quinta-feira, 22 de julho de 2010

Bitocas


     Ver aquelas duas crianças se beijando intimamente, como só os irmãos mais amáveis poderiam se beijar, foi o fim de toda uma linha de raciocínio em que eu chegara àquela tarde. Não por não só não entender o amor. Mas como também alvejá-lo dentre meus pensamentos mais submissos, para de sua casca dura abri-lo, e em fim ver algo do que estiver guardado lá dentro. Pensar em porque tu me ligas, todas às vezes, para adiar nossos encontros. Levam-me as tardes inteiras, no intermédio de colocar meu coração conectado ao cérebro. Como uma maquina de diagnóstico, e ao vê-lo dormir, forçá-lo a acordar dando-lhe dozes de choques de realidade, que é o desfibrilador da vida.
     Ao ver aquela cena, em frente à loja de perfumes - dessas que são germinadas a uma de colchão, que ao lado logo vem uma de empadas – percebi que há algo belo nisso. A presença! Sim, a presença é a maior chave do amor. É ela que isola as inseguranças, as insensatez, as interjeições. Eles eram apenas irmão, e ainda sim estavam aos beijos! – Não pense erroneamente – Duas crianças de em média nove anos de idade, compartilhavam como benção, bitocas molhadas e sujas de achocolatados em pó dissolvidos no leite às quatro da tarde.
     Há por fim, o motivo. A real impregnação desses costumes. A mãe também os beijava. Daí veio-me a conclusão de porra nenhuma! O amor para mim continua sendo um gás, dentro de uma casca dura de um fruto que para nós assim como os pássaros, chamam muita a atenção. E quando lhe enfiamos o bico, facas e chaves de fenda para lhe descobrir o que há verdadeiramente dentro. Frustramos-nos, apenas com o seu odor, que bem de leve é, voa pelos ares nos deixando um vácuo de pensamento sem fim.
     Como o atravessar de uma avenida, e se deparar em profundos pensamentos. E por fim, esquecer do mais importante: andar.

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