorme desgosto, lembrou de toda aquela tarde vazia perseguindo sua agulha furtiva. Sem esperança Caio se jogou no resto do resto do seu corpo no colchão.
     Foi quando Caio sentiu uma pontada nas costas, como ferrão de abelha nervosa ao proteger sua colméia. Ele abriu um largo sorriso, com os olhos cerrados. Caio sabia que nunca tinha visto, porem sabia que ela existia. E que ela estava agora, fincada nas tuas costas.

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