sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Teste Drive



     Estava eu em minha cozinha, como sempre, numa tarde vazia e quente tomando café. Quando me veio as seguintes duvidas de existência:
     "Quem nunca se imaginou em outra situação? Em outra vida? Em outro lugar!?"
     Então eu travo. Deixo minha xícara na mesa com o café bem quente, pelo imenso tempo desses seguintes minutos, no qual começo a refletir.
     Esse poder de escolha, que poderia acontecer hoje, agora em minha consciência, no mundo “globalizado” e “dinâmico”, seria uma das maiores obsessões do homem. O poder de ser ou estar em outro lugar. A troca de corpos. Quem nunca pensou em ser o outro? Em estar em outro lugar, outro pais, com outra cultura? Falando outra língua, comendo outras comidas, conhecendo outras pessoas? Até oscilando entre a sua vida e a de outras!? só para testar qual é a melhor!
     Quem dera se pudéssemos fazer isso, testar a vida antes de vivê-la! Seria uma sensação incrível, mas deveríamos lembrar desse teste depois que escolhermos a tal vida, em tal situação. Saber aonde estamos, por que estamos, com quem queremos estar. Seria realmente uma dádiva! Um luxo, de poder simplesmente apontar para o país que quisesse e escolher em qual morada viver.
     Se bem, que poderia acontecer certos “desequilíbrios”, certas nações (que não quero citar) estariam despovoadas. Outras superlotadas, lugares não seriam mais turísticos. Lugares não seriam mais explorados, culturas iriam se misturar. Talvez até um certo “caos” aconteceriam. Mas lógico que só se esse sistema fosse aplicado agora, nesse exato momento.
    Mas pense. Aonde você queria estar? Por quê? E talvez, com quem? A vida teria mesmo grassa?
    Só de pensar, me sinto feliz e triste. De um dia imaginar coisas tão divinamente próxima e distante. Um antagonismo só, ficar querendo ter desejos, realizar modos, e abandonar destinos. O que é o destino? Quando ele mesmo mantém pessoas enfurnadas a décadas em uma cidade, até mesmo na mesma casa. E ao mesmo tempo muda personagens de lugares, tornando seu ator um nômade, quase um espião onde ele tem que se mover entre os lugares com determinadas roupas, estilos, e cabelos.
    Pensar em poder estar, em qual barriga, em qual família. Às vezes quero estar na minha, às vezes nas de meus colegas. Mas o que mais me deixa deslumbrado, é como seria se hoje eu pudesse voltar lá pra sacola da cegonha, e pedir para ela me levar para aonde eu quisesse e com quem eu quisesse. Seria perfeito, mas me limito a pensar que se escolhêssemos tal opção, não poderíamos ser criança, no inicio da vida.
    Teríamos que ter o cuidado de ter uma personalidade, teríamos que ter gostos, orientações e caráter. Teríamos que ser adultos, para podermos escolher com quem quiséssemos viver. Daí, já não seria mais nós mesmos. Não seria você, nem eu. E ai teria outro sentido, seria outro mundo. Seria uma fábula, na qual não permito e não gosto de me entregar.
    Somos ou fomos crianças um dia justamente para formar o que seremos ou somos hoje. Estamos sempre puros no inicio, mas nunca completos no final. E isso que me limita a ser o que sou, a agüentar quem eu tenho que agüentar. A viver a nação que eu tenho que viver. Não precisando amar nada do que sou nem do que tento, mas apenas aceitando de onde eu vim. E seu eu quisesse mudar, mudaria em processos. Sairia daqui, para ser feliz em outro lugar. E transformaria a minha vida em outra, sem cortes de etapas, sem negligências.
    Volto à minha pupila escura e seca pelo longo tempo que a deixei aberta nos pensamento que executei, vejo o quanto o sol já desceu. Percebo o meu transe, discordo com tudo o que eu estive imaginado. Como não seria vantajoso, como seria tudo mais frio, o mundo, o humano. Noto que abandonei meu café, o agarro com as duas mãos carinhosamente, dou um longo e desfavorecido gole. Faço uma careta e percebo o estado da sua temperatura atual com o gosto deixado, e digo: “Como tudo realmente seria mais frio...”

3 comentários:

  1. Wow. Eu sempre penso isso também.
    Ontem mesmo..
    Depois de brigar com minha mãe (coisa muito rara né?!)
    E até me veio inspiração agora.

    P.S.: "dativa" seria dádiva.
    hauhauhuahua

    beijo

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  2. Divagações bem interessantes. Mas se não é possível viver várias vidas em vários países em várias nações, porque ao menos não tentar viver "várias vidas" no nosso dia a dia? Já pensou que nós nos limitamos demais, nos prendemos demais e tolhemos todos os "eus" que poderíamos ser? Mas não, acabamos sendo escravinhos teleguiados da moda, dos costumes, da igreja, dos pais etc...
    E até quando nos "revoltamos" acabamos fazendo parte daquela "tribozinha" tão manjada e igual. Enfim...mais divagações...bom texto.

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