domingo, 19 de setembro de 2010

Enxergar-te


     Perfeitamente normal, e admissível é amar. Quando entra na rotina. Vem como manhã de quarta-feira. Derradeira e normal. Possível. Não altera nenhum sentido, é só gastar o tempo que era à toa, que era pra você. Que era sem prazer, sem graça. Aquele tempo em que você fumava, e compunha aquela música.
     Vem como esta que finca no ar, sem machucar, sem reagir. Cheiro é mais leve que o amor. Quando não há flor, ele vem do nada, lembra teu, amado. Nem que esteja claro, vem sentir assim, toque no escuro. Toque material, toque carnal. Morder partes de quem já morreu, sentir na textura o breu, de te morder.
      Ter que vingar, esperar puxar todo esse anzol. Nunca me fez bem, não é bem assim. Como colocar, isca pra matar. E vela sofrer, se agonizar e salvar. Se apaixonar, filme de terror, os olhos fechar. E encostar, na paz do silêncio. Tudo que é escuro, e no claro invisível é o que eu sinto. Vidro limpo, depois um espelho, depois você. Sua foto; isso é o amor.
     Não te enxergar, enxergar-me através de ti.

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