quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Entradas no Diário de um Ator


     Abro os braços e só hoje sinto, depois de um longo tempo de espera, a chuva tocar o meu corpo quente. Eu estou a poucos metros de um abrigo, e só depois de longos e sucessivos passos, vejo que a chuva atrasa quando estou bem. Assim vivo, com o meu nome diferente do que era antes do banho de chuveiro e depois do da chuva. Meu nome? Pablo Castro Silveredo. Minha profissão? Ator de teatro, de palco, mas só de teatro. A televisão me confunde e seus contratos são arriscados. Eu faço um sucesso aqui, e isso às vezes traz conseqüências diabólicas.
     As conseqüências boas todos já conhecem, fama, o pseudo-dinheiro, a rotina instigante. Mas agora, as más, só eu conheço em certa intensidade. Existe um “humano” que me persegue, sua profissão é de tal ato. Porem, ele exagera as vezes, e só comigo. Eu já cheguei a pensar que ele me amava, alem do mais, nunca soube minha opção sexual ao certo. Na verdade nunca parei para pensar nisso, só ando realizando os desejos das pessoas pelo mundo afora.
     E isso irrita a mídia, como irrita esse “humano”. Ok, sem negações. Ele é jornalista de uma revista de só celebridade. Coisas que jornalista de verdade não curte, ele já trabalhou com teatro, fora diretor, e hoje mexe só com palpites nas peças dos outros. E então ele sempre está na primeira fila, quando vou entrar em cena. Todas as peças, dês de que minha carreira começou a ser aplaudida por um publico mais vasto. Ele vive a me perseguir.
     Davi Estayói era um ótimo diretor, apesar de sua amargura ele sempre fora muito decidido, aplicado e regia com fervor todas as peças. Infelizmente ou felizmente, eu nunca trabalhei com ele. Às vezes agradeço tal recurso, pois tenho certeza que ele me mataria no palco de tanto me fazer trabalhar o mesmo ato. Ele hoje, só serve para falar de mim, bem ou mal eu sempre estou na sua coluna. E eu adoro ler ela de manhã, durante meu café ornamentado de frutas, nas quais nunca provei.
     Porem estou arriscando esse relato, pois a ultima crítica foi interessante. Muito interessante! Davi nunca expressou durante as nossas conversas atravessadas o objetivo de tantas faladas de mim. Ele sempre me criticou, colocava minha personalidade em foco, para poder descobrir o que estava acontecendo comigo. Através do meu trabalho. E nunca, pelo menos eu vejo, que conseguira.
     Já tive vontade varias vezes de adentrar no seu posto de trabalho, durante o expediente e confrontá-lo diretamente. Sem medo de fazer escândalos. Porem logo me vem a preguiça que essa mídia me faz e desisto de encontrá-lo. Ele nesse último relato crônico, apresentou o depoimento de sentir dó de mim, e dó do que eu faço. Davi me achava intruso dentro dos palcos, como se eu nunca me encaixasse perfeitamente bem em nenhuma atuação.
     Ele diz em suas linhas, os momentos de minha carreira. E tenta decifrá-las. Tolo. Dó é a dó que eu tenho dele. Dó antes da dó que ele dissera ter por mim. Fétido, mal sabia o que era teatro. Vejo que ele esta desatualizado, e nem sabe mais qual é a minha situação atual. Ele me vê como um fraco, só porque sabes meia dúzias de casos de “amor” que já tive. Só por que eu sou louco, e vivo minha loucura ninfomaníaca em torno dos meus objetivos. Só porque eu transo por missão, de conseguir transar com os outros. Homens e Mulheres, aquele que mais me convir, eu mordo!
     Sabe-se lá se o casamento dele vai bem. Um “jornalistazinho” daqueles não devia comer a mulher a séculos, se é que ele come. Pois nos meus olhares vulgares, posso ver seu vacilo de desejos. E se eu me impor um pouco mais, conseguiria abrir suas cintas. Hahaha! Seria cômico, e daria uma bela capa de jornal. Alias, queria ver ele depois que eu pudesse corrigir seus olhos, como ele escreveria e próxima matéria!
     Pena que isso é só uma entrada no meu diário. Eu queria agora nesse exato momento, dizer para ele que a minha dó veio intuitivamente antes da dele. E que a dó dele não é original. E penso nisso, pois se sou intocavelmente longe dele, e se eu não prendo sua atenção. E logo sou um ignorado por ele. Porque ele perde tempo escrevendo colunas sobre mim? Jornalistas são estranhos, eu que só faço o meu trabalho. Hoje me sinto muito mais forte às tuas criticas. E elas é que me são intocáveis por mim. Quando eu era novo, me afetava, mas mal sabia o poder da mídia. E me machucava ser criticado. Hoje pouco me lixo, e sinto o poder de ser artista, e de enganar as pessoas com o que faço. Com ou sem palco, é ruim mais é o que me faz humano e pecador.
     “Se você não acreditasse em minha mudança, mudaria de novo a persona em meu rosto e faria isso ate que você visse o quanto sou forte, Davi! Posso ser distante, posso ser próximo, intruso ou convidado. Mas serei ator, e atuarei suas ilusões. Serei convidado quando eu quiser ser convidado. Serei intruso quando quiser ser intruso.”
     “E você será só um. Tolo.”

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