domingo, 3 de janeiro de 2010

O Atravessar de Carina


     Carina era jovem. Sua pele cereja refletia o humor e o amor de ser jovem. Vinte e dois anos era o que a tornava tão feliz, pós refugiada dos pais. Carina agora estava feliz sozinha no seu apartamento com mofo nas quinas das paredes, pintura amarela amarelada, e partes fixas do prédio de madeira ocas de cupins. Mas o mais importante estava dentro dela, e fora: A liberdade de ter refugiado dos vãos que os pais recém mortos pela idade a traria.
     Agora nada poderia influir mais na sua vida, alem dela mesma, e de tudo que ela arranjaria como conseqüência. Carina sempre soube enfrentar os problemas que adquiria. Era o mais fácil para ela. Pois normalmente; seus pais que traziam para ela os problemas, e isso a transtornava. Isso que era o peso em suas sandálias rasteiras, na vida toda. E ela sentia isso, pelo menos até ter se libertado.
     E ela estava sentindo o Sol, na porta de seu apartamento, no bairro em que morara, – o mais badalado da cidade – e agora ela podia sair, podia voltar, podia nem mais dormir no mesmo lugar. Só de poder, já a deixava invejada de ser assim. Mas não, ela queria ficar por lá, na frente de seu prédio azulejado pela metade, para poder sentir os elementos que fariam de sua companhia, matinais nos seguintes dias de sua história.
     Era sábado, e era o primeiro pós mudanças. E Carina agora não queria sair, nem festejar, ela só queria fazer algo de bem, para ela ou para o novo lar. Era só isso que ela queria. Ela abriu os olhos, castanhos chocolates banho-maria. E no desfoque da pupila na visão, permitiu que ela visse um senhor do outro lado da avenida.
     Era Júlio, e ela já havia cruzado com ele durante o descarregar do caminhão de mudanças uma vez. Ele era charmoso, andava sempre bem vestido, estilo retro – de terno e blazer, com um chapéu americano sempre às mãos. – Era alto, cabelo castanho corte surfista, tinha a posição da coluna perfeitamente posta, como se ele fosse um cavalheiro, como se ele pudesse enxergar.
     Sim, Júlio era cego, e ela mal percebeu isso. – Se sua vizinha não tivesse comentado, ela nunca saberia. – Seus olhos, justos nos lugares e também amendoados, não possuíam defeitos algum! Eram perfeitos e nem dançavam igual de quem não pode ver. Eles apenas eram vagos, e seguiam apenas o tropeçar dos sons: da rua, das vozes, da música.
     Carina se sentira tão feliz, e tão atraída pela asserção do destino quanto aquela situação. Que resolvera fazer-lhe uma surpresa. Carina sempre fazia surpresa para marcar a primeira impressão com a pessoa. Então ela atravessou a avenida, girou levemente no poste que a dava como obstáculo, e o abordou pelas costas segurando seu braço – feito bailes de época – e disse:
     -Olá, meu nome é Carina. E o seu?
     Ele surpreso com a situação, resistiu por um tempo, depois vendo logo o objetivo de ajuda da moça, a cumprimentou:
     -Júlio. Não precisa...
     -Ora, estou de folga, hoje é sábado. Dia das pessoas felizes! – Ela o interrompeu.
     Em quanto ela – no comando – esperava o sinal fechar, logo o perguntou, tagarelando:
     -E o senhor, é feliz? Hoje, pelo menos?
     -Sim, eu acho...
     O sinal abriu.
     -Então merece um passeio!
     Carina começou a dar largos passos, em sentidos invertidos e logo quebrou a concentração de Júlio, e ela começou a puxá-lo de um jeito em que ele não poderia contar os passos, e perdendo o mapa mental de onde estava, hesitou em confiá-la à direção do trajeto. – Pois ele só queria chegar em casa, à salvo.
     Ela vendo que ele deixará a tenção de lado, e relaxando os músculos começou a fazer algo em que não havia como pará-la.
     -Veja senhor Júlio, uma loja que nunca vira! Sou nova aqui sabe!? Um vestido lindo em sua vitrine! Nossa mais como é caro! Levaria meu salário inteiro para pagar tal tecido! E olhe que carro mais lindo! É aquele da propaganda em que a mulher deixa o homem para agarrar as chaves! Como se ele não existisse! Olha só ele é prata! Deve de ter ar condicionado e tudo!
     Carina e Júlio, numa dança incessante, girando na urbanidade da vida, ele sentia uma sensação nova. Era mágico aquilo, ele escutava a voz doce dela. E ela via os olhos belos dele. Ele como se nunca tivesse falado, e ela como se nunca tivesse visto. Trocaram naquele momento de descrição da cidade, os sentidos. Ela não podia mais enxergar, de tal beleza que o moço era. E ele não podia mais ouvir, de tal doçura que a voz dela era.
     -...ouça a música senhor Júlio, é Beirut! Chama-se St. Apollonia, ela é linda não é!?
     -Certamente senh...
     -Sim eu adoro Beirut! É tão vivo! Veja agora! A Dona Aubuquerque! Ela me ajudou na mudança, logo ela vai estar espalhando por ai que eu estou namorando o senhor! Hahaha... Como ela vai espalhar isso!? Rapidinho, tenho certeza! Nossa o senhor pode sentir o perfume!? São rosas ou jasmim!?
     -Jasm...
     -Rosas! Tenho certeza! Minha mãe usava um desses, é daquela jovem moça, que se veste de vestido azul marinho todo chapuscado! Dando efeito de ondas e fazendo ela flutuar em quanto anda. Olha senhor Júlio é a o seu apartamento! Chegamos!!! Eu o deixo aqui. Foi um prezer te conhecer, nos vemos recentemente! Tial!!
     Ela o deixou na porta de seu apartamento, com as chaves nas mãos. Júlio parou para respirar. Ele tinha certeza que estava branco, apesar de não ver isso. Ela o fez ver, com os ouvidos, tudo e todos que estavam por perto. Foi mágico, foi lindo e foi rápido! Ele não podia acreditar em tal acontecimento! Foi a chave do despertar para Júlio! Ele estava sob palpitações. Seu coração desparava inconstantemente desrregulado!
     Do outro lado do quarteirão, dançava uma jovem feliz, rindo de si mesma. Sentia o ar mais leve, a briza mais fresca, os murmúrios mais suaves. Ela estava alem da felicidade, com sigo mesma; amando, como se nunca tivesse amado. Agora ela sabia o que faria da sua nova vida, e ainda mais! Sabia o que faria nos sábados livres e solitários. Visitaria o senhor Júlio, sua mais nova companhia, naquele bairro badalado.

3 comentários:

  1. Muito obrigada, fico honrada por sua admiração, no momento não posso ler os textos do seu blog, mas assim que tiver tempo os lerei, sinta a liberdade de comentar o que gostou ou não, pra mim isso é um grande aprendizado. A casa é sua, sinta-se a vontade para visita-la.

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  2. O texto é legal. Mas logo na primeira frase tem um erro gramatical que fez meus olhos sangrarem (você separou o sujeito do predicado). Dá uma ajeitadinha nisso. Fora isso, tem outros pequenos erros, mas que não comprometem a essência.

    Ps: Sem querer ser chato.

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  3. Nhai... eu sei, era efeito de impacto...

    Deixa pra lá vai, corrigi mais pra sua homenagem... em fim, vai acostumando... com meus impactos! asshhsh...

    Vlw!

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