sábado, 17 de julho de 2010

Letra Só


     A carne humana nunca havia sido tão frágil; quente; e abstrata; quanto nesse último dia. Ter de morder bovinos já não tinha mais graça. Eu precisava dessa dose molhada em plástico fino celofane quente, que era teus lábios. E agora eu me estranhava, essa permissão só me era dada quando se estava escuro, e ninguém nos olhava. Porque só eu me sentia distraído naqueles espaços, e naqueles curtos tempos? - Eu não sei, mas também não deveria deixar tais cláusulas, me permeabilizarem.
     E assim, eu ficara exposto. Teu jeito é morte certa à sua doutrina de discrição. Quando teus olhos pousavam nos meus. Era de fácil acesso tais carências, e euforias. Mais parece um posso de dísel, prestes a explodir teus pensamentos escuros. E não só de silenciosos inversamente proporcionais às besteiras que diz. Mas também as lágrimas lubrificantes que permeiam teus olhos, após longos períodos submetidos aos meus beijos.
     Beijos que parecem comida de calango para ti. De tão imóvel, se sente nervoso ao beber minha saliva. Ao me beber, deixa de minhas mãos bagunçarem-te teus cabelos, e teu rosto fino e jovem tocar. Meros tendões laterais do pescoço, em que contraídos para me alcançar, me excitam. E teu cheiro indecifrável, assim se faz por não conter o álcool de nenhum perfume. Força-me a senti-lo, desejáveis demasiadas vezes. Para que num ciclo errôneo, ache à comparação exata.
     Teu nome é o símbolo do humor. Quando dentre todos os amigos usamos da letra o símbolo para assim encontrá-lo. Não que sejas raro, pois para mim, você mesmo não permite ser. Mas é para assim como os meus amigos, ninguém descobrir. E assim possamos gozar com tal pseudo-discrição em que tanto preza em manter nossa relação. Ter que te esconder, não é meu maior objetivo - nem de só de ti usar. Porem evoluir, isso sim é uma justa causa. Para assim poder me ter, por completo, e talvez me amar - melhor e de verdade. Sem ter que se esconder, entre salas escuras; combustíveis viscosos; e nem letras, da qual te escolhemos o Y.

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